Girard-Perregaux e a relojoaria astrofísica

A Girard-Perregaux tem-se destacado com extraordinários exemplares de alta-relojoaria dotados de múltiplas complicações. Experimentámos em Lisboa um conjunto de fascinantes obras-primas da histórica manufatura — um quarteto cósmico de luxo inspirado em jogos de luz e nas movimentações cósmicas.

Tivemos recentemente entre mãos o Laureato Absolute Light, a mais fresca criação de ponta da Girard-Perregaux que foi apresentada durante a Dubai Watch Week no final do ano passado. Em Lisboa, a equipa da Espiral do Tempo teve a oportunidade de estar em contacto direto com outras grandes realizações da Girard-Perregaux num encontro promovido por Vahe Vartzbed (responsável de alta-relojoaria da marca) e por Angel Iborra (responsável do mercado ibérico).

© Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Alta-relojoaria, jogos de luz e movimentações cósmicas © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Nessa apresentação, quatro modelos da Girard-Perregaux lançados ao longo dos últimos dois anos assumiram merecido protagonismo pela sua complexidade e espetacularidade. O Planetarium Triaxial e o Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon já tinham sido revelados em 2018, enquanto o Bridges Cosmos e o Quasar foram respetivamente desvelados no Salon International de la Haute Horlogerie e no Miami Watches & Wonders de 2019. Um quarteto de respeito bem revelador de toda a competência técnica da histórica manufatura de La Chaux-de-Fonds e que também se evidencia pela sua impactante estética. Aqui fica o perfil de cada um desses quatro extraordinários exemplares de alta-relojoaria.

Girard-Perregaux Laureato Absolute Light © Girard-Perregaux
Girard-Perregaux Laureato Absolute Light © Girard-Perregaux

Tempo de Quasar

O Bridges Quasar é o único do quarteto a não incluir complicações múltiplas, embora se trate de um complexo exercício de estilo que deve a sua dificuldade de execução à inclusão do turbilhão num movimento esqueletizado integrado numa caixa transparente em vidro de safira — uma estrutura que abriu caminho para o Laureato Absolute Light, a mais recente obra-prima da marca referida no início do texto. O Quasar deve o seu nome a uma região ultra-luminosa no centro da galáxia e o resultado é especialmente brilhante, sendo integrado numa mini-coleção da Girard-Perregaux designada ‘Earth to Sky’ (Da Terra ao Céu) e particularmente inspirada pelo cosmos.

Girard-Perregaux Quasar © Girard-Perregaux
Bridges Quasar: a entrada de luz através da estrutura transparente dá ao conjunto uma iluminação única © Girard-Perregaux

Patenteada em 1884, a construção das três pontes de ouro tornou-se emblemática da sofisticação relojoeira da Girard-Perregaux. Em 2007 foi desvelado um Laureato com três pontes de safira que ofereceu ao secular conceito um enquadramento mais desportivo e em 2015 foi lançado o Neo-Tourbillon para dar um estilo mais contemporâneo a essa tradicional arquitetura das três pontes de ouro, servindo precisamente de base ao Quasar. Uma caixa em vidro de safira com 46 milímetros de diâmetro alberga o Calibre GP9400-1035, uma versão do Calibre 9400 sem platina que deixa o movimento quase a flutuar no espaço — sendo apenas discretamente apoiado em pontos estratégicos para manter a ilusão da suspensão absoluta.

Girard-Perregaux Quasar: a caixa em vidro de safira é de concepção extremamente difícil devido à mínima margem para erro existente — sendo somente possível de ser trabalhada com ferramentas em ponta de diamante. © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Quasar: a caixa em vidro de safira só pode ser trabalhada com ferramentas em ponta de diamante. © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

A gaiola do turbilhão é formada por 80 componentes, pesando somente 0,250 gramas no total. As pontes em titânio destacam-se pelo acabamento microbillé escurecido a negro via PVD. A entrada de luz através da estrutura transparente dá ao conjunto uma iluminação única; a caixa em vidro de safira é de concepção extremamente difícil devido à mínima margem para erro existente — sendo somente possível de ser trabalhada com ferramentas em ponta de diamante.

Girard-Perregaux Quasar © Girard-Perregaux
Bridges Quasar © Girard-Perregaux

O celestial Bridges Cosmos

Outra das obras-primas apresentadas em 2019 apresenta-se ainda mais complexa — trata-se do Bridges Cosmos, motorizado pelo calibre GP09320-1098 de corda manual com 60 horas de autonomia e já por nós analisado há cerca de um ano. Dotado de uma caixa de 48 milímetros em titânio acetinado sem coroa lateral e com um vidro tingido pronunciadamente abobadado sobre o mostrador em safira metalizada, personifica a ponte entre a terra e o céu, o visível e o invisível. E seduz pelos seus dois eixos, um longitudinal e outro horizontal.

Girard-Perregaux Bridges Cosmos: personifica a ponte entre a terra e o céu, o visível e o invisível. E seduz pelos seus dois eixos, um longitudinal e outro horizontal © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo
Bridges Cosmos: personifica a ponte entre a terra e o céu, o visível e o invisível © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo

O olhar é primeiramente capturado pela volumetria dos globos tridimensionais às 3 e às 9 horas. Às 3 horas, um globo terrestre fornece a indicação dia/noite da hora local e uma escala de 24 horas, junto ao seu equador, permite uma leitura do GMT. Às 9 horas um globo azul, também de titânio e gravado por laser, representa o cosmos e roda a cada 23 horas, 58 minutos e 4 segundos (o tempo exato de um dia sideral), centrando-se nas mais visíveis formações de estrelas do zodíaco — que, graças a partículas luminescentes, se apresenta brilhante em condições de luz mais precárias.

Girard-Perregaux Bridges Cosmos © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Bridges Cosmos: caixa de 48 milímetros em titânio acetinado e com um vidro tingido pronunciadamente abobadado © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

O eixo vertical contempla um submostrador para as horas e os minutos localizado no topo superior do mostrador, às 12 horas, e um turbilhão Néo de concepção vanguardista suportado por uma ponte estilizada, às 6 horas. O acerto das várias funções/indicações é efetuado através do verso de um relógio verdadeiramente estratosférico.

Girard-Perregaux Bridges Cosmos © Girard-Perregaux
Bridges Cosmos em perspetiva noturna © Girard-Perregaux

Soberbo Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon

Estreado em 2018, o Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon exemplifica de modo perfeito a abordagem contemporânea da Girard-Perregaux às grandes complicações relojoeiras — combinando a função de repetidor de minutos com um turbilhão que roda em três eixos. E com um visual extremamente atrativo, sendo claramente um dos relógios favoritos da marca.

Girard-Perregaux Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Girard-Perregaux Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon © Girard-Perregaux
Uma abordagem contemporânea de alta-relojoaria que combina um repetidor de minutos com um turbilhão que roda em três eixos. © Girard-Perregaux

A imponente caixa de 48 milímetros de diâmetro é esculpida em titânio, para que a acústica seja mais apurada devido à relação entre o tamanho e a densidade; toda a estrutura foi pensada precisamente para que o som seja potenciado e propagado de modo ideal, começando logo pelo facto de o calibre ‘encher’ perfeitamente a caixa sem qualquer folga ou preenchimento suplementar. A combinação entre a platina e a caixa favorece a propagação do som, numa construção frontal que dispensa a ligação física entre o gongo e o exterior do relógio e que também facilita depois a manutenção/revisão do mecanismo quando necessária.

Girard-Perregaux Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon e Planetarium Tri-Axial © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo
Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon e Planetarium Tri-Axial © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo

A motorização do Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon assenta no sofisticado calibre GP09560-0001 de corda manual, dotado de um mínimo de 60 horas de reserva de corda. Que pode ser admirado através de dois vidros do tipo ‘box’: dois vidros de safira côncavos trabalhados para sobressaírem da caixa e com tratamento antirreflexo para melhorar a vista sobre o âmago de tão complexo relógio, possibilitando uma experiência quase tridimensional ao utilizador tendo em conta a construção do movimento e a possibilidade de acompanhar o seu funcionamento. Porque o mostrador foi substituído por submostradores às 9 e às 3 horas (um para as horas, outro para os minutos), sendo possível ver em ação os martelos e todo o processo do repetidor de minutos. Quanto ao turbilhão, colocado numa gaiola com 1,24 gramas de peso e um total de 140 componentes, roda sobre si próprio em três eixos distintos e três diferentes velocidades (dois minutos, um minuto e 30 segundos).

Girard-Perregaux Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon © Girard-Perregaux
Obra prima: o Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon © Girard-Perregaux

A assimetria do Planetarium Tri-Axial Tourbillon

Do quarteto em análise, o Planetarium Tri-Axial Tourbillon foi o primeiro modelo a ser apresentado — e também é aquele que atualmente surge declinado em mais versões: uma de caixa em ouro rosa com mostrador em aventurina azul, outra em ouro rosa com mostrador em ouro rosa gravado, uma variante joalheira com diamantes incrustados na caixa em ouro rosa, e uma nova declinação em ouro branco com mostrador em aventurina preta que faz parte da subcolecção temática Earth to Sky.

Girard-Perregaux Planetarium Tri-Axial Tourbillon © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo
Em primeiro plano: duas versões do Planetarium Tri-Axial Tourbillon © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo

As duas edições dotadas de mostrador em aventurina sobressaem precisamente porque a escolha específica da aventurina reforça o caráter estelar da peça, que inclui um dos poucos turbilhões tri-axiais da indústria relojoeira para acompanhar a indicação das fases da lua e um globo em três dimensões que replica a rotação da terra em 24 horas. Na primeira versão, a esfera de titânio tem uma gravação miniaturizada à mão em tons dourados representativo de antigos mapas terrestres do século XVII. A outra versão, mais recente, apresenta os tons mais contemporâneos dos exemplares com a chancela Earth to Sky — e a representação da terra coloca em destaque o azul dos oceanos para combinar com o céu azulado da indicação das fases da lua.

Girard-Perregaux Planetarium Tri-Axial Earth to Sky © Girard-Perregaux
O Planetarium Tri-Axial Earth to Sky com caixa em ouro branco © Girard-Perregaux

As quatro variantes assentam numa caixa de 48 milímetros que apresenta a singularidade de dispor de uma janela lateral em vidro de safira para um ângulo suplementar de visão sobre o turbilhão. E todas elas são alimentadas pelo mesmo calibre GP09310-0002, formado por 386 componentes e dotado de 64 horas de reserva de marcha. Vários detalhes e acabamentos do movimento de corda manual são típicos da Girard-Perregaux: desde as pontas em seta no fundo visível através do vidro de safira até o formato em lira da gaiola do turbilhão, passando pela águia gravada que tem sido usada pela manufatura desde 1867.


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