Rolex: o fenómeno Land-Dweller no Watches and Wonders

O novo Land-Dweller dominou por completo o arranque da edição deste ano do Watches and Wonders. Não só por se tratar da principal novidade da Rolex para 2025, mas também por ser a primeira coleção completamente nova da marca genebrina desde os anos 90 e de apresentar caraterísticas mecânicas revolucionárias.

No Watches and Wonders Geneva 2025

Suspeitava-se de que a Rolex poderia estar a preparar algo de novo, na sequência da divulgação de que a marca da coroa tinha registado a designação Land-Dweller há um par de anos (a 8 de julho de 2023). E houve também um teaser com recurso ao embaixador Roger Federer que não tem sido propriamente habitual, já que o campeoníssimo suíço postou algumas fotografias em que discretamente se via no pulso um relógio de formas pouco habituais no recente catálogo da Rolex. E, à meia noite do dia 31 de março para o dia 1 de abril, primeiro dia oficial do Watches and Wonders, a Rolex divulgou o seu grande trunfo para 2025 sem esperar pela abertura oficial da feira, às 8 horas.

O Land-Dweller foi vislumbrado pela primeira vez no pulso do Rolex testimonee Roger Federer | Foto: Rolex
O Land-Dweller foi vislumbrado pela primeira vez no pulso do Rolex testimonee Roger Federer | Foto: Rolex

O novo Oyster Perpetual Land-Dweller foi mesmo o grande protagonista da Watches & Wonders e dominou por completo os primeiros dois dias da feira. Subitamente, a Rolex adotou um design integrado cuja estrutura foi assumidamente inspirada num seu emblemático modelo do passado para desvelar uma coleção composta por um total de — para já — dez exemplares, entre os tamanhos de 40 e 36mm e variantes em aço Rolesor (com luneta em ouro branco), Everose (ouro rosa) e platina 950, sendo que as variantes em metal precioso apresentam também versões joalheiras com diamantes na luneta e nos índices do mostrador.

No pulso: o novo Rolex Land-Dweller foi o grande protagonista da Watches & Wonders | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
No nosso pulso: o novo Rolex Land-Dweller foi o grande protagonista da Watches & Wonders | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

A Rolex não deixa os seus créditos por mãos alheias e o lançamento de qualquer novo produto requer muito mais atenção do que a simples variação de uma cor ou de um material pode deixar entender. No caso do lançamento de uma linha completamente nova, o cenário é ainda mais complexo e demorado. Para mais, as virtudes técnicas do Land-Dweller são excecionais e requereram um longo período de desenvolvimento: a Rolex fala mesmo de sete anos.

O Land-Dweller personifica o regresso do design integrado ao catálogo da marca da coroa | Foto: Rolex
O Land-Dweller personifica o regresso do design integrado ao catálogo da marca da coroa | Foto: Rolex

No total, estão envolvidas 32 patentes no novo relógio de design integrado, com escape Dynapulse e a funcionar à elevada frequência de 5Hz; 18 das patentes são exclusivas do Land-Dweller e 16 estão ligadas ao seu movimento automático ultraplano.

Design integrado

Desde o início da presente década que o design integrado e respetivo visual full metal tem sido uma das tendências dominantes na relojoaria — com a tipologia relojoeira que mais caraterizou os loucos anos 70 a ser muito perseguida por marcas mais antigas ou mais recentes, com grande influência do Royal Oak da Audemars Piguet (1972) e do Nautilus da Patek Philippe (1976). Mas o que a maior parte dos aficionados e mesmo da crítica não sabe é que a Rolex já tinha o seu próprio modelo de design integrado antes desses dois icónicos modelos e desde 1969: o lendário Rolex Quartz, também conhecido por Rolex Beta, o primeiro modelo da marca da coroa a utilizar uma tecnologia de quartzo (o Calibre Beta 21) que, para a altura, era verdadeiramente revolucionária no que diz respeito à precisão… e também especialmente onerosa.

Arquitetura histórica nos anais da Rolex: o design integrado do Beta e do Oysterquartz | Fotos: DR
Arquitetura histórica nos anais da Rolex: o design integrado do Beta Ref. 5100 e do Datejust Ref, 1530 | Fotos: DR

O Rolex Beta Ref. 5100, de cognome ‘Texano’, era particularmente atrativo e apresentava linhas fluidas entre a caixa e a bracelete, prenunciando de maneira perfeita a tendência geométrica dominante na dos anos 70 (uma década na qual os relógios completamente redondos foram a… exceção!) e também um Datejust Ref. 1530 de 1974 que depois serviu de base aos Osyerquartz lançados em 1977 (Datejust Ref. 17000 e Day-Date Ref. 19018). Há quem prefira as linhas do Rolex Beta, mas foi na arquitetura do Datejust Ref. 1530 e do Oysterquartz que a Rolex foi buscar inspiração para o novo e revolucionário Land-Dweller. 

O novo Land-Dweller assenta particularmente bem no pulso, seja no tamanho 40 ou 36 | Foto: Rolex
O novo Land-Dweller assenta particularmente bem no pulso, seja no tamanho 40 ou 36 | Foto: Rolex

Ou seja, como frequentemente acontece na Rolex e na indústria relojoeira suíça, o passado acaba por ser utilizado numa projeção para o futuro. Porque o Land-Dweller, apesar de um visual relativamente tradicional, é um relógio mecanicamente de vanguarda…

Pormenores da integração da bracelete Jubilee 'plana' na estrutura da caixa do Land-Dweller | Fotos: Rolex
Pormenores da integração da bracelete Jubilee ‘achatada’ na estrutura da caixa do Land-Dweller | Fotos: Rolex

O briefing de design para o Land-Dweller foi mesmo “um modelo inspirado pela estética da nossa herança mas olhando para o futuro”, segundo revela a marca da coroa. Talvez a opção pelo Oysterquartz em detrimento do Beta tenha a ver com o facto de ser mais fácil encontrar elementos de estilo da Rolex mais usuais no primeiro do que no segundo — nomeadamente na bracelete, facilmente transposta para a nova bracelete Jubilee achatada de cinco elos integrada na caixa do novo Land-Dweller.

O forte pendor geométrico do novo Rolex Land-Dweller | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O forte pendor geométrico do novo Rolex Land-Dweller | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Muito importante para o dinamismo de um design acentuadamente geométrico é o acabamento entre superfícies maioritariamente escovadas e polidas nas arestas ou nos elos centrais da bracelete. Essa dinâmica e os reflexos que proporciona torna uma estrutura robusta mais fluída e sofisticada. E também confortável. A tradicional bracelete Jubilee usada em tantos modelos da Rolex surge reinterpretada de modo a ser integrada de maneira ideal no design e inclui um fecho Crownclasp.

Versão joalheira do Land-Dweller em ouro rosa Everose | Foto: Rolex
Versão joalheira do Land-Dweller em ouro rosa Everose com diamantes na luneta e nos índices do mostrador | Foto: Rolex

A luneta apresenta o típico padrão canelado da marca ou, no caso das versões joalheiras, ostenta 40 diamantes de corte trapezoidal.

Um novo rosto

O lançamento de uma gama completamente nova inclui normalmente um mostrador distinto — o mostrador é mesmo o rosto de qualquer relógio. Mesmo que a geometria acentuada do Land-Dweller cause o maior impacto à primeira vista, o grafismo especial que a Rolex utiliza no mostrador rapidamente se torna incontornável. Trata-se de um padrão alveolado (cortado com um laser específico) especialmente pensado para o Land-Dweller e que também se inspira na histórica linguagem de design da marca genebrina. Tal como os algarismos 6 e 9 utilizados nas versões sem joalharia e que remetem não só para o Explorer mas também para o Air-King.

Pormenor do padrão alveolado e dos algarismos 6 e 9 no mostrador do Land-Dweller | Foto: Rolex
Pormenor do padrão alveolado e dos algarismos 6 e 9 no mostrador do Land-Dweller | Foto: Rolex

No entanto, esses algarismos 6 e 9 são ‘abertos’ no centro. E os bastões dos índices são totalmente revestidos no topo por material luminescente, no caso um novo desenvolvimento da luminescência Chromalight exclusiva da Rolex. As versões joalheiras dispensam os dois algarismos e usam exclusivamente índices — mais precisamente dez diamantes de corte baguette, para além da coroa aplicada às 12 horas e a janela para a data às 3 horas encimada por uma lupa Cyclops igualmente caraterística da marca.

O impactante mostrador Ice Blue do Rolex Land-Dweller em platina | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O impactante mostrador Ice Blue do Rolex Land-Dweller 40 em platina | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Para já, há somente dois tons de mostrador disponíveis entre os modelos Land-Dweller apresentados: o tom branco opalino na variantes aço/Rolesor e ouro/Everose, e o tom azulado denominado Ice Blue exclusivo dos relógios em platina da Rolex. Parece verosímil que, a partir do próximo ano, a linha Land-Dweller seja igualmente dotada de mostradores de outras cores — a começar pelo incontornável preto, que ficará especialmente bem no tão específico tipo de design integrado da nova gama.

Mecânica de ponta

Mas se é a estética do Land-Dweller que maior impacto causa à primeira vista (o que é perfeitamente natural), o aspeto mais revolucionário da nova linha da Rolex prende-se com os novos movimentos utilizados. E a marca dá tanta importância a isso que utiliza em todos os modelos um fundo transparente, algo excecionalmente raro no universo dos modelos Oyster e cujas exceções só surgiram muito recentemente no Daytona. Ou seja: através do vidro de safira que serve de tampa ao fundo, é possível apreciar o novo Calibre 7135 do lado da massa oscilante.

Os três tipos de mostrador e o Calibre do Land-Dweller | Fotos: Rolex
Os três tipos de mostrador e o Calibre 7135 do Land-Dweller | Fotos: Rolex

Com 16 patentes associadas, o Calibre 7135 de corda automática representa o que de melhor a Rolex faz no departamento mecânico — sabendo-se que nessa vertente a marca da coroa é mesmo superlativa no que diz respeito à fiabilidade e precisão. É uma evolução do Calibre 7140 utilizado na linha 1908 desde o seu lançamento em 2023, mas com um avançado sistema regulador. Funciona à elevada frequência de 36.000 alternâncias/hora (ou seja, 5Hz) e apresenta uma autonomia de 66 horas.

Versão joalheira do Rolex Land-Dweller em Everose e o fundo transparente | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Versão joalheira do Rolex Land-Dweller 36 em Everose e o fundo transparente | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

A vertente mais notável do Calibre 7135 prende-se com o novo escape Dynapulse, que por si só envolve sete patentes. Confecionado em silício imune aos campos magnéticos, melhora a transmissão de energia vinda do tambor de corda para o oscilador graças a uma nova arquitetura geométrica no trem de rodagem que permite reduzir o consumo de energia devido à ação direta entre os diversos componentes — ao contrário do que sucede no tradicional escape suíço de âncora. Inspirado nos escapes diretos do final do século XVIII, o escape Dynapulse também tem um processo de lubrificação (na ordem dos nanolitros) especialmente adaptado às suas especificidades e distinto de qualquer outro referente aos restantes movimentos da marca.

O novo Calibre permite ao Land-Dwqeller ser especialmente delgado | Foto: Rolex
O novo Calibre permite ao Land-Dweller ser especialmente delgado | Foto: Rolex

O balanço é feito de uma nova liga especial de latão otimizado resistente a campos magnéticos e o suporte é em cerâmica, um material igualmente imune ao magnetismo. A espiral Syloxi em silício também apresenta contornos inéditos, com curvas mais espessas e rígidas capazes de gerar mais potência no funcionamento a 36.000 alternâncias/hora e garantir a precisão cronométrica requerida. O sistema antichoque Paraflex contribui para tornar tão delicado dispositivo mais resistente aos impactos.

O Land-Dweller apresenta um visual muito distintivo | Foto: Rolex
O Land-Dweller apresenta um visual muito distintivo e tem fundo transparente | Foto: Rolex

O Calibre 7135 está dotado de uma massa oscilante (Perpetual Rotor) em ouro amarelo e inclui acabamento com uma nova interpretação própria do histórico padrão decorativo Côtes de Genève, adequadamente batizado Rolex Côtes de Genève e que inclui uma nervura suplementar nas caraterísticas ondas. A sua escassa espessura também é relevante: permite que o Land-Dweller seja 20 por cento menos espesso do que um Datejust, apresentando somente 9,70mm de perfil.

O Land-Dweller é 20 por cento mais fino do que um Datejust | Foto: Rolex
O Land-Dweller é 20 por cento mais fino do que um Datejust | Foto: Rolex

Como todos os relógios Rolex, o Oyster Perpetual Land-Dweller é coberto pela certificação Superlative Chronometer instituída em 2015 e que reforça uma certificação inicial do movimento pelo Controlo Oficial Suíço dos Cronómetros (COSC), assegurando uma precisão diária de -2/+2 e uma garantia internacional de cinco anos — com espaços entre revisões que podem chegar quase a dez anos. Ou seja, a habitual mecânica superlativa, que neste caso é interpretada por um novo movimento, a complementar um visual diferenciado no catálogo da Rolex.

Conclusões

Graças ao Calibre 7135, o Land-Dweller passou a ser o relógio mecânico mais preciso da Rolex. E, apesar da sua estética distinta, é um produto claramente Rolex. O inédito cocktail tecnológico faz com que, no entanto, o primeiro preço de um modelo de três ponteiros e data em aço com luneta de ouro que é equivalente ao Datejust (que tem um preço à volta dos 10.000 euros) salte para uma faixa onde se situa o mais complicado Sky-Dweller (pelos 16.000 euros).

Os três materiais utilizados no Land-Dweller: aço/Rolesor, ouro/Everose e platina 950 | Fotos: Rolex
Os três materiais utilizados no Land-Dweller: aço/Rolesor, ouro/Everose e platina 950 | Fotos: Rolex

Apesar do primeiro preço ser considerável, não vai ser nada fácil conseguir ‘apanhar’ qualquer Land-Dweller nos agentes oficiais da marca…

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