Num ano particularmente marcado pelas cores vibrantes e com o seu Black Bay Fifty-Eight de tamanho médio a ganhar cada vez mais adeptos, a Tudor lançou o Black Bay Ceramic — um exercício de estilo monocromático que saltou imediatamente para o primeiro plano da coleção.
A Tudor continua a explorar o filão Black Bay — e com sucesso, surpreendendo com as suas alternativas quando parecia ser possível apresentar algo de verdadeiramente novo. Este ano, aquando da Watches & Wonders, estreou o Black Bay Fifty-Eight em prata e em ouro; mais recentemente, desvelou um Black Bay Fifty-Eight em bronze (material até agora usado apenas numa versão de 43mm) complementado por uma bracelete igualmente em bronze e outra em tecido – um modelo disponível apenas em boutiques Tudor selecionadas.
Pelo meio, um lançamento especialmente marcante: o do Black Bay Ceramic, uma espetacular variante negra do relógio que logo a partir do seu lançamento, em 2012, se tornou no ex-libris da marca.
Sucesso Black Bay
Quando o Black Bay surgiu há nove anos, tornou-se instantaneamente num grande favorito entre os membros da imprensa especializada e até mesmo os aficionados mais exigentes — para mais, sendo um dos modelos de mergulho com melhor relação preço/qualidade/simbolismo do mercado. E não se tratava de uma mera reedição: era uma livre reinterpretação retro-chic de um lendário modelo de mergulho que a Tudor lançou em 1954 (‘Big Crown’, Ref. 7922) e que foi produzindo com múltiplas variações até aos anos 80, incluindo uma com ponteiros geométricos em 1968 (Submariner ‘Snowflake’, Ref. 7016/0).
Apresentando dimensões contemporâneas (41mm é um tamanho médio para um relógio vincadamente desportivo), o Black Bay contemplava muitos detalhes da velha escola: a coroa de maiores dimensões sem protetores laterais, o mostrador convexo e até o quadrado nos ponteiros das horas e dos segundos. O sucesso do conceito tornou-se facilmente traduzível pelos múltiplos prémios no Grand Prix d’Horlogerie de Genève e pelo alargamento da coleção com as variantes cronográficas, o tamanho midsize Fifty-Eight de 39mm e até mesmo a versão Black Bay P01 inspirada num protótipo histórico.
Outra clara demonstração de sucesso foram os valores estratosféricos alcançados pelos exemplares únicos Black Bay no leilão da iniciativa de beneficência Only Watch — incluindo a peça totalmente preta em cerâmica arrematada na subasta de 2019 por um valor muito superior (350.000 francos suíços) à sua estimativa inicial (5.000 CHF). Esse relógio, como aconteceu anteriormente com outro Black Bay Only Watch e como também sucede com outras marcas, serviu de base para um modelo na coleção regular. Ou seja, o Black Bay Ceramic One de 2019 redundou no Black Bay Ceramic de 2021, mas com naturais diferenças: a tipografia, ponteiros e indexes são mais contrastantes no novo modelo de catálogo, a par de diferentes opções de bracelete e sobretudo uma inédita certificação cronométrica.
Tudor Black Bay Ceramic
A principal característica visual do novo Black Bay Ceramic está associada ao seu nome. O Black Bay Ceramic One foi o primeiro relógio Black Bay em cerâmica, mas não o primeiro modelo da Tudor em cerâmica nem o primeiro modelo completamente preto. Já anteriormente a marca de Genebra tinha apresentado um modelo associado ao desporto motorizado com caixa de cerâmica, o cronógrafo Fastrider Black Shield. E um modelo completamente preto, o Black Bay Chrono Dark em aço com revestimento PVD associado à campanha com os All Blacks e que foi entretanto descontinuado. O novo Black Bay Ceramic é completamente preto mate com acabamento microbillé, sendo o mostrador dotado de uma discreta tipografia cinza e com indexes e ponteiros preenchidos por uma luminescência bege que oferece um tal contraste sobre o fundo negro que parecem flutuar na escuridão.
A utilização da cerâmica dá ao Black Bay Ceramic (excetuando a coroa e a base da luneta, ambas em aço escurecido a PVD) uma maior leveza e também resistência aos riscos. Estilisticamente, dá-lhe também uma aura mais contemporânea com o seu sofisticado visual escurecido que moderniza os códigos estéticos rétro associados à coleção Black Bay. Também não existe marcador luminescente às 12 horas na luneta com inserção cerâmica de acabamento raiado, o que lhe retira de certo modo a funcionalidade de relógio de mergulho e reforça o seu espírito metropolitano sem que perca os restantes códigos de um verdadeiro tool watch. E apresenta um design afinado comparativamente com a primeira geração do Black Bay dotada de movimentos de manufatura: o perfil foi trabalhado de modo a parecer mais elegante, o mostrador não está tão fundo na caixa.
Outro importante fator a considerar é a designação Master Chronometer; os calibres de manufatura da Tudor têm a certificação tradicional COSC, mas a chancela Master Chronometer do Black Bay Ceramic vai mais longe com a certificação METAS e pode fazer parte de uma estratégia a implementar no futuro.
Um calibre especialmente modificado
Com o lançamento de um primeiro calibre próprio em 2015, a Tudor investiu num importante projeto industrial que lhe deu estatuto de manufatura e até pedigree face à omnipresente ‘irmã’ do grupo, a incontornável Rolex. O movimento automático inaugural MT5612 elaborado na manufatura Kenissi (que deu origem às consequentes variantes) foi sobretudo desenhado para ser fiável sob todas as circunstâncias e isso é patente na arquitetura robusta que privilegia a funcionalidade e o rendimento sobre a estética; o modo como foi idealizado assegura enorme estabilidade através de uma grande ponte sobre o sistema oscilador, recorre a uma espiral de silício acompanhada de um balanço de inércia variável e proporciona 70 horas de reserva de marcha — ostentando a certificação de cronómetro atribuído pelo COSC após uma bateria de testes de precisão. A fiabilidade permite à Tudor oferecer uma extensa garantia de cinco anos.
O Black Bay Ceramic usa o Calibre MT5602-1U, cujo acabamento totalmente escurecido faz jus à estética do relógio e pode ser apreciado pelo fundo transparente em vidro de safira. Mas, para além da cosmética, contempla também alterações relativamente aos restantes movimentos de manufatura da Tudor de modo a conseguir a chancela METAS (possivelmente utilizando componentes do escape não ferrosos, para além da opção pelo tungsténio no rotor). A exigente certificação METAS fornecida pelo Instituto Federal Suíço de Metrologia implica que o relógio foi testado por completo e não apenas o movimento, como sucede com o COSC, embora também requeira a prévia certificação COSC do calibre; implica também elevada resistência aos campos magnéticos (15.000 Gauss), uma precisão mais apertada (0/+5, contra os -4/+6 do COSC e -2/+4 dos calibres Tudor ‘normais’) e também maior fiabilidade na reserva de corda.
Quanto à ‘roupagem’, já se sabe que as vestimentas dos Black Bay têm sido particularmente variadas — entre braceletes metálicas, braceletes elaboradas na fiação artesanal Julien Faure, correias de couro ou camurça sintética e até uma bracelete híbrida com base de borracha revestida de pele no caso do P01. O Black Bay Ceramic vem com duas alternativas: uma híbrida de couro e cauchu dotada de um fecho de báscula em aço preto PVD; e uma têxtil preta com lista bege equipada com uma fivela de regulação do comprimento e confecionada na fiação Julien Faure.
O veredito
Antes de abordar o impacto estético do Black Bay Ceramic, devo dizer que tenho um Black Bay tradicional — o Black Bay Blue com movimento de manufatura, estreado em 2016. Gosto muito dele, mas sempre achei que os flancos poderiam ser ligeiramente afinados para que o perfil pareça menos volumoso e também que o espaço entre o mostrador e o vidro devia ser menor. Entretanto a Tudor melhorou esses aspetos em novas versões subsequentes e o Black Bay Ceramic surge com essas pequenas afinações que acabam por fazer uma grande diferença.
Quanto ao visual stealth, é muito bem conseguido; os relógios de caixa preta ‘cansam’ mais rapidamente do que os de aço, mas isso não vai acontecer com o novo protagonista da Tudor: é um relógio mesmo cool, com um estilo contemporâneo que se impõe claramente à tipologia de relógio de mergulho inerente à génese da coleção Black Bay (e ostenta uma estanqueidade até 200 metros). A certificação METAS é um acrescento significativo e pode até ter outras interpretações; será que o Grupo Rolex (do qual a Tudor faz parte) quis essa certificação até ao momento apenas vista em relógios Omega para incutir no consciente dos aficionados a noção de que a Tudor está ao nível da Omega e que, por associação de ideias, a sister company Rolex se mantém num patamar acima?
Foi um pensamento que me surgiu na altura e que, pelo que vi depois, também esteve na cogitação de vários colegas da imprensa relojoeira. Mas ficará no plano das conjeturas até que haja alguém a confirmar a ideia. O que interessa mesmo dizer é que, em guisa de conclusão, o preço à volta dos 4.500 euros (um pouco mais de 1000 euros do que o modelo Black Bay em aço com certificação COSC) se justifica plenamente.
Algumas características técnicas:
Tudor
Black Bay Ceramic
Ano de lançamento | 2021
Referência | M79210CNU-0001
Movimento | Mecânico de corda automática Calibre de Manufatura MT5602-1U (COSC), 70 horas de reserva de corda.
Funções | Horas, minutos, segundos, data.
Caixa Ø 41 mm | Cerâmica preta mate com acabamento em microjato e caixa central monobloco. Fundo em aço 316L com tratamento PVD em preto, transparente em vidro de safira. Estanque até 200 m.
Mostrador | Preto côncavo.
Bracelete | Híbrida em pele e borracha com fecho desdobrável e fecho de segurança em aço 316L com tratamento PVD em preto. Bracelete adicional em tecido preto com faixa creme e fivela em aço 316L com tratamento PVD em preto, incluída na caixa
Preço | 4.550 €
Visite o site oficial da Tudor para mais informações.