A Zenith completou a estruturação da sua coleção com o afinar da oferta neo-rétro (Chronomaster Original e Chronomaster Revival) e o lançamento de uma variante mais desportiva (Chronomaster Sport) e outra mais radical (Defy Extreme). Estivemos na sede da marca em Le Locle e experimentámos os novos modelos de 2021 em Gstaad. Aqui fica o veredicto.
A Zenith é uma das históricas manufaturas suíças — e essa afirmação vai muito para além da sua aparente evidência. É histórica porque, como tantas outras marcas helvéticas, já apresenta uma provecta idade e um longo currículo. Mas é uma histórica manufatura sobretudo porque pertence ao núcleo muito restrito de manufaturas que desde sempre concebiam integralmente os seus relógios e movimentos de A a Z, tal como a Jaeger-LeCoultre e muito antes de a santíssima trindade formada pela Patek Philippe, Audemars Piguet e Vacheron Constantin passar a usar exclusivamente calibres de manufatura ou da loucura do chamado ‘in-house’ ter passado a dominar as tertúlias relojoeiras a partir do final da década de 90. No que diz respeito a legitimidade e integridade, a Zenith não pede meças a ninguém. E, sob a batuta do dinâmico Julien Tornare, CEO desde 2017, tem assumido gradualmente o posicionamento de destaque que merece.
As origens da Zenith remontam à fundação de uma manufatura relojoeira integrada por parte de Georges Favre-Jacot em 1865, inspirado pela estrutura de produção das empresas americanas que tiravam o máximo partido das linhas de montagem — e desde logo acumulou prémios de cronometria e precisão. Mas a companhia sediada em Le Locle ganhou uma aura especial sobretudo a partir de 1969, com a apresentação do primeiro movimento cronográfico automático integrado (o concorrente Chronomatic/Calibre 11 era modular); apesar da enorme crise dos anos 70 que forçou a Zenith a dedicar-se aos relógios de quartzo por ordem dos americanos que adquiriram a firma no início dessa década, a marca renasceu com o ressuscitar do El Primero que conduziu à ressurreição do cronógrafo mecânico nos anos 80. A perfeição do El Primero é tal que, ao contrário dos seus concorrentes diretos na corrida ao primeiro calibre cronográfico automático em 1969 (o da Seiko e o Chronomatic/Calibre 11 da Breitling, Heuer e associados), não só está ainda em uso nos nossos dias como tem conhecido desenvolvimentos significativos no campo das altas frequências.
O Calibre El Primero já por si era um fenómeno de alta frequência em 1969, com as suas 36.000 alternâncias por hora. Nos últimos anos, a Zenith tem desenvolvido variantes e elevado a já de si alta frequência do El Primero para proporcionar cronometragens ainda mais precisas. No Defy 21 e no recente Defy Extreme, o ponteiro cronográfico dos segundos faz uma rotação ao mostrador por segundo; nos novos Chronomaster Sport e Chronomaster Original, faz uma rotação ao mostrador em 10 segundos — em vez dos habituais 60. Tornando muito mais fácil e precisa a leitura das fracções de segundo na escala disposta na orla do mostrador. E as altas frequências estão presentes em quase todas as principais novidades da Zenith para 2021: o referido Defy Extreme, uma versão ainda mais robusta e todo-o-terreno do Defy 21; o Chronomaster Sport, que já analisamos anteriormente e que segue a popular tipologia dos cronógrafos de inspirados pelos desportos motorizados; e o Chronomaster Original, que recupera a caixa de 38 milímetros e asas retas do primeiro El Primero redondo de 1969 para substituir no catálogo um modelo aparentado mas com diâmetro maior e asas mais curvas. A exceção às frequências (ainda) mais elevadas entre as novidades é o carismático Chronomaster Revival de caixa geométrica.
A Espiral do Tempo almoçou em Genebra com o CEO da Zenith, Julien Tornare, visitou a sede da marca em Le Locle para uma apresentação das novidades conduzida pelo diretor de desenvolvimento de produto e de património, Romain Marietta, e uma visita à manufatura conduzida pelo responsável de brand experience, Romain Mazzilli — para depois descobrirmos com mais tempo todos os novos modelos no contexto do torneio de ténis de Gstaad, um tradicional evento do ATP Tour realizado na Suíça que tem precisamente por cronometrista oficial a Zenith.
E começamos precisamente pelo Chronomaster Revival, que faz as delicias dos saudosistas e entra que nem uma luva na tendência revivalista que tem marcado a relojoaria dos últimos tempos. O primeiro Chronomaster Revival baseado no A384 (um dos três El Primeros inaugurais de 1969) surgiu em 2019 e desde então tem havido deliciosas edições limitadas baseadas em reinterpretações do A384 — como o Revival Liberty para os Estados Unidos, o Revival Lupin The Third ou o Revival Shadow. Este ano, há uma nova reinterpretação denominada Revival Safari que junta um acabamento mais contemporâneo e a combinação das cores preta e verde na emblemática caixa geométrica. E uma nova reedição fiel, o Revival A385 que recupera o primeiro relógio de mostrador dégradé (ou fumado) que integrava o lote dos três modelos El Primero inaugurais de 1969.
Os mostradores fumados também têm estado em voga nos últimos anos, mas nenhum de nenhuma outra marca apresenta tanta legitimidade como o do Zenith Revival A385 — por ter sido então o primeiro com esse tipo de mostrador e por surgir agora numa reedição praticamente perfeita, com o tamanho original de 37mm (a Zenith fez uma série limitada com caixas similares mas maiores em 2009 para celebrar os 40 anos do El Primero mas nunca tinha utilizado o mostrador castanho dégradé do A385). É seguramente um dos melhores relógios do ano e uma bênção para quem gosta do estilo neo-rétro, com o seu tamanho contido e perfeito até em pulsos mais pequenos. O cognome de ‘Macchiato’, alcunha atribuída pelos tons do café com leite, também contribui para a sua aura muito especial!
E porque há cada vez mais revivalistas à procura de um pretérito mais do que perfeito, a Zenith afinou o clássico Chronomaster para o tornar ainda mais próximo do original redondo A386 de 1969, rebatizando-o precisamente de Chronomaster Original… mas dotando-o de um movimento El Primero do século XXI com capacidade para cronometragens mais precisas, devido ao tal elevar da já de si elevada frequência do lendário calibre El Primero — o El Primero 3600, que tem o ponteiro do cronógrafo a dar a volta ao mostrador em apenas 10 segundos e dispõe de uma reserva de corda que chega às 60 horas.
A caixa redonda apresenta agora ‘apenas’ 38 milímetros para evocar o modelo de 1969 e, tal como o original, apresenta asas mais retas. O novo (ou novo/velho!) El Primero Original surge declinado para já em duas variantes — a que inclui os emblemáticos submostradores com os três tons diferentes (cinzento, antracite, azul) tão associados à história do calibre e da própria marca e uma outra com mostrador ‘reverse panda’, dotada de submostradores de um branco prateado contrastantes com o fundo preto (o chamado mostrador ‘panda’ tem fundo branco e submostradores negros).
Quanto ao Chronomaster Sport, é uma grande aposta da Zenith para chegar a um público mais vasto e que é particularmente apreciador de um relógio mais desportivo com bracelete em aço que fique bem em qualquer circunstância. Sem esquecer a tal evolução do Calibre El Primero que lhe dá grande mérito técnico. Está disponível em duas versões de mostrador com duas variantes de bracelete — mostrador branco opalino ou preto com os três tradicionais submostradores nas cores históricas do El Primero e data às 4 horas; bracelete de três elos em aço ou bracelete tipo cordura com base de borracha.
A utilização da mais recente geração do movimento El Primero, o El Primero 3600 que permite uma leitura intuitiva dos décimos de segundo na escala do mostrador e na luneta (o ponteiro leva apenas 10 segundos a completar uma volta ao mostrador em vez dos 60 habituais), assegura uma reforçada autonomia de 60 horas.
O Chronomaster Sport é diretamente inspirado nos históricos cronógrafos da manufatura de Le Locle. O lendário El Primero A386 de 1969 que é agora replicado no Chronomaster Original também serviu de inspiração, com o inconfundível mostrador dotado dos totalizadores tricolores nos mesmos tons. Depois vêm os outros elementos de design recolhidos noutras referências marcantes: o pre-El Primero A277 com a luneta preta e marcadores redondos, o El Primero Rainbow com a sua luneta preta, o El Primero De Luca com a sua bracelete em aço polido e escovado. Sem esquecer dezenas de outros modelos antigos ou recentes e toda uma legitimidade no campo dos cronógrafos, face a marcas concorrentes que na sua coleção até só apresentam uma ou duas referências.
Finalmente, o Defy Extreme — que reforça ainda mais a testosterona estética e técnica da coleção Defy 21, que recentemente recebeu a adição do apelativo Defy 21 Ultrablue. O Defy Extreme é uma extensão da linha Defy com laivos futurísticos e ainda mais robusta para assumir a sua vocação para os desportos extremos, surgindo devidamente equipada para isso: cada estojo está equipado de três braceletes (titânio, borracha e velcro) que podem ser rapidamente substituídas através do sistema rápido de troca embutido para que o relógio seja idealmente adaptado às circunstâncias de uso; a bracelete de velcro é particularmente adequada para os desportos mais extremos, uma vez que possibilita o ajuste quase milimétrico ao pulso e é particularmente confortável.
As caixas de pendor geométrico são elaboradas em titânio numa conjugação arquitetónica em que as linhas retas dão mais força ao mostrador redondo. Na motorização, a vanguarda no que diz respeito aos cronógrafos mecânicos graças ao Calibre El Primero 9004: um escape que bate a 36.000 alternâncias/hora para as indicações de base (horas, minutos, segundos) e um escape com a vertiginosa frequência de 360.000 alternâncias/hora para as funções cronográficas — assegurando a precisão de 1/100 de segundo nas cronometragens, um autêntico prodígio para um cronógrafo mecânico.
O Defy Extreme está (para já) disponível em três versões: titânio escurecido com mostrador recortado em tons pretos; titânio escurecido com tons azuis no mostrador recortado e braceletes de cauchu e velcro a condizer; e titânio escurecido com aplicações douradas para uma opção mais sofisticada. A pujança dos 45 milímetros de diâmetro condiz com a vocação radical do Defy Extreme e vai no sentido oposto dos relógios de pequena dimensão com inspiração vintage que também podem ser encontrados na coleção da Zenith, como o Chronomaster Original e o Chronomaster Revival. E ainda bem, porque tem havido poucos lançamentos de modelos sobredimensionados nos últimos tempos e essa não pode ser uma área descurada pelas principais casas relojoeiras.
Em suma: a Zenith está bem e recomenda-se. E Julien Tornare bem merece o cognome de ‘Tornado’ que lhe foi atribuído pela Espiral do Tempo e que ele reconhece e aprecia: é um presidente especialmente ativo e empreendedor que, bem coadjuvado pelo seu braço direito Romain Marietta, tem dado grande dinamismo a uma das históricas casas relojoeiras suíças. E é sempre bom ver uma marca com o pedigree da Zenith ocupar o lugar que o seu currículo merece.