Nasceu como uma solução alternativa em ano de pandemia e transformou-se num evento incontornável do panorama relojoeiro. Aqui ficam as nossas impressões sobre a sexta edição do Geneva Watch Days.
Em Genebra
De improvisação necessária a marco incontornável: de 2020 a 2025, o Geneva Watch Days não parou de crescer e tornou-se num rendez-vous incontornável da temporada relojoeira. Os números deste ano confirmam o crescimento: 66 marcas e 300 lojas oficialmente associadas, mais de 500 jornalistas, 1.900 colecionadores num total de 17.000 visitantes e 150 novos relógios lançados nos quatro dias (de 4 a 7 de setembro). Sem esquecer múltiplas iniciativas nas áreas da formação e da beneficência, conferências, painéis de debate e simpósios que reforçam o lado cultural do evento. Quanto à vertente lúdica, a confraternização bem regada com cocktails ao cair da noite tornou-se um must para os protagonistas da indústria…

Convém não esquecer que o Geneva Watch Days nasceu por impulso em 2020, quando oito marcas (Breitling, Bulgari, De Bethune, Girard-Perregaux, H. Moser & Cie., MB&F, Ulysse Nardin e Urwerk) sentiram a necessidade de criar um certame presencial que beneficiasse do aligeirar das restrições impostas pela pandemia entre março e julho. A primeira edição realizou-se na penúltima semana de agosto, entre 2021 e 2024 teve lugar na última semana de agosto e este ano aconteceu na primeira semana de setembro (de 4 a 7) — tornando-se entretanto num evento independente apoiado pela Confederação Helvética e pela Cidade de Genebra, pela Fondation de la Haute Horlogerie (FHH), pelo Turismo de Genebra, pelo CCIG e pelo Grand Prix d’Horlogerie de Genève (GPHG), para além da revista GMT. Ou seja, um evento institucionalmente reforçado ao longo dos anos.

Mais visitantes
A primeira análise a fazer relativamente ao primeiro evento do último terço do ano está associada à leitura dos números oficiais relativamente aos da edição anterior — começando pela crescente adesão oficial das marcas, dado fundamental para o êxito de qualquer iniciativa do género. Este ano, houve mais 14 marcas aderentes do que em 2024, num total de 66, atraindo a presença de mais 400 profissionais (num total de 1900, entre distribuidores, lojistas, jornalistas). O elenco das marcas é fundamental para atrair visitantes e houve claramente mais gente, apesar de um primeiro dia algo chuvoso.

Centro nevrálgico do evento, o Pavilhão principal montado na Rotonde du Mont-Blanc surgiu maior do que nunca (foi ampliado para 800m2); aberto das 10 às 22 horas, recebeu mais de 17.000 visitantes ao longo dos quatro dias (contra 13.800 em 2024), com um pico registado na sexta-feira. Foi lá que os aficionados que se inscreveram no evento e os profissionais visitantes puderam ver os lançamentos mais recentes de todas as marcas envolvidas e ainda alguns modelos emblemáticos, numa exposição assente em 59 vitrines — uma espécie de resumo de tudo o que as marcas mostraram nos respetivos showrooms dos hotéis da periferia e ainda algumas peças históricas.
Partilha e Leilão
O Pavilhão principal também incluiu um Culture Club: instalado numa ala da tenda, foi o cenário preferencial para a Fondation de la Haute Horlogerie (FHH), o Grand Prix d’Horlogerie de Genève (GPHG), a Escola de Relojoaria de Genebra, a Sociedade Horológica de Nova York (HSNY), a Horopedia e a The Watch Library apresentarem uma programação completa de atividades ao longo do certame. Mais de 200 entusiastas participaram em apresentações personalizadas e visitas guiadas à exposição das 59 vitrines conduzidas por especialistas da FHH, enquanto os colecionadores puderam desfrutar de experiências exclusivas para convidados especiais.

Houve mesmo um concurso, denominado Calibre, que reuniu 40 figuras da indústria e membros do público numa competição em que testaram a sua habilidade na regulação de um relógio mecânico; os resultados serão anunciados em 29 de setembro pelo comité organizador, assim que o COSC concluir os seus rigorosos testes em cada um dos movimentos Sellita submetidos a concurso pelos participantes.

O concorrido leilão de beneficência realizado no sábado, com a condução da Phillips em associação com a Bacs & Russo e cujos proventos reverteram para a Escola de Relojoaria de Genebra e a Fundação Pierre Amstutz, contou com quase 300 convidados e arrecadou um total de 185.900 francos suíços — quase o dobro do leilão realizado em 2024. O lote principal foi uma caixa oferecida pela MB&F com 32 pequenas estatuetas, atraindo animado despique até o martelo bater nos 80.000 francos suíços. Entre os artigos e iniciativas sujeitas a leilão, houve uma semana em Portugal — mais precisamente na casa de férias do co-fundador da Linde Werdelin, Jorn Werdelin (que atualmente até reside no Estoril), em Melides.
Conferências e Debates

Ao lado do Pavilhão principal, um pavilhão anexo — denominado GlassBox — com 250 m² foi palco de 25 eventos, desde simpósios e conferências de imprensa até apresentações de marcas. Incluindo quatro Power Breakfasts que proporcionaram a vários CEOs e líderes empresariais de Genebra a oportunidade de interagir diretamente com o público visitante, ao passo que concorridos debates atraíram profissionais e entusiastas. Mais de 1.000 pessoas participaram nesses momentos de diálogo e reflexão.

No sábado teve lugar o tradicional brunch, oferecido pela Fondation de la Haute Horlogerie; contou com quase 150 aficionados, que testaram os seus conhecimentos num animado quiz. Houve ainda quatro conferências (organizadas pelo Grand Prix d’Horlogerie de Genève, a FHH, a Fundação Dominique Renaud e a The Watch Library) que ofereceram uma visão mais aprofundada do universo de cada instituição, os seus últimos desenvolvimentos e a relação humana com o tempo. Sem esquecer a criação da Maison des Arts & de la Culture Horlogère (MACH).

É notório que a inspiração e o conceito vêm da Dubai Watch Week, mas o Geneva Watch Days ganhou fama própria pelo seu carácter descomplicado, inclusivo e imaginativo — numa celebração da relojoaria através do encontro entre profissionais, colecionadores e público na parte final do verão.
Abertura e Rescaldo
A conferência de imprensa de abertura, realizada pela primeira vez no emblemático Palais Eynard, teve lugar diante de lotação esgotada; nela ficou bem patente o forte apoio institucional das autoridades da ‘cidade de Calvino’, com a presença da Conselheira de Estado Delphine Bachmann (Economia e Emprego) e da Conselheira Municipal Christina Kitsos.

Jean-Christophe Babin, Presidente da Associação dos Geneva Watch Days e CEO do Grupo Bulgari, já fez o seu rescaldo: «Embora o contexto mais amplo possa ter sugerido um início de temporada desafiador para a indústria, o oposto mostrou-se verdadeiro durante esta primeira semana de setembro em Genebra. O Geneva Watch Days demonstrou a sua vitalidade, apelo e poder unificador. O crédito pelo seu sucesso vai, é claro, para as 66 marcas participantes, mas também para todos os nossos parceiros, a quem agradeço calorosamente. Graças ao apoio deles, esta 6ª edição superou todas as expectativas e confirmou o lugar único do Geneva Watch Days no cenário relojoeiro global».

Quanto a nós, aqui ficam as nossas impressões em guisa de notas positivas e negativas:
Positivo
— a realização de qualquer evento presencial que reúna uma boa parte da fina-flor relojoeira é sempre de salutar;
— apesar de as marcas exibirem em showrooms de unidades hoteleiras, é um evento essencialmente outdoor (em contraste com o Watches and Wonders) e geralmente a meteorologia é soalheira;
— open bar ao fim do dia em ambiente estival no Pavilhão principal e noitadas com DJs na GlassBox adjacente;
— contacto direto e disponibilidade de CEOs e protagonistas da indústria;
— networking em ambiente festivo e descontraído, sobretudo na noite de abertura (mais de 1.200 convidados) e na noite de sábado após o leilão (cerca de 1000).

Negativo
— não é fácil visitar todas as marcas e não falhar nenhuma, tendo em conta a dispersão… mesmo que a maior parte exiba em salões ou showrooms nos hotéis mais próximos do Quai du Montblanc, como o Hotel Beau Rivage (sobretudo), o Hotel d’Angleterre e o Hotel de la Paix. Há também outros eventos paralelos e iniciativas em lojas aderentes do outro lado da ponte, na zona da Rue du Rhône;
— quem quiser ver tudo o que há para ver terá de marcar presença logo nos primeiros dois dias, porque no fim-de-semana há já algumas marcas importantes a desmobilizar (sábado à tarde e sobretudo domingo) e alguns CEOs que entretanto regressaram a casa;
— a ausência das marcas dos grupos Richemont, Swatch e Franck Muller;
— Genebra não é propriamente uma cidade barata (hotéis, refeições), sobretudo para os aficionados portugueses que queiram visitar o evento.
Marcas Aderentes

Para concluir, e porque merecem a referência, aqui fica a lista das 66 marcas oficialmente ligadas à sexta edição do Geneva Watch Days: Akhor, Alpina, Alto, Amida, Artisans de Genève, Ba111od, Beauregard, Beda’a, Behrens, Bianchet, Bimbu, Breitling, Bremont, Bvlgari, Cédric Johner, Claude Meylan, Corum, Czapek & Cie, David Candaux, De Bethune, Dennison, Doxa, Egeiro, Emmanuel Bouchet, Favre Leuba, Fears, Ferdinand Berthoud, Frédérique Constant, Furlan Marri, Gerald Charles, Greubel Forsey, H. Moser & Cie., Hautlence, Jacob & Co., Konstantin Chaykin, Krayon, L’Epée, L. Leroy, La Fabrique du Temps Louis Vuitton, Laurent Ferrier, Lederer, Linde Werdelin, Louis Erard, Louis Moinet, Massena Lab, Maurice Lacroix, Mauron Musy, MB&F, Micromilspec, Ming, Oris, Perrelet, Phillips em associação com Bacs & Russo, Raketa, Renaud Tixier, Singer Reimagined, Speake Marin, Squale, Stollenwurm, TAG Heuer, Trilobe, Tutima, Ulysse Nardin, Unimatic, Urwerk e Zenith.

Já publicámos sobre alguns relógios lançados no evento: o Chief Date Royal Purple da Favre Leuba, o Pioneer Flying Hours da H. Moser & Cie., o Astronomer da TAG Heuer e o Rattrapante R.U.R da Czapek. Nos próximos dias/semanas teremos a oportunidade de continuar a abordar outras novidades apresentadas no Geneva Watch Days.