O Linde Werdelin 3-Timer Nord no azul da Ericeira

Tivemos a oportunidade de dispor do novo 3-Timer Nord da Linde Werdelin para fotografia em estúdio mas achámos que merecia ser passeado ao ar livre — e, tendo em conta o seu mostrador azul, que melhor cenário para o fotografar senão o da pitoresca vila costeira da Ericeira? Aqui fica a história e o portefólio de um relógio diferenciado num local muito especial…

© Paulo Pires / Espiral do Tempo
O 3-Timer Nord da Linde Werdelin vestido com bracelete azul © Paulo Pires/Espiral do Tempo

A Linde Werdelin é uma marca de nicho muito cara à equipa da Espiral do Tempo, não só pelo seu caráter independente mas também pelo marcante design. No meu caso pessoal, esses laços são ainda mais estreitos devido a uma relação de amizade com o co-fundador Jorn Werdelin que dura há já mais de uma década — e foi com todo o prazer que o acolhemos como protagonista do segundo capítulo dos nossos ‘Encontros Espiral’, numa reunião intimista com amigos da revista e aficionados da relojoaria no restaurante-bar Infame.

Encontro Espiral do Tempo com Jorn Werdelin © Pedro Santos
Encontro Espiral do Tempo com Jorn Werdelin © Pedro Santos

Num contexto em que o mainstream relojoeiro surge atualmente dominado por grupos de luxo ou conglomerados industriais, as marcas independentes sempre gozaram de simpatia especial entre os aficionados puros e duros e algumas delas conseguem mesmo alcançar estatuto de culto. A Linde Werdelin, de raízes dinamarquesas que se estendem a Londres e com ramificações industriais na Suíça, é uma delas — e também uma das mais originais. A produção anual é restrita e anda à volta de 150 relógios, dividida em três distintos pilares da coleção: o 3-Timer, uma atualização dos primeiros modelos Biformeter Two-Timer da marca e com caixas maioritariamente em aço; o Oktopus, mais robusto com caraterísticas de mergulho e assente tanto em materiais inovadores como em especialidades mecânicas; e o Spido, que por sua vez se divide entre o SpidoLite, com um conceito de caixa esqueletizada em modelos de três ponteiros,  e a variante cronográfica SpidoSpeed, também de estrutura estilizada e esqueletizada inspirada no automobilismo de competição.

Espírito de aventura. SpidoSpeed Arktis © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Espírito de aventura: o SpidoSpeed Arktis que tivemos em mão no mês de janeiro © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Nos últimos meses temos tido a oportunidade de fotografar algumas edições limitadas que emergiram de duas dessas três linhas, como o Oktopus Volcano personalizado pelo mestre gravador Johnny Dowell, o SpidoSpeed Arktis ou a dupla formada pelos ‘primos’ SpidoSpeed Monochrome e SpidoLite Monochrome. Por isso, foi com enorme agrado que recebemos para teste o mais recente lançamento da linha 3-Timer — o 3-Timer Nord, para mais dotado de algumas peculiaridades inéditas no âmbito da Linde Werdelin: o mostrador dégradé e o acabamento microbillé matizado da caixa em aço, combinado com a nova bracelete metálica da marca que lhe dá o visual full metal destacado num artigo publicado na edição da Espiral do Tempo que acabou de sair da gráfica.

Linde Werdelin 3-Timer Nord
Metal total: o Linde Werdelin 3-Timer Nord © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Quando tivemos conhecimento antecipado do lançamento do 3-Timer Nord e a possibilidade de o ter entre mãos, pensei imediatamente na Ericeira — o nosso fotógrafo/criativo Paulo Pires foi o primeiro a recebê-lo e esteve com ele em estúdio, descobrindo todas as nuances do seu mostrador inspirado nas águas do mar do norte, mais precisamente nas mudanças de cor do mar da Dinamarca nos fins de tarde de verão. Segundo Jorn Werdelin, a cor da água varia entre o azul e o preto com reflexos prateados quando o sol se põe. Essa inspiração está bem patente não só na tonalidade azul que gradualmente se transforma em profundo azul escuro até ao preto na orla do mostrador, mas também no acabamento específico que dá à caixa (normalmente polida e escovada na linha 3-Timer GMT) uma superfície de aparência fria.

© Paulo Pires / Espiral do Tempo
50 sombras de azul… e cinza © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Mas apesar dessas referências nórdicas que até estão associadas ao país escandinavo dos fundadores, o meu reflexo imediato foi de dizer ao Paulo Pires que tínhamos de o levar para um ensolarado test drive na Ericeira. Primeiro, por causa do azul que tão bem carateriza o casario da pitoresca localidade costeira. Depois, porque qualquer relógio GMT evoca viagens, sol e praia; na altura estávamos ainda em fase de desconfinamento gradual e dava vontade de aproveitar o bom tempo para desanuviar, sair da zona de Lisboa rumo a outras paragens. E também porque Jorn Werdelin não só adora sol e praia como gosta muito de Portugal, passando regularmente temporadas no Algarve e estando em vias de regressar de férias para a zona da Comporta.

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No cenário azul e branco da Ericeira © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Por isso, metemo-nos no carro e fomos fotografar para a Ericeira, com o filho do Paulo a ajudar a produção. Ocasionalmente passo fins-de-semana lá com a família, pelo que soube muito bem regressar, sobretudo estando o sol a brilhar e a temperatura tão agradável.

Um cenário histórico

Com uma história que remonta a 1000 a.C., a Ericeira é uma castiça vila turística situada a 35 km a noroeste do centro de Lisboa e a 18 km de Sintra. Reza a lenda que o seu nome está relacionado com os numerosos ouriços do mar que abundavam nas praias da zona, mas investigações mais recentes apontam o ouriço-cacheiro e não o do mar como inspirador da nomenclatura — e com a descoberta de um exemplar do antigo brasão da vila confirmou-se que o animal desenhado é, de facto, um ouriço-cacheiro. O que não lhe retira qualquer charme costeiro. Tendo deixado de ser um entreposto comercial ao longo do século XIX, logo se tornou destino de veraneio devido às características climáticas e ao alto teor de iodo das suas praias. Há cinquenta anos, a Ericeira era apontada como tendo a maior concentração de iodo de toda a costa portuguesa e hoje continua a ser uma das zonas do litoral mais procuradas para banhos.

Texturas na Ericeira © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Estilo, cores e texturas na Ericeira © Paulo Pires/Espiral do Tempo

E passámos mesmo uma bela tarde na Ericeira. Percorremos as ruelas pintalgadas de branco e azul, bebemos uns drinks ao sol e até nos cruzámos com alguns apaixonados de relojoaria — que ficaram curiosos com as sessões fotográficas improvisadas nos umbrais das portas ou nas esplanadas com vista para o mar. E também com o relógio em si: um Linde Werdelin é mesmo um relógio diferente para quem gosta da diferença.

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Mar à vista: uma saúde ao 3-Timer Nord © Paulo Pires/Espiral do Tempo

A marca foi fundada em 2002 com base num inovador conceito que combinava inicialmente um relógio mecânico com um módulo electrónico. A parte relojoeira rapidamente se impôs pela sua estética diferenciada e a Linde Werdelin foi-se afirmando como uma exclusiva marca de nicho e completamente fora do mainstream, tanto no plano da comunicação como da própria visão do negócio — aliando o reconhecido design nórdico à reputada qualidade suíça e estabelecendo a sua sede na cosmopolita Londres.

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A típica força geométrica da caixa e da bracelete da Linde Werdelin © Paulo Pires/Espiral do Tempo

O peculiar design e a estrutura geométrica da caixa são da autoria do outro co-fundador, Morten Linde; desde o início que a caixa foi pensada para ser acompanhada de um adereço computorizado que complementava o binómio relógio mecânico+instrumento electrónico que esteve na génese da marca, daí as estratégicas abas laterais que têm um objetivo funcional: incluem discretas reentrâncias que permitem a fixação do módulo electrónico. O advento dos smartphones veio tornar redundante o enorme investimento financeiro de Jorn e Morten no desenvolvimento de software para os instrumentos electrónicos, disponíveis para mergulho e para o ski/montanha; hoje em dia, a Linde Werdelin centra-se exclusivamente nos relógios mecânicos e o seu visual integrado afigura-se particularmente atraente para todos aqueles que desejam um produto moderno e distinto das tradicionais caixas redondas com asas para prender a correia que constituem a norma.

Linde Werdelin 3-Timer Nord
Sistema rápido de troca de braceletes via parafusos na caixa © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Pode dizer-se que a estética preconizada por Morten Linde é atual embora também com raízes na década de 70, que assistiu ao nascimento do chamado ‘relógio moderno’ graças à implementação do design integrado em ícones tais como o Royal Oak da Audemars Piguet, o Nautilus da Patek Philippe e vários outros que recentemente inspiraram a criação/reinterpretação de novos modelos integrados de aço que levaram as redes sociais a falar mesmo de plágio na sequência de vários lançamentos efetuados em 2019. O design da Linde Werdelin é integrado, mas muito personalizado e decididamente original. E os 44mm de diâmetro ‘vestem’ muito bem até em pulsos mais estreitos, precisamente devido a essa arquitetura integrada que dispensa as protuberantes asas tradicionais.

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Happy hour com o 3-Timer Nord © Paulo Pires/Espiral do Tempo

O 3-Timer Nord, como qualquer relógio da Linde Werdelin, não tem asas convencionais — o seu design integrado contempla um sistema que facilita a rápida troca de braceletes e correias: a fixação da bracelete (ergonómica e com uma inserção metálica interior) na caixa é feita através de parafusos que permitem uma mudança rápida e confortável — todos os modelos da marca e respetivas variações de caixa existentes desde os primórdios podem receber todo o tipo de braceletes, sejam elas metálicas, em cauchu ou correias de pele (couro impermeabilizado, avestruz ou crocodilo). O 3-Timer Nord faz-se acompanhar de uma bracelete metálica com acabamento similar ao da caixa e de construção original — distinguindo-se numa era em que tantas braceletes metálicas se parecem umas com as outras e são reminiscentes de famosos modelos dos anos 70. Mas o relógio também fica especialmente bem com várias braceletes de cauchu da coleção de acessórios da Linde Werdelin.

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No mar da Ericeira e nas plataformas digitais © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Para além da bracelete metálica, levámos connosco várias braceletes de cauchu — uma azul e uma cinzenta escura condizentes com o mostrador, mas também uma branca (que costumo usar frequentemente no meu próprio Linde Werdelin Oktopus Titanium) especialmente adaptada ao período estival e especialmente adequada para o cenário de casas caiadas da Ericeira. E brincámos um pouco com combinações originais de braceletes, tirando mesmo algumas fotografias com um segmento branco e outro segmento azul.

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Visual misto: com meia bracelete azul e meia bracelete branca em Ribeira d’Ilhas © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Mas não estivemos apenas na Ericeira. Fomos passar o fim da tarde à vizinha Ribeira d’Ilhas e assistir ao pôr do sol numa das praias adotadas pela comunidade surfista. O jogo de luzes potenciou algumas imagens e colocou em evidência a tonalidade gradual do mostrador, com o típico padrão guilloché radial da linha 3-Timer a ganhar profundidade entre o sol e a sombra. Até a combinação improvisada de bracelete branca com bracelete azul pareceu particularmente adequada ao cenário de descontração costeira. Até porque, com uma estanqueidade de 300 metros, o 3-Timer Nord pode ser perfeitamente usado nas ondas por qualquer surfista ou mesmo em mergulho recreativo.

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Mostrador fumé e guilloché radial © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Quanto ao movimento suíço utilizado, trata-se de um sólido e fiável ETA2893-2 de corda automática dotado de ponteiro suplementar para um segundo fuso horário com leitura na escala de 24 horas gravada na luneta. O facto de a luneta ser rotativa bidirecional permite ainda o cálculo de um terceiro fuso horário — daí a designação 3-Timer. Em suma, um 3-Timer Nord que fica muito bem no pulso e nas azuladas praias do sul da Europa!

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Por do sol em Ribeira d’Ilhas © Paulo Pires/Espiral do Tempo

O 3-Timer Nord está limitado a 55 exemplares e tornou-se rapidamente num dos modelos mais apreciados na história da Linde Werdelin. O Paulo Pires gostou de o observar à lupa e de fotografar todos os seus detalhes; eu, sendo um grande apreciador do azul e dos mostradores fumados, fiquei completamente convencido. É um relógio que me diz muito, desde a cumplicidade com a marca e os seus fundadores até tudo aquilo que representa no que diz respeito à singularidade estética. Vai ser difícil regressar à Ericeira sem me lembrar automaticamente dele…

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À moda da Ericeira: branco e azul © Paulo Pires / Espiral do Tempo

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