Armin Strom: visita à manufatura e uma homenagem

Num ano marcado pelo 15º aniversário da manufatura e pela morte do fundador, visitámos as instalações da Armin Strom em Biel/Bienne e experimentamos alguns relógios da coleção — incluindo a grande especialidade Mirrored Force Resonance.

O ano de 2024 foi de contrastes para a Armin Strom. No verão, celebrou o 15.º aniversário do estabelecimento da sua manufatura. No inverno, fez o luto pelo mestre que lhe deu nome. Armin Strom, conhecido pelo seu trabalho na esqueletização de mostradores e movimentos, morreu aos 86 anos na localidade de Burgdorf. Foi lá que, em 1978, nasceram os atuais donos.

Armin Strom manufacture Claude Greisler Serge Michel
À frente da manufatura Armin Strom: o relojoeiro Claude Greisler e o empresário Serge Michel | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

A Armin Strom é uma companhia de alta-relojoaria independente que oferece uma peculiar fusão da tradição relojoeira suíço-alemã, caraterizada esteticamente por uma ‘mecânica transparente’ e tecnicamente por soluções de vanguarda. Foi fundada em 1967 pelo relojoeiro Armin Strom, que se tornou lendário na arte da esqueletização manual e acabamentos de primeira qualidade; chegou mesmo a ter o recorde do Guinness para o mais pequeno relógio esqueletizado à mão. Da esqueletização artística e tradicional dos primórdios num pequeno atelier passou-se à etapa seguinte, em 2006: a gestão transitou para dois jovens pupilos do velho mestre, Serge Michel e Claude Greisler. Juntos, os dois amigos deram uma nova filosofia open-worked à marca e, três anos depois, inauguraram a sede da manufatura.

Armin Strom Espiral do Tempo
O mestre relojoeiro Armin Strom ficou conhecido pelos seus trabalhos de esqueletização | Foto: Armin Strom

Embora Armin Strom se tenha aposentado oficialmente em 2011, visitava regularmente a manufatura para discutir relojoaria e examinar os mais recentes designs/protótipos. «Armin era o coração e a alma da nossa marca; sentiremos muito a falta dele», lamentou Serge Michel. «O seu amor pelos calibres abertos e pela perfeição decorativa das peças do movimento é parte integrante do nosso trabalho diário. O seu talento natural, calor humano e humor contagiante são caraterísticas que queremos perpetuar enquanto indivíduos e como características da marca».

O Gravity Equal Force combina a mecânica no mostrador com elementos decorativos tradicionais | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O Gravity Equal Force combina a mecânica no mostrador com elementos decorativos tradicionais | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

A Espiral do Tempo teve a ocasião de visitar recentemente as instalações da Armin Strom e ficar a par dos últimos desenvolvimentos da sua coleção.

Biel ou Bienne?

Para começar, a Armin Strom fica na décima maior cidade da Confederação Helvética, mas a única cidade suíça com sinalização bilingue. Ou seja, Biel (no dialético alemão) ou Bienne (designação francófona) está situada na zona do Jura que medeia a parte germânica do norte e a metade que fala francês mais a sul — com os Alpes não muito longe e os grandes lagos relativamente perto. É lá que estão sedeadas marcas como a Omega e a Swatch, é lá que a Rolex tem um dos seus centros industriais. E é lá que funciona a Armin Strom, num pequeno edifício que está em fase de expansão.

Nicolas Huissoud e um dos ateliers da manufatura Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Nicolas Huissoud e um dos ateliers da manufatura Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

A Armin Strom assume orgulhosamente importante estatuto de manufatura integrada: projeta, desenha, desenvolve, fabrica, fresa, grava, galvaniza, faz acabamento decorativo manual e assembla internamente todos os seus próprios relógios, permitindo que a marca dê vida às suas criações sem qualquer consternação decorrente da dependência de uma cadeia de abastecimento externo.

O Tribute1 é o modelo da Armin Strom com mostrador mais convencional | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O Tribute1 é o modelo da Armin Strom com mostrador mais convencional | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

É claro que há alguns fornecedores que são incontornáveis devido à especificidade, como é o caso das espirais (fornecidas pela Precision Engineering, a empresa pertencente à H. Moser & Cie); de resto, o empreendedor Serge Michel e o mestre relojoeiro Claude Greisler procuraram dotar a Armin Strom do máximo de autonomia possível. E esse índice de autonomia é muito mais elevado do que o de tantas outras manufaturas mais conhecidas, fabricando in-house 96% dos componentes dos seus calibres.

O Mirrored Force Resonance com os seus dois balanços associados por uma mola de embraiagem  | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O Mirrored Force Resonance com a identificativa lingueta minimalista na caixa às 6 horas | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

No total, a Armin Strom tem a trabalhar na sua sede de Biel/Bienne cerca de 38 pessoas (com uma média de idades à volta dos 29 anos) e produz anualmente quase 400 relógios (número que torna a marca exclusiva, para além de o primeiro preço ser condizente com esse estatuto). O atelier de decoração é particularmente importante, uma vez que a filosofia da marca consiste em mostrar o calibre mecânico tanto do lado do mostrador como do lado do fundo; afinal de contas, a alta-relojoaria tem mesmo a ver com o grau de acabamento de todos os componentes do movimento.

Sketches numa pareda da manufatura Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Sketches numa parede da manufatura Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

A Armin Strom tem também a capacidade de fazer galvanoplastia in-house com seis diferentes cores de acabamento (duas variantes de ouro amarelo, ouro rosa, níquel, ródio e ruténio). E depois há toda a parte da regulação fina feita por relojoeiros de topo. Tal como sucede na A. Lange & Söhne, cada relógio é assemblado, inspecionado e regulado; depois é totalmente desmontado, limpo e assemblado uma segunda vez para o apertado controlo final de qualidade. O número de calibres próprios vai aumentando — destacando-se movimentos mais especiais, como o do Mirrored Force Resonance, e mais simples, como os calibres manuais de cinco e oito dias de reserva de corda ou o calibre automático com três dias de autonomia.

O Armin Strom Orbit tem um original sistema de indicação da data na luneta | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O Armin Strom Orbit tem um original sistema de indicação da data na luneta | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Uma importante particularidade na Armin Strom é a capacidade de customização, tendo sido uma das primeiras marcas a estabelecer um Configurator que dava ao cliente a possibilidade de fazer a sua própria seleção de cores e tipos de acabamento online de modo a criar uma peça ao seu gosto — como no caso do Skeleton Pure. Para além da configuração descentrada nos mostradores, uma forte componente estética era a lingueta na caixa às 6 horas: foi idealizada pelo mestre Armin Strom para criar uma pequena área de personalização através da gravação de iniciais ou insígnia identificativa.

O One Week é o modelo de design integrado da Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O One Week é o modelo de design integrado da Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Recentemente, essa lingueta passou de mais protuberante a minimalista. A maior parte da crítica apreciou.

O caso Mirrored Force Resonance

A filosofia de transparência através da esqueletização e os calibres próprios contribuíram para a reputação da Armin Strom, mas a marca deu um salto significativo com a aplicação do fenómeno da ressonância no Mirrored Force Resonance; nos relógios dotados do conceito, é possível ver os dois órgãos reguladores independentes e simetricamente espelhados com os respetivos submostradores de pequenos segundos — mas mecanicamente conectados através de uma mola de embraiagem que parece uma espécie de grampo, ao contrário do que se verifica no Chronomètre à Résonance de François-Paul Journe. Os ponteiros dos segundos entram em ressonância ao equilibrar gradualmente as diferenças entre ambos até ficarem sincronizados. O utilizador pode reiniciar e sincronizar manualmente os dois indicadores de segundos por via do botão às 2 horas.

Cerveja Armin Strom e a entrevista com Claude Greisler | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Cerveja Armin Strom e a entrevista com Claude Greisler | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

O sistema foi gizado por Claude Greisler, que na sua juventude teve a oportunidade de trabalhar num relógio de pêndulo duplo de ressonância do lendário Antide Janvier e depois teve a oportunidade de abordar o fenómeno com o mestre Beat Haldimann, que reproduziu o relógio de pêndulo duplo de Antide Janvier. «Fui vê-lo, entre 2002 e 2003, e ele foi muito aberto naquele momento e explicou-me a sua experiência com o pêndulo duplo. Então voltei, fiz um pequeno artigo sobre o relógio de parede, terminei o meu trabalho de restauração e passei por outras complicações. Até me voltar a debruçar sobre a ressonância».

O Dual Time GMT Resonance apresenta uma configuração horizontal e caixa mais pequena de 39mm | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O Dual Time GMT Resonance apresenta uma nova configuração horizontal e caixa mais pequena de 39mm | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

E explica: «Há dois movimentos. Graças à mola da embraiagem, que se pode ver em movimento, ou a ‘respirar’, vão-se sincronizando. E cada movimento tem seu próprio ponteiro de segundos. Trabalham de forma inversa. É por isso que se chama ressonância de força espelhada, eles vão trabalhando de forma espelhada. E pode-se provar à vista que a ressonância está a acontecer. Ao usar o relógio, há uma aceleração qualquer devido a um gesto ou um choque; um acelera e o outro vai desacelerar de forma estável para depois entrarem em sincronia. O que ganhamos é uma precisão muito mais estável durante um longo período de tempo do que com apenas um balanço».

O Dual Time Resonance da Armin Strom na sua caixa sobredimensionada original | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O Dual Time Resonance da Armin Strom na sua caixa sobredimensionada original | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

A comparação com o sistema da F.P. Journe: «Não é uma crítica, mas não existe a conexão física que temos nos nossos relógios. Bem, o ar e a vibração também são físicos; digamos que é uma ressonância física natural graças ao ar e às vibrações. A nossa maneira de sincronizar os dois movimentos através de uma mola da embraiagem é única. É mecânica e mais estável. Essa é a maior diferença».

O fundo transparente mostra o calibre do Mirrored Force Resonance com a decoração Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O fundo transparente mostra o calibre do Mirrored Force Resonance com a decoração Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

O colecionador Michael J. Bierkuk, professor de física quântica na Universidade de Sydney, fez-nos anteriormente uma comparação entre os dois sistemas num artigo que publicamos em 2020. A última declinação do conceito da Armin Strom pode encontrar-se no Dual Time GMT Resonance, com uma nova caixa de dimensões compactas (39mm) e apresentação horizontal do sistema ‘espelhado’ — juntamente com dois mostradores para dois fusos horários distintos.

Tribute2, o mais recente

A mais recente novidade da Armin Strom é a nova iteração do Tribute — o Tribute2, tal como o Tribute1 de design menos openworked do que os restantes modelos da marca mas transmitindo uma notável sensação de tridimensionalidade. A versão Copper Edition apresenta um acabamento em grattage num elegante tom de cobre e está limitada a apenas 10 peças.

O novo Tribute2 da Armin Strom, lançado numa primeira versão Copper Edition | Foto: Armin Strom
O novo Tribute2 da Armin Strom, lançado numa primeira versão Copper Edition | Foto: Armin Strom

«O Tribute2 baseia-se no sucesso do Tribute1 lançado em 2021. Funde a relojoaria tradicional com o design contemporâneo, destacando os valores fundamentais da Armin Strom: mecânica transparente que exibe artisticamente os mecanismos internos, design tridimensional que proporciona profundidade visual através de vários níveis e pormenores intrincados do movimento com decoração meticulosa dos ponteiros», refere Claude Greisler. No processo de grattage, em vez de ser gravado, martelado ou polido, o material é meticulosamente raspado à mão para um padrão distinto e impressionante — e é uma forma de arte que apenas um punhado de artesãos ainda domina nos dias de hoje. O acabamento exclusivo é acentuado por um revestimento PVD de cor cobre.

Detalhe do Armin Strom Copper Edition | Foto: Armin Strom
Detalhe da mecânica vista no fundo do Armin Strom Copper Edition | Foto: Armin Strom

O mostrador cinza fumé descentrado confere profundidade adicional ao relógio com o seu gradiente subtil, sendo circundado por um anel de aço polido e chanfrado à mão. Os ponteiros e índices são revestidos em ouro rosa 18K 5N, acrescentando um tom contrastante quentes e conferindo um toque de sofisticação suplementar ao relógio. Cada abertura do movimento é chanfrada à mão, as rodas de enrolamento têm acabamento em granulação circular. A parte traseira do movimento distingue-se por uma ponte de três quartos visível através do fundo da caixa, apresentando um bisel polido à mão de 30°, adornado com Côtes de Genebra e finalizado com granulação circular.

Um dos departamentos da manufatura Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Um dos departamentos da manufatura Armin Strom | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

O movimento de corda manual AMW21 possui uma reserva de marcha de 100 horas graças ao seu design inovador, aumentando a eficiência e economizando espaço. Opera a uma frequência de 25.200 vibrações por hora e contém 21 joias. A caixa em aço de 38 mm de diâmetro por somente 9 mm de espessura tem a coroa posicionada às 2 horas para aumentar o conforto de utilização.

O edifício da manufatura Armin Strom em Biel/Bienne | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
O edifício da manufatura Armin Strom em Biel/Bienne | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Em Biel/Bienne, a Armin Strom mostrou-nos manter a crença do seu fundador. A de que um belo movimento mecânico, sendo uma obra de arte feita à mão, merece ser exibido — tanto de um lado como do outro.

 
 
 
 

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