Chopard, o L.U.C Grand Strike e um guia para as complicações acústicas

Prestes a comemorar o 30.º aniversário da inauguração da sua manufatura em Fleurier, a Chopard apresentou na Dubai Watch Week aquele que é mesmo o relógio mais complexo do seu historial. Aqui fica um artigo de fundo sobre a obra-prima desvelada e as complicações acústicas.

A Chopard vai celebrar o 30.º aniversário da Manufatura Chopard em 2026. Foi em 1996 que a casa fundada por Louis-Ulysse Chopard em 1860 — e propriedade da família Scheufele desde 1963 — inaugurou uma infraestrutura industrial em Fleurier destinada a confecionar calibres próprios de alta-relojoaria; no final de 2025, e por ocasião da recente Dubai Watch Week, a marca apresentou uma obra-prima que não só é o seu relógio acústico mais avançado de sempre como também pode ser o modelo mais complexo jamais saído dos seus ateliers. Trata-se do L.U.C Grand Strike, que junta uma grande sonnerie a um turbilhão.

Karl-FGriedric Scheufele apresenta a mais nova obra-prima da Chopard na Dubai Watch Week: o L.U.C Grand Strike | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Karl-Friedrich Scheufele apresenta a mais nova obra-prima da Chopard na Dubai Watch Week: o L.U.C Grand Strike | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

A história dos movimentos próprios da Chopard começou com a introdução do Calibre L.U.C 96.01-L, em 1996. Ao longo destas três décadas, a Manufatura Chopard sediada em Fleurier foi ganhando competências e tornando-se cada vez mais completa — dominando cada etapa da produção, desde calibres básicos até movimentos complexos, do acabamento manual fino às certificações de cronómetro, da usinagem de componentes às artesanato artístico. O trajeto da Manufatura Chopard, que complementa a outra base de produção situada no quartel-geral da marca nos arredores de Genebra, inclui inovações pioneiras, como gongos de cristal de safira em relógios de repetição, e práticas líderes no setor, como o uso de materiais de origem responsável. Hoje em dia, a coleção L.U.C de alta-relojoaria e os galardões conquistados no Grand Prix d’Horlogerie de Genève são um testemunho da visão a longo prazo e da gestão familiar da família Scheufele.

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L.U.C Grand Strike: grande e pequena sonnerie com turbilhão | Foto: Chopard

E o novo L.U.C Grand Strike pode valer mais prémios, para além dos encómios que já está a receber. Trata-se de uma obra-prima da engenharia mecânica desenvolvida inteiramente dentro das instalações da Manufatura Chopard — um relógio superlativo dotado de grande sonnerie, pequena sonnerie e repetidor de minutos com gongos de cristal de safira exclusivos. Representa o resultado de mais de 11.000 horas de pesquisa e desenvolvimento, baseando-se em dez patentes técnicas exclusivas — cinco das quais desenvolvidas especificamente para o modelo em questão. O seu desempenho mecânico e acústico é garantido não só por rigorosos testes internos, mas também por órgãos certificadores como o Poinçon de Genève e o COSC (Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres).

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Karl-Friedrich Scheufele e o L.U.C Grand Strike | Fotos: Chopard

Antes do mais, eis a listagem das patentes próprias (registradas e/ou concedidas) associadas ao L.U.C Grand Strike:

– Turbilhão de um minuto com construção otimizada para precisão

– Alavanca de âncora monobloco

– Balanço de inércia variável otimizado para facilidade de ajuste e redução de turbulência

– Tecnologia monobloco de safira com gongos e cristal do mostrador em uma construção monobloco de óxido de alumínio monocristalino sintético

– Mecanismo seguro de redução do tempo morto para o mecanismo de repetição

– Acionamento do mecanismo de repetição com segurança contra o uso indevido do botão*

– Mecanismo de segurança que protege contra discrepâncias de tempo durante múltiplas ativações da chave seletora de modo deslizante*

– Tambor do mecanismo de repetição com interruptor de freio para eficiência energética otimizada*

– Tambor do mecanismo de repetição com limite de energia para evitar golpes parciais resultantes de torque insuficiente do tambor*

– Martelos de repetição de massa reduzida com geometria antichoque*

Três décadas de inovação

O design do L.U.C Grand Strike é uma fusão de formas tradicionais com estética moderna, combinando curvas discretas com um mostrador transparente que coloca o Calibre L.U.C 08.03-L de 686 componentes em destaque. «Sempre foi nossa intenção conceber uma grande sonnerie na Chopard. O L.U.C Grand Strike representa 30 anos dedicados à criação e inovação no domínio da alta relojoaria», sublinha Karl-Friedrich Scheufele, copresidente da Chopard juntamente com a irmã Caroline Scheufele. O L.U.C Grand Strike também é herdeiro de 10 anos de tecnologia assente em monoblocos de safira.

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Um microcosmos mecânico que representa o mais complexo relógio da casa genebrina | Foto: Chopard

Numa estrutura em ouro branco ético de 18 quilates com apenas (para a complexidade) 43 mm de diâmetro, o mostrador aberto mostra uma grande parte do Calibre L.U.C 08.03-L. A metade inferior do mostrador é ocupada por um turbilhão de 60 segundos, um lembrete visual da precisão certificada pelo COSC. Às 10 horas, dois martelos de aço polido indicam claramente a vocação acústica do L.U.C Grand Strike — que pode ser ajustada para três modos de sonnerie: Grande Sonnerie (G), Petite Sonnerie (P) e Silêncio (S), através de um seletor deslizante ergonomicamente localizado perto da coroa.

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O Calibre L.U.C 08.03-L e o L.U.C Grand Strike são o cúmulo de mais de 11.000 horas de pesquisa e desenvolvimento | Foto: Chopard

Os gongos de cristal de safira patenteados são usinados numa peça única, integrados no mostrador. Essa construção inédita dos gongos no cristal de safira é o que confere ao L.U.C Grand Strike seu caráter acústico inigualável. Para além dos gongos de safira, outras nove patentes registadas e/ou concedidas foram empregadas na criação do L.U.C Grand Strike e abrangem todos os aspetos do seu funcionamento — desde mecanismos de segurança que protegem o movimento contra o uso acidental até melhorias na cadência da repetição. Cinco dessas patentes são novos pedidos que foram desenvolvidos especificamente para o L.U.C Grand Strike.

Legado sonoro

Desde o novo milénio que Karl-Friedrich Scheufele investiu nas complicações acústicas, que representam uma dimensão suplementar no campo da relojoaria tradicional. E logo depois do lançamento do L.U.C Strike One, em 2006, começou a discutir com a sua equipa de R&D o desenvolvimento de um movimento de grande sonnerie. Adquirir as competências internas necessárias era um objetivo ambicioso; chegar à verdadeira inovação era algo ainda mais distante. Mas, pouco a pouco, foi-se aproximando do seu desiderato através de complicadas peças tradicionais, como o L.U.C All-In-One (2010), ou de abordagem vanguardista, como o L.U.C 8HF (2012).

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O movimento do L.U.C Grand Strike é formado por 686 componentes | Fotos: Chopard

Cada um dos intrincados sistemas mecânicos que formam o calibre L.U.C 08.03-L foi uma herança do tal trajeto da Manufatura Chopard. A construção de múltiplos tambores, que sustenta todos os relógios com sonnerie, foi aprimorada pelo conhecimento adquirido na criação de peças virtuosas com sistemas avançados de distribuição de energia, como o L.U.C Quattro de quatro tambores. O turbilhão de 60 segundos do L.U.C Grand Strike deve os seus padrões de desempenho à experiência interna adquirida com a família de movimentos de turbilhão L.U.C 02. Até mesmo a ativação instantânea da sonnerie foi refinada com a experiência adquirida na construção de calendários complexos, como o L.U.C Lunar One.

O l.U.C Full Strike que ganhou o Grand Prix d’Horlogerie de 2017 | Foto: Chopard

Em 2016, o repetidor de minutos L.U.C Full Strike apresentou ao mundo algo de novo: pela primeira vez na história da relojoaria, um relógio com mecanismo de repetição soava as horas, os quartos de hora e os minutos em gongos de cristal de safira — em vez de aço. As propriedades acústicas do cristal de safira, tecnicamente conhecido como óxido de alumínio monocristalino, já eram conhecidas há muito tempo; no entanto, a sua natureza delicada implicava que os gongos de cristal de safira seriam impraticáveis. Até que a Manufatura Chopard provou que não, sendo agraciada com a principal estatueta (o Aiguille d’Or) no Grand Prix d’Horlogerie de Genève de 2017.

Calibre L.U.C 08.03-L

O L.U.C Grand Strike apresenta a mais sublime das complicações acústicas. A grande sonnerie toca todas as horas e quartos de hora à medida que passam, sendo que o modo acústico pode ser alterado para o modo pequena sonnerie — que toca as horas apenas aos 60 minutos e, a partir daí, somente os quartos de hora a cada 15 minutos. Ou mesmo completamente silenciado, fazendo soar o tempo apenas quando a função de repetição de minutos for ativada manualmente.

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O L.U.C Grand Strike é alimentado pelo Calibre L.U.C 08.03-L | Foto: Chopard

A cada ativação manual (repetidor de minutos) ou automática (grande ou pequena sonnerie) do mecanismo de repetição, 34 componentes entram em ação, prontos para fornecer uma indicação clara e precisa das horas. Guiados ou mantidos em posição por um conjunto de 22 molas de lâmina ajustadas manualmente, esses 34 componentes precisam de somente 0,03 segundos para passar do repouso à ação: as alavancas descem, as cames estendem-se e as cremalheiras avançam — culminando no momento em que o martelo encontra o gongo e a função acústica se faz ouvir.

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O mostrador transparente deixa ver a complexidade mecânica do L.U.C Grand Strike | Foto: Chopard

Apesar da enorme quantidade de componentes e da sua gama completa de complicações de repetição — sem mencionar o turbilhão e as funções de cronometragem subjacentes — o diâmetro do L.U.C Grand Strike é de apenas 43mm e a sua espessura apresenta ‘somente’ 14,08mm. Um pequeno milagre na relojoaria contemporânea, que exige eficiência em dimensões e energia. Para isso, o Calibre L.U.C 08.03-L possui dois tambores de corda, um para as funções cronométricas e outro separado para as complicações de repetição. Quando totalmente carregado, o tambor de repetição proporciona 12 horas de funcionamento ininterrupto no modo de grande sonnerie. A reserva de carga principal de 70 horas também é notável para um relógio tão complexo, especialmente considerando a frequência do seu balanço — que vibra a 4 Hz (28.800 vph), um padrão mais habitual em relógios desportivos mas considerado alto para um relógio de tal complexidade mecânica.

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Decoração à mão dos componentes do movimento do L.U.C Grand Strike | Fotos: Chopard

Para além disso, o L.U.C Grand Strike também foi construído para resistir ao teste do tempo. Desde a fase de protótipo, o controle de qualidade interno do L.U.C Grand Strike na Manufatura Chopard envolve 62.400 ativações da sonnerie (metade em cada modo de sonnerie) num processo acelerado que simula cinco anos de uso em apenas três meses. Nesse período, o repetidor de minutos também é ativado continuamente por meio do botão da coroa — 3.000 vezes para garantir que o movimento suporte o uso prolongado. Ao todo, os gongos de cristal de safira são percutidos mais de meio milhão de vezes durante esses testes rigorosos!

Som cristalino

A Chopard trabalhou em estreita colaboração com a Haute Ecole du Paysage, d’Ingénierie et d’Architecture (HEPIA), uma universidade de engenharia em Genebra, para analisar as caraterísticas técnicas do seu mecanismo de toque com cristal de safira.

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No L.U.C Grand Strike, os gongos integram o vidro de safira | Fotos: Chopard

Em primeiro lugar, destaca-se a sua construção monobloco. Os relógios de repetição convencionais utilizam gongos de aço polido com secção transversal circular, fixados ao mecanismo por parafusos. O tradicional som da sonnerie é produzido quando os martelos golpeiam os gongos, fazendo com que transmitam energia acústica sob a forma de ondas vibratórias por todo o relógio, viajando através do cristal do mostrador e propagando o som pelo ar. Esse método indireto de transmissão sonora resulta em perdas de energia em vários pontos, através das fixações dos gongos, do mecanismo e até mesmo da própria caixa que atenuam o som geral. O sistema de repetição patenteado da Chopard combina os gongos e o cristal do mostrador, usinados a partir de uma única peça de safira. Quando os gongos de cristal de safira são golpeados, vibram em conjunto com o cristal do mostrador, canalizando o som diretamente para o exterior do relógio e evitando a dissipação de energia através do mecanismo ou da caixa. Resultado: o som ganha em clareza e pureza tonal.

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Botão na coroa e alavanca de acionamento discretamente colocada no flanco da caixa do L.U.C Grand Strike | Fotos: Chopard

Em segundo lugar, há a geometria dos gongos de cristal de safira. Em vez da seção transversal circular vista nos gongos de aço tradicionais, os gongos de cristal de safira têm uma seção transversal ortogonal (quadrada). Baseado nos princípios da transmissão de energia cinética, isso permite uma área de contato maior entre os martelos da sonnerie e os gongos. Além desse maior potencial para transferência eficiente de energia, os gongos com secção transversal quadrada também apresentam propriedades acústicas que os diferenciam dos gongos com secção transversal circular. Os ângulos retos ao longo do comprimento do gongo servem para canalizar e direcionar as ondas sonoras em modos distintos de vibração, de forma comparável a como as lentes polarizadas canalizam e direcionam os comprimentos de onda da luz. Esse complexo padrão vibratório cria um som rico e multifacetado, simultaneamente harmonioso e texturado para o ouvido.

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O selo L.U.C é a marca distintiva da alta-relojoaria da Chopard | Foto: Chopard

Em terceiro lugar, a própria estrutura atómica do cristal de safira confere a todas as sonneries Chopard atualmente em produção uma qualidade inconfundível. Brilhante e ressonante, o som produzido pela estrutura monocristalina desses gongos é incomparável a qualquer outra equivalente em aço. A excecional dureza do cristal de safira (atrás somente do diamante) garante também que, ao contrário do metal, não possa ser deformado fisicamente.

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Apropriadamente, as notas tocadas pelo L.U.C Grand Strike são afinadas para produzir um acorde de Dó sustenido – Fá sustenido, um intervalo musical que a mente interpreta como transmissor de estabilidade e unidade. Para aumentar a capacidade do mecanismo de suportar esse toque excepcional, cinco novas patentes foram especificamente desenvolvidas e registradas pela Manufatura Chopard. Duas dizem respeito à segurança de uso, permitindo que o usuário ative o mecanismo de toque a qualquer momento sem danificar o mecanismo e alterne entre os modos de toque sem introduzir imprecisões na exibição da hora. Essas patentes ilustram a atenção dedicada à construção de um relógio para uso intuitivo no dia a dia.

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As outras três novas patentes focam-se estritamente na otimização do desempenho. Foi criado um novo mecanismo de embraiagem energeticamente eficiente para reduzir o torque necessário para acionar o toque da sonnerie, prolongando efetivamente a reserva de energia do tambor da sonnerie. Outra patente dedica-se a um mecanismo que bloqueia a ativação da sonnerie caso o torque seja insuficiente, evitando assim a possibilidade de um toque incompleto ou parcial. A última das três novas patentes redefine a geometria dos martelos de percussão, alterando o seu momento de inércia para minimizar qualquer impacto potencialmente danoso nos gongos de cristal de safira, caso ocorra um choque acidental.

Forma e função em harmonia

O equilíbrio sofisticado do L.U.C Grand Strike reflete-se em aspetos tangíveis, como as proporções extremamente confortáveis ​​para o pulso, mas não faltam pormenores intangíveis que aprimoram a experiência de usar o L.U.C Grand Strike no pulso.

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Como contraponto e complemento ao inovador sistema de repetição com cristal de safira, as placas e pontes do movimento são em apaca/prata alemã tradicional (maillechort) — uma liga com longa história na relojoaria e que é admirada pela tonalidade quente que desenvolve como patina ao longo do tempo. Os componentes exteriores são uma sinfonia de superfícies e acabamentos perfeitamente calibrados, desde a secção central da caixa em acabamento acetinado que realça o brilho suave e natural do ouro branco, até à caixa tipo bassiné, concebida com uma ligeira curvatura em direção ao fundo para que arquitetura se adapte melhor aos contornos do pulso.

As três novas complicações acústicas da Chopard: o L.U.C Full Strike Tourbillon, L.U.C Full Strike Sapphire e o L.U.C Strike One.
Três novas complicações acústicas lançadas em 2022: o L.U.C Full Strike Tourbillon, L.U.C Full Strike Sapphire e o L.U.C Strike One | Foto: Chopard

Mas aquilo que não se vê é o mais importante. O lado acústico. A música e a relojoaria compartilham a mesma alma — duas artes que elevam e inspiram, com a capacidade de comunicar o sublime através de regras matemáticas. Não é de admirar que as criações que melhor representam essa comunhão — os relógios com mecanismo de repetição — sejam reverenciadas como o ápice da arte relojoeira, porque simbolizam a relojoaria na sua forma mais transcendente. Como sucede no L.U.C Grand Strike.

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