O mundo relojoeiro foi inundado por novidades lançadas ao longo da última semana no âmbito da Watches and Wonders e restantes eventos genebrinos. Mas quais são as grandes tendências a retirar das muitas centenas de novos relógios? Aqui ficam elas.
Em Genebra
Foi uma semana intensa que apenas ficou concluída no dia 15 de abril, com o encerramento oficial da Watches and Wonders — após a última das três jornadas abertas ao público que se seguiram a quatro dias reservados exclusivamente a profissionais do setor (imprensa, distribuidores, agentes oficiais, convidados).
O maior certame mundial de relojoaria reuniu na Palexpo mais de 50 marcas e alargou a sua área de exposição, ao passo que cerca de 20 marcas assentaram arraiais no hotel Beau Rivage com respetivos showrooms, a feira paralela Time to Watch também contou com algumas marcas e outras escolheram vários outros hotéis para mostrar as novidades — sem esquecer os independentes da AHCI (Association des Horlogers et Créateurs Indépendants). Mas o centro nevrálgico da semana foi mesmo a Watches and Wonders.
Sucessora direta do Salon International de la Haute Horlogerie, a Watches and Wonders passou a acolher as marcas mais importantes oriundas da extinta Baselworld e reúne todas as marcas do grupo fundador Richemont, quase todas as marcas do grupo LVMH (a excepção Bulgari tem preferido o hotel President Wilson), o grupo Rolex/Tudor, a dupla Chopard/Ferdinand Berthoud, a dupla Frederique Constant/Alpina, a dupla Arnold & Son/Angelus, a referência Patek Philippe e uma plêiade de marcas independentes. Entre tanta diversidade, foi interessante ver as tais convergências que redundam em tendências. Aqui ficam as mais relevantes:
Construção Glassbox
A utilização de uma arquitetura glassbox em que o vidro surge saliente relativamente ao plano da caixa e do mostrador nunca deixou de ser utilizada — mas passou a estar na ordem do dia desde o momento em que a TAG Heuer passou a utilizar a designação a partir do lançamento das edições especiais Carrera Glassbox há cerca de oito anos, e sobretudo desde a adoção desse tipo de arquitetura na renovada linha Carrera a partir de 2023.
No contexto da renovada linha Carrera, a TAG Heuer lançou este ano o Carrera Chronograph Glassbox Panda e o Carrera Chronograph Glassbox Skipper em ouro. Mas essa arquitetura também começa a ser vista em outras linhas irónicas de relevantes manufaturas — e isso foi visível na Palexpo. Com a Jaeger-LeCoultre e a IWC à cabeça. A utilização dos vidros glassbox permite que os relógios pareçam mais finos e elegantes, mesmo que a espessura final permaneça praticamente a mesma; também facilita uma melhor legibilidade a partir de vários ângulos e assegura uma melhor entrada de luz no mostrador.
Como publicaremos em breve, a Jaeger-LeCoultre relançou a linha Duomètre com quatro peças de elevado gabarito: o Duomètre Heliotourbillon Perpetual, o Duomètre Chronograph Moon (em versões de mostrador pérola ou salmão) e o Duomètre Lunaire. Já a IWC instaurou a solução glassbox em todos os novos modelos da renovada linha Portugieser — e foram muitos, desde a estrela Eternal Calendar ao automático de base com pequenos segundos.
Braceletes com microajuste
É uma melhoria que há muito já devia estar generalizada na relojoaria de qualidade: braceletes e básculas com fechos dotados de um microajuste que possibilite, sem a utilização de qualquer ferramenta, o apertar ou alargar do diâmetro da bracelete em alguns milímetros — algo particularmente útil na dilatação do pulso entre o inverno e o verão, quando se ganha/perde peso ou mesmo para um melhor assentar do relógio no pulso para quem gosta de o utilizar bem apertado.
A Tudor está a começar a dotar as suas braceletes metálicas (e fechos de báscula nas braceletes de borracha) com o sistema T-Link que possibilita precisamente esse ajustar preciso. E a Oris também apresenta esse refinamento nas braceletes da nova geração Aquis, apresentada nesta recente edição Watches and Wonders. Duas marcas de preço relativamente acessível que optaram por melhorar significativamente a qualidade e o conforto das suas braceletes.
- A Oris adotou sistema de microajuste na fivela das novas gerações Aquis equipadas com o Calibre 400 | Ilustração: cortesia Oris
- A Oris adotou sistema de microajuste no fecho das novas gerações Aquis equipadas com o Calibre 400 | Foto: cortesia Oris
- O novo Oris Aquis Date Upcycle Calibre 400, o exemplo de um modelo com sistema de microajuste | Foto: cortesia Oris
- O sistema de microajuste é muito prático e fácil de utilizar | Ilustração: cortesia Oris
Numa fasquia de preço mais elevada, o novo Masterlink da Gerald Charles apresenta esse microajuste na bracelete (a par de um engenhoso sistema de fecho de molas escondido nos elos da bracelete). Há já algum tempo que as manufaturas de maior prestígio incluem um sistema de fecho de precisão nos seus produtos (infelizmente, nem todas) para que a sua sofisticação justifique o preço mais elevado em todos os parâmetros; a meio da segunda década do século XXI, é bom que qualquer marca de preço acima dos 1.000 euros comece a finalmente a dotar todas as suas braceletes metálicas de fechos dotados de microajuste.
Cores com nomenclatura
Mesmo que a incontornável referência Rolex tenha apresentado modelos menos coloridos do que em 2023 e a Bell & Ross investido no ‘back to black’, a tendência geral foi a de continuar a surfar na vaga cromática que explodiu na relojoaria como reação positiva aos depressivos tempos da pandemia. O melhor exemplo desta edição da Watches and Wonders foram os 31 mostradores coloridos que a Nomos lançou para o seu bestseller Tangente. Mas houve também muitos mostradores de tons aproximados ao salmão (entre o champanhe e o cobre), muitos azuis claros (incluindo um da Rolex) e diversas variantes de verde (do azeitona ao musgo). Em muitos casos com nomes próprios.
No caso especial da Nomos (a expor pela primeira vez na Palexpo), não foram apenas 31 cores: foram 31 mostradores com diferentes conjugações cromáticas (de duas a três tonalidades) — cada qual com um nome específico. Desde o Super Sardine ao Nacho Gesang, passando pelo Rambazamba e pelo Katzengold, a manufatura de Glashütte apresentou combinações e designações (sempre em alemão) para praticamente todos os gostos.
A IWC batizou os seus diferentes modelos Portugieser consoante a tonalidade: Horizon Blue para o azul claro, Dune para o champanhe (e, sendo o champanhe uma região vinícola demarcada e registada, não se pode utilizar essa designação de modo oficial por outras marcas) e Obsidian para o preto ardósia.
A Parmigiani Fleurier introduziu novas cores na sua linha de design integrado Tonda PF, a par da apresentação da terceira geração da linha Tonda. O Tonda PF Micro-Rotor de mostrador salmão tem o nome Golden Siena, o Tonda PF Skeleton Platinum azul é Milano Blue, o Toric Pețite Seconde de mostrador esverdeado é Grey Celadon… e há ainda os mostradores Sand Gold e Natural Umber na linha Toric.
A H. Moser Cie. lançou o Pioneer Concept Citrus Green com uma tonalidade gradiente entre o verde lima e o amarelo limão. A Chopard chamou Forest Green ao seu novo L.U.C XPS e Rhône Blue ao azul claro (com contadores pretos contrastantes) do seu novo coreógrafo Alpine Eagle.
A nova linha de design integrado da Arnold & Son, batizada Longitude Titanium, também apresenta mostradores de tons batizados: Kingsand Gold para o salmão (inspirado nas areias de uma praia perto do local onde John Arnold morava1), Fern Green para o verde menta e Ocean Blue para o azul forte. Sem esquecer, obviamente, todos os restantes mostradores coloridos sem nome específico. A relojoaria continua numa maré cromática, embora se comece já a sentir uma reação de regresso ao monocromatismo e aos relógios pretos….