Foi no contexto da oitava edição do Estoril Classics que a Cuervo y Sobrinos desvelou uma edição limitada idealizada em Portugal e inspirada na primeira vitória de Ayrton Senna num Grande Prémio de Fórmula 1 — ocorrida precisamente no Autódromo do Estoril, em 1985.
O Autódromo do Estoril acolheu no passado fim-de-semana a 8.ª edição do Estoril Classics — um verdadeiro festival motorizado que passa por ser o único a reunir no mesmo local competições internacionais das principais disciplinas dos automóveis clássicos: Formula 1, Sports Cars e GTs. Estiveram inscritas centenas de equipas, com a programação a ser distribuída pelas grelhas de Classic Formula 1, Classic Touring Challenge, Classic Endurance Racing, Endurance Racing Legends, Heritage Touring Cup, Sixties´ Endurance, 2.0 Litre Cup, Iberian Historic Endurance e Gentlemen Challenge. Um fartote para os amantes do desporto sobre rodas. E também para os aficionados de relógios.
Onde há desporto motorizado há sempre bons relógios à vista. E isso voltou a acontecer no Autódromo do Estoril, não só no pulso dos pilotos como dos muitos espetadores presentes — apesar de uma meteorologia cinzentona que contrastou com as ensolaradas edições anteriores. Mas também devido à preponderante presença da Cuervo y Sobrinos. A marca suíça de relógios, fundada em 1882 pelo asturiano Ramón Fernández Cuervo nos tempos áureos de Havana, tem estado intimamente associada às competições de clássicos praticamente desde o seu renascimento, seja por via do patrocínio a várias disciplinas e pilotos ou através de tiragens limitadas associadas ao passado épico das corridas automóveis. Como sucede nas duas edições ‘Nino Farina’ em homenagem ao primeiro campeão de Formula 1 que foi Giuseppe Farina, na edição ‘Gran Prémio de Cuba 1957’ ou na edição ‘Historic Endurance’ do ano passado, apresentada precisamente durante o Estoril Classics de 2023.
Este ano, o Estoril Classics voltou a ser palco de uma estreia mundial da Cuervo y Sobrinos: o Historiador Cronógrafo ‘Estoril’. Um belo exemplar cronográfico que será comercializado em todo o mundo e que teve origem portuguesa. João Saraiva, responsável pela empresa distribuidora da marca em Portugal, manifestou o desejo de ter uma edição limitada associada ao Estoril Classics; e foi num almoço nos arredores de Sintra, em fevereiro deste ano, que a ideia ficou materializada.
Era preciso escolher uma cor diferente de outras edições temáticas lançadas pela Cuervo y Sobrinos e estabelecer uma ligação emocional ao evento. Surgiu então a recordação das cores do bólide com que o campeoníssimo Ayrton Senna ganhou o primeiro dos seus 41 Grandes Prémios de Fórmula 1 — precisamente no Autódromo do Estoril, num chuvoso dia de abril de 1985.
Historiador Cronógrafo ‘Estoril’
Durante esse mesmo almoço, Massimo Rossi (CEO da Cuervo y Sobrinos) enviou fotografias do emblemático Lotus 97T com os tons preto e dourado da John Player Special para o seu designer e logo nos dias seguintes ficou alinhavado o desenho de base. Se à partida a edição limitada sairia da linha Historiador, também ficou logo decidido o tamanho de caixa: um diâmetro de 42mm, para se diferenciar dos 40mm da edição ‘Historic Endurance’ lançada um ano antes.
A motorização também é diferente, com um movimento cronográfico integrado de base Valjoux 7753 para uma configuração de três submostradores (relativamente pequenos, à moda dos anos 80) — em vez do calibre modular e mostrador bicompax da edição de 2023. Também os botões da função cronográfica são do tipo cogumelo, em vez de forma retangular. E a coroa tem uma proteção circundante. Depois foi uma questão de afinar as cores tornadas famosas por um dos mais emblemáticos carros de sempre na história da Fórmula 1.
Primeiro, tornou-se necessário decidir se o submostrador dos pequenos segundos (segundos contínuos) teria um tom diferente dos restantes submostradores afetos à função cronográfica — os totalizadores dos minutos e das horas. Ao contrário de outras edições (como as ‘Nino Farina’ e ‘Gran Prémio de Cuba‘ de 2022), manteve-se o mesmo tom nos três submostradores com alguns elementos gráficos diferenciadores. Seguidamente foi preciso encontrar a tonalidade mais adequada para o dourado, optando-se por um tom creme matizado mais discreto.
Enquanto os ponteiros centrais prateados das horas e dos minutos e o ponteiro do submostrador de pequenos segundos contínuos às 9 horas são em forma de folha, os ponteiros colocados nos totalizadores de 30 minutos e de 12 horas são apresentados em preto com uma ponta triangular proeminente. O ponteiro cronográfico de eixo central (segundos) combina com a cor dos contadores. A escala taquimétrica na orla é apresentada sobre um fundo preto, aumentando a legibilidade, ao passo que a escala telemétrica surge num anel dourado. O termo ‘Taquimetro’, idêntico em português e espanhol, presta homenagem à natureza ibérica da corridas Historic Endurance. E, simultaneamente, ao idioma do país que inspirou a edição e do país onde a marca foi fundada.
Coincidentemente, houve um Lotus 97T de 1985 com as cores John Player Special a correr na respetiva disciplina de Fórmula 1 no Estoril Classics. A par de um Lotus 97T em miniatura presente no stand da Cuervo y Sobrinos. Ambos serviram para proporcionar belas fotografias temáticas com o Historiador Cronógrafo ‘Estoril’, um relógio especial de corrida limitado a 88 exemplares numerados individualmente… dos quais já só estão disponíveis uma vintena. Quem gostar do relógio e/ou for adepto do malogrado Ayrton Senna, que passa por ser um dos melhores pilotos de todos os tempos apesar da sua morte prematura, vai ter mesmo de acelerar o processo de aquisição. Ou não verá nunca a bandeira de chegada.
O fundo em vidro de safira ostenta a ilustração do traçado de 4.182 km do Circuito do Estoril e as gravações alusivas à edição limitada, com a respetiva numeração individual (01/88, sendo 1988 o ano do primeiro título mundial de pilotos de Ayrton Senna); a transparência permite entrever o Calibre CYS 8100 de corda automática e respetiva massa oscilante.
Cores e Corridas
A Cuervo y Sobrinos celebrou o 130.º aniversário em 2012 com a criação da linha Historiador, inspirada num modelo seu de 1946 com asas de gota. E tem escolhido compreensivelmente a linha Historiador (que entretanto se tornou a best-seller do catálogo) para uma sua reinterpretação histórica do automobilismo através de interessantes combinações cromáticas e estilo rétro. Exatamente as características que têm distinguido a coleção da marca latino-helvética no atual contexto relojoeiro, desde a linha Buceador de mergulho à atualizada linha Robusto. Mas, no caso particular das edições Historiador associadas ao universo das corridas clássicas, as cores surgem do impressionante caleidoscópio proporcionado pelas centenas de combinações decorativas nos carros em compita.
Historicamente, os carros oriundos de um determinado país tinham uma cor específica para se diferenciarem das viaturas dos outros países nos primórdios das competições automobilísticas — os ingleses eram verdes (daí a referência British Racing Green), os italianos vermelho-sangue (que ficou a cor da Ferrari), os alemães cinza prateado (tão ligado à Mercedes)… e por aí fora. Até que começaram a surgir as racing stripes e as cores dos patrocinadores que entretanto começaram a surgir, associadas às próprias cores das escuderias ou da preferência dos pilotos/donos.
Os relógios inspirados pelos desportos motorizados sempre foram os mais coloridos e mesmo os mais vanguardistas. A alta tecnologia da Fórmula 1 ou das principais disciplinas de resistência inspirou muitas marcas relojoeiras tradicionais e até levou ao nascimento de algumas mais modernas; depois há os mitos associados a corridas lendárias (algumas delas ressuscitadas) e os cada vez mais populares circuitos dedicados a bólides rétro (com múltiplas categorias), como se pode constatar todos os anos no Autódromo do Estoril e no Circuito de Portimão. E o CEO da Cuervo y Sobrinos, Massimo Rossi, faz questão de marcar sempre presença nas corridas Historic Endurance tanto no Estoril como em Portimão. Também porque aprecia Portugal, não sendo por acaso que tem casa de férias no Algarve…
Para além do novo ‘Estoril’, estiveram igualmente em exibição no stand da Cuervo y Sobrinos no Autódromo do Estoril outros três cronógrafos Historiador. O Historiador ‘Nino Farina’, dedicado ao mítico Giuseppe ‘Nino’ Farina que ganhou o inaugural Campeonato do Mundo de Fórmula 1, vai já na segunda leva e a edição de 2024 é ainda mais apelativa do que a de 2022: volta a inspirar-se no fato de corrida do lendário piloto italiano (azul claro, com pequenos apontamentos verdes e vermelhos), mas numa caixa relativamente mais pequena com 40mm de diâmetro. Os outros dois Cronógrafos Historiador, também com caixas de 40mm de diâmetro, estão associados a um clube de carros clássicos de Havana; ostentam mostradores bicompax com cores vivas azul ou verde e submostradores pretos.
A marca de coração suíço (fabrico e movimentos mecânicos) e alma latina (fundação e inspiração) oferece um relógio Historiador exclusivo ao vencedor do Índice de Performance de cada prova Historic Endurance. Mais do que valorizar o primeiro concorrente a cruzar a meta, tal índice valoriza o melhor desempenho global de acordo com a idade, cilindrada e tipo de carro (Touring, GT ou Sport).
A associação da linha Historiador às corridas de clássicos é pertinente e evidente, porque é formada por relógios de uma fragrância vintage perfeitamente condizente com a respetiva inspiração histórica, embora com uma interpretação moderna: a arquitetura típica das asas em forma de gota ou lágrima dos relógios das décadas de 40 e 50 é executada com uma estilização contemporânea mais robusta. Obviamente que a linha Historiador se apresentava como a mais adequada da Cuervo y Sobrinos para personificar os relógios comemorativos dos grandes feitos da história do automobilismo no século XX.
E depois há toda uma equivalência mecânica com a relojoaria. O desporto motorizado sempre serviu de fonte de inspiração para a indústria relojoeira. Afinal de contas, existe uma afinidade mecânica entre os dois universos e as marcas de relógios mais antigas responderam de imediato às necessidades de instrumentação nos primórdios do automóvel, gerando-se em muitos casos uma ligação que permaneceu visível nos tabliers durante décadas e que nos últimos cinquenta anos foi reforçada com parcerias institucionais ou ocasionais. A da Cuervo y Sobrinos com o circuito Historic Endurance está para durar.
A Espiral do Tempo, por cortesia da Cuervo y Sobrinos e da sua distribuidora portuguesa Importempo, convidou alguns amigos da revista a marcarem presença no Autódromo do Estoril para a oitava edição do Estoril Classics; à semelhança do ano passado, Bruno Candeias contribuiu para a reportagem fotográfica deste artigo, tal como João Pedro Alves. Ambos tiveram algumas imagens suas selecionadas para publicações da marca no Instagram.
Para o ano haverá mais… antes disso, e ainda este ano, a Cuervo y Sobrinos voltará a estar presente noutras etapas Historic Endurance agendadas para o Circuito de Portimão (26-27 de outubro, Algarve Classic Festival) e para o Autódromo do Estoril (30 de novembro e 1 de dezembro, Estoril Endurance Festival).
Algumas caraterísticas técnicas:
Cuervo y Sobrinos
Historiador Cronógrafo ‘Estoril’
Referência | 3142.1E, edição limitada a 88 peças
Ano de lançamento | 2024
Movimento | Corda automática Calibre CYS 8100, base Valjoux 7753. 27 rubis, 28.800 alt/h. Massa oscilante decorada com gravação, 48 horas de reserva de marcha.
Mostrador | Preto com três submostradores dourados contrastantes. Escalas taquímetrica e telemétrica na periferia. Janela para a data às 6h. Ponteiros principais em forma de folha com material luminescente Super-LumiNova.
Funções | Horas, minutos, pequenos segundos, data, cronógrafo com contador de segundos, minutos e horas.
Caixa ø 42 mm | Aço inoxidável. Vidro de safira com dupla curvatura e revestimento antirreflexo. Fundo transparente em vidro de safira, com a referência ao Circuito do Estoril no vidro. Numeração individual 0/88 gravada. Estanque até 30 metros.
Preço | 4.400 €
