Quo Vadis, Corum?

A Corum está de volta a mãos suíças, após mais de uma década na posse de um grupo asiático. Esteve adormecida nos últimos tempos e o objetivo imediato dos novos donos é recuperar o espírito disruptivo e inovador de uma marca que cumpre este ano o seu 70.º aniversário.

A Corum foi fundada em 1955, o que significa que está a cumprir sete décadas de vida. E, num ano tão emblemático para aquela que já foi uma das mais destacadas companhias suíças de alta relojoaria, foram tomadas medidas decisivas para relançar a marca após alguns anos de hibernação. Movimentações de bastidores resultaram num management buy-out que recolocou a manufatura de La Chaux de Fonds em mãos helvéticas — após ter integrado o Citychamp Group (juntamente com a Eterna, que continua adormecida) desde 2013.

Vista aérea para o conjunto de edifícios que constituem o quartel-general da Corum, em La Chaux-de-Fonds | Foto: Corum
Vista aérea para o conjunto de edifícios que constituem o quartel-general da Corum, em La Chaux-de-Fonds | Foto: Corum

As notícias são excelentes, embora não seja fácil para a Corum recuperar a aura que teve durante algumas décadas — sobretudo entre os anos 1980 e 2000, quando se exibia orgulhosamente em Baselworld com um dos maiores stands da feira e apresentava relógios diferenciados que se tornavam em ícones instantâneos. É sempre bom para a indústria que nomes que ajudaram a relojoaria suíça a alcançar a primazia possam continuar o seu trajeto histórico e oferecer maior diversidade ao mercado; enquanto a Eterna continua à espera de ser ressuscitada, a Corum acaba de abrir um novo capítulo da sua história.

O novo CEO da Corum, Haso Mehmedovic | Fotos: Corum
O novo CEO da Corum, Haso Mehmedovic, passou por todos os departamentos da marca | Fotos: Corum

Sob a batuta de Haso Mehmedovic, que começou como relojoeiro e ascendeu à direção comercial da marca antes de se tornar CEO, a Corum é agora detida por um grupo de investidores suíços com experiência nos setores do luxo e da finança. Os novos donos asseguram que a passagem de mãos foi uma transferência estruturada que dá à companhia uma base sólida para a reconstrução e que a transação foi realizada em espírito de colaboração e respeito mútuo com a Citychamp Watch & Jewellery Group Limited, empresa listada em Hong Kong que detinha a Corum desde 2013. O grupo asiático — que continua a operar outras marcas suíças, incluindo a Eterna — concordou em apoiar uma transição tranquila e permitir que a nova liderança parta para uma nova etapa da história da Corum assente numa base limpa.

A entrada da sede da Corum inclui a exibição de peças históricas da marca | Foto: Corum
A entrada da sede da Corum inclui a exibição de peças históricas da marca | Foto: Corum

A organização reestruturada, que tem Haso Mehmedovic como CEO e Presidente do Conselho de Administração, pretende reacender a força criativa da Corum e reafirmar sua identidade singular. Todos os ativos industriais e comerciais — incluindo patentes, propriedade intelectual e arquivos — permanecem em mãos suíças e integram uma estratégia clara. Mas… quo vadis, Corum? Para onde irá a Corum numa conjuntura que era já de si complicada antes do anúncio das tarifas por parte de Donald Trump que vieram afetar ainda mais o mercado global?

Retorno às raízes

A Corum rapidamente se destacou pelo seu espírito inventivo, conquistando a reputação de ser uma das forças criativas mais ousadas da relojoaria suíça na parte final da década de 50. Fui fundada por Gaston Ries e pelo seu sobrinho, René Bannwart, responsável por alguns dos mais conhecidos modelos da marca na década de 60 — como o Coin Watch baseado em moedas de ouro, o quadrilátero Buckingham (que Elvis Presley chegou a usar), o Romulus com algarismos romanos na luneta, o Chargé d’Affaires com alarme e o Admiral’s Cup inspirado na regata do mesmo nome.

Corum no pulso: o emblemático Coin Watch e um modelo com mostrador feito à base de penas de pavão | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Corum no pulso: o emblemático Coin Watch e um modelo com mostrador feito à base de penas de pavão | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Em janeiro de 2000, a empresa foi adquirida por Severin Wunderman — que deu um novo ímpeto à Corum, introduzindo logo 12 novos modelos e revelando-se muito forte na área do marketing. Foi uma fase de liderança forte de um CEO carismático. Mas Severin Wunderman morreu em 2008.

Relógio clássico com alarme: o Corum Chargé d'Affaires | Foto. Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Relógio clássico com alarme: o Corum Chargé d’Affaires | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Em 2013, a Corum foi vendida ao China Haidian Group, logo depois rebatizado Citychamp Watch & Jewellery Group. Por um conjunto de várias razões, a marca perdeu peso no espaço mediático e no mercado do setor — mas vale a pena recordar alguns dos seus trunfos, modelos emblemáticos que se tornaram também ícones da relojoaria.

O Coin Watch tem-se mantido no catálogo da Corum desde a década de 60 | Foto: Corum
O Coin Watch tem-se mantido no catálogo da Corum desde a década de 60 | Foto: Corum

O Coin Watch, cujo mostrador é feito de uma genuína moeda de ouro Double Eagle de 20 dólares (símbolo da livre iniciativa americana), ficou famoso por ser usado por vários presidentes americanos. O Admiral, inspirado nas competições náuticas, conheceu uma alargada coleção com modelos que incluem marés, amplitudes, fases da lua e correntes. O Golden Bridge, com seu inovador movimento linear criado pelo mestre Vincent Calabrese, é um prodígio relojoeiro. O Tobogan é um modelo que passa do pulso para a mesa graças à sua caixa basculante. O Bubble, com seu vidro de aumento de 11 mm, foi um dos primeiros ex-libris relojoeiros do século XXI. Algumas dessas criações lendárias são intemporais — e estão prontas para reintegrar o revitalizado catálogo da Corum. Resta saber exatamente quais, mas as linhas Golden Bridge, Admiral, Coin Watch e Bubble parecem reunir o consenso da crítica.

O Golden Bridge é um prodígio da micromecânica relojoeira | Fotos: Corum
O Golden Bridge é um prodígio da micromecânica relojoeira | Fotos: Corum

Entretanto, a atual rede de distribuição da marca (que inclui pouco menos de 300 revendedores em todo o mundo) será reforçada em bases sólidas e sustentáveis, com parcerias selecionadas para garantir um serviço pós-venda de excelência para os seus clientes. Essa vertente será fundamental para a confiança dos agentes oficiais e dos clientes finais.

A importância de 2026

Para já, 2025 será um ano de consolidação e de celebração do 70.º aniversário, com a nova liderança a focar-se no fortalecimento das coleções emblemáticas da Corum e na preparação para o futuro imediato e a médio prazo. Está previsto o relançamento global para meados de 2026, com ênfase na identidade da marca e na sua herança histórica.

O patrocínio à Admiral's Cup e o lançamento do Bubble são marcos da história da Corum | Fotos: Corum
O patrocínio à Admiral’s Cup e o lançamento do Bubble são marcos da história da Corum | Fotos: Corum

A nova era da Corum é personificada por Haso Mehmedovic, de apenas 32 anos. Passou por todos os departamentos da marca de La Chaux-de-Fonds, da oficina à gestão de mercado, produção, qualidade e vendas. «Temos uma tremenda oportunidade pela frente: restaurar o lugar de direito da Corum na relojoaria suíça. Conheço a empresa de dentro para fora, os seus pontos fortes e o seu potencial inexplorado. A Corum foi a primeira marca para a qual me candidatei depois de me formar em 2011 — e nunca olhei para trás. Cresci com a empresa e passei por todos os altos e baixos com as equipas dos vários departamentos. Hoje, colocamos a criatividade e a inovação de volta ao centro das atenções e vamos construir o futuro sobre o ADN único da Corum», afirma o novo CEO.

O Admiral, com os típicos indexes das horas marcados por sinalização náutica | Foto: Corum
O Admiral, com os típicos indexes das horas marcados por sinalização náutica | Foto: Corum

Haso Mehmedovic é peremptório: «Reforçaremos a nossa distribuição, consolidando mercados-chave e abrindo novos horizontes — e, acima de tudo, trazendo a Corum de volta aos holofotes para colecionadores e entusiastas em todo o mundo. Tenho orgulho de liderar este novo capítulo ao lado de uma equipa talentosa e comprometida, fundamentada nos valores da relojoaria suíça, e compartilhamos uma visão de longo prazo. Chegámos a um acordo construtivo com o Citychamp Watch & Jewellery Group Limited, que — protegendo os seus próprios interesses — demonstrou genuína boa vontade e um desejo sincero de ver Corum recuperar o lugar que merece. Um lugar que nunca deveria ter deixado».

Outra interpretação do conceito Golden Bridge | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Outra interpretação do conceito Golden Bridge | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Vai ser interessante avaliar a reação do mercado à saída de hibernação da Corum — e qual a estratégia da marca nos próximos tempos tendo em vista a recuperação do brilho de antanho.
 
 
 

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