O Autódromo do Estoril acolheu mais uma edição do Estoril Classics, um autêntico festival de corridas protagonizadas por máquinas que marcaram a história do desporto motorizado. A Cuervo y Sobrinos associou-se à competição Historic Endurance e mostrou algumas das suas novidades — incluindo o cronógrafo Historiador Historic Endurance em edição limitada.
Centenas de carros históricos e alguns relógios Historiador. Foi o que se viu no Estoril Classics, um evento criado em 2017 com o objetivo de atrair as máquinas e as competições de clássicos mais importantes do mundo ao Circuito do Estoril — e que depressa se tornou paragem obrigatória no roteiro de qualquer Gentleman Driver e dos aficionados de automóveis de tempos idos. E como existe uma ligação umbilical entre o desporto motorizado e a relojoaria mecânica, viram-se no autódromo excelentes relógios no pulso e as novidades da Cuervo y Sobrinos em exibição.
Num fim-de-semana de calor tórrido, vários milhares de adeptos deixaram a praia de lado para fazerem a romaria até ao principal santuário das corridas em Portugal — e acompanharem de perto um impressionante acervo de bólides que marcaram a história da competição automóvel. Os visitantes puderam assistir a um autêntico museu ambulante na pista e no paddock; o impressionante programa abrangeu seis décadas do desporto motorizado e reuniu quatro disciplinas das corridas de automóveis clássicos (Fórmula 1; Sports Cars; GTs; Turismos) e uma de motas no mesmo palco.
Alguns dos clássicos presentes ostentavam mesmo um valor estratosférico pela raridade e qualidade, como o Ferrari 250 LM (19 milhões de euros), o Ferrari 250 GT SWB Berlinetta (10 milhões de euros), o Ford GT40 (5,5 milhões de euros, valor reforçado pelo recente filme Le Mans 66: O Duelo), o Jaguar D Type (4 milhões de euros) e o Alfa Romeo TZ2 (3,1 milhões de euros). Mas também se viram relógios valiosos, como o galardoado MB&F LM Sequential EVO (168 mil euros) e sobretudo muitos Rolex Daytona — mas a marca relojoeira em maior destaque acabou por ser a Cuervo y Sobrinos, tanto pela ligação oficial à corrida de Historic Endurance como pelo número de pilotos embaixadores da marca suíça de origem cubana.
Alma latina, coração suíço
A própria Cuervo y Sobrinos utiliza o lema ‘Swiss Manufacture, Latin Heritage’ para afirmar a sua ‘bipolaridade’ e Massimo Rossi, o seu CEO, gosta de afirmar que «é uma marca com alma latina e coração helvético». Por um lado, os movimentos escolhidos são sempre de origem suíça, sejam eles calibres contemporâneos ou históricos recuperados para edições especiais; por outro, o estilo é bem distinto do que é habitual ver-se nas marcas helvéticas mais tradicionais. A origem é cubana e remonta a 1882, quando Ramón Fernández Cuervo — um imigrante espanhol vindo das Astúrias — passou a ter a companhia dos seus sobrinhos na gestão da sua reputada joalharia/relojoaria. Em 2008, a Cuervo y Sobrinos inaugurou uma emblemática sede nas margens do Capolago, no cantão de Ticino, bem no sul da Suíça (perto da fronteira com a Itália); e em 2009 reabriu a boutique em Havana, a par de um museu dedicado à história da firma.
A Cuervo y Sobrinos celebrou o 130.º aniversário em 2012 com a linha Historiador, que rapidamente se tornou na mais dominante do catálogo. Como, aliás, se pôde constatar no Circuito do Estoril — onde foi apresentada a edição limitada Historiador Historic Endurance que, em antecipação e em exclusivo, já tínhamos desvelado na edição de verão da Espiral do Tempo (número 83).
A linha Historiador facilmente se associa às corridas de clássicos porque é formada por relógios de perfume rétro condizente com a respetiva inspiração histórica, embora mostrando uma faceta moderna: a arquitetura típica das asas de gota dos anos 40 e 50 é executada de modo contemporâneo. Obviamente que era a linha mais adequada da Cuervo y Sobrinos para simbolizar o patrocínio do campeonato ibérico de Classic Endurance, que tem trazido anualmente a Portugal (autódromos de Portimão e do Estoril) alguns dos mais famosos bólides do século passado. E que deu origem a uma edição limitada confecionada entre João Saraiva, responsável da entidade que distribui a marca no nosso país, e Massimo Rossi, CEO da Cuervo y Sobrinos e com residência de férias no Algarve. O número 1 da tiragem restrita foi simbolicamente entregue a Guillermo Velasco, criador e organizador das corridas Historic Endurance.
A base da edição limitada Historiador Historic Endurance é a do cronógrafo Historiador, opção que se justifica naturalmente tendo em conta que a natureza da competição automóvel assenta em corridas contra o tempo. Mas com um diâmetro mais contido e vintage (40mm) do que duas recentes edições inspiradas nos primórdios dos desportos motorizados que se viram no Estoril Classics de 2022, o Historiador Gran Premio de Cuba e o Historiador Nino Farina (ambos com 42mm). No novo Historiador Historic Endurance, o verde do mostrador foi preferido tendo em conta uma das cores da bandeira nacional, embora num tom escuro próximo daquele que é utilizado em tantas viaturas de época — o mesmo sucedendo com o tom prateado escolhido para os submostradores.
Nos meandros do universo automóvel, a tonalidade verde é historicamente apelidada British Racing Green e a prateada German Silver porque — nos primórdios do desporto motorizado — os carros britânicos e alemães ostentavam essas respetivas cores identitárias, sendo que o prateado está igualmente muito presente nas jantes e nos cromados das viaturas clássicas. A configuração bicompax contrastante do mostrador é também reminiscente dos cronógrafos das décadas de 40 e 50 — com submostradores às 3 (segundos contínuos) e às 9 (totalizador de minutos), complementados por uma janela para data às 6 horas. A menção ‘Historic Endurance’ remete para o campeonato ibérico de resistência, pelo que a inscrição ‘Taquímetro’ na escala taquimétrica preta que calcula a média de velocidade aproxima as ortografias portuguesa e castelhana.
A caixa em aço, estanque a 50 metros, é estilisticamente marcada pelas emblemáticas asas de gota e botões retangulares. No fundo, e para além das gravações alusivas à edição limitada e numeração individual (01/76, sendo 1976 o ano limite da participação dos carros), a ilustração no vidro de safira revela o logótipo Historic Endurance e permite entrever o Calibre CYS 8129 de corda automática, assente no ETA 2894-2 sem o totalizador das horas às 6 horas para garantir uma configuração bicompax simétrica com data no plano inferior.
Para acentuar o espírito racing, a correia preta em couro perfurado e pespontos verdes faz-se acompanhar de um fecho de báscula e afigura-se como complemento ideal para o relógio — replicando as cores do fundo do mostrador (verde) e da escala taquimétrica (preta). Mas… também experimentámos uma correia castanha da linha Vuelo e a combinação fica tão bem ou mesmo melhor do que a correia original. O preço do Historiador Historic Endurance está fixado em 3.900 euros.
Mais Historiadores
Outro modelo Historiador recentemente lançado e presente no Estoril Classics foi o Cronógrafo 1946, uma edição limitada de 100 exemplares que presta tributo ao ano de criação do primeiro Historiador na história da Cuervo y Sobrinos. Apresenta também uma caixa de 40mm e uma configuração bicompax (mas sem janela para a data) contrastante, assente numa combinação de tons salmão e tabaco para reforçar o espírito vintage.
Os algarismos metálicos das horas são aplicados para dar algum relevo ao mostrador. A correia castanha em pele de aligátor ajuda a tornar o conjunto mais sumptuoso. O preço do Historiador Cronógrafo 1946 é igual ao do Historiador Historic Endurance: 3.900 euros.
Devido às suas cores especialmente vistosas (inspirado nos cartazes oficiais da época), também o Historiador Gran Prémio de Cuba ‘1957’ suscitou interesse entre os visitantes do espaço da Cuervo y Sobrinos no paddock. Ostenta um mostrador tricompax vermelho mate com dois submostradores creme para os registos cronográficos (horas e minutos) e um submostrador ton sur ton para os pequenos segundos, acompanhados de um perímetro a preto que inclui a escala taquimétrica.
O protótipo original tinha os submostradores creme às 3 e 9 horas, mas a simetria foi abandonada em detrimento de uma legibilidade funcional associada à indicação dos tempos cronometrados. Equipado com o Calibre CYS 8099 (a base é o Valjoux 7750), o Historiador Gran Prémio de Cuba ‘1957’ está limitado a 162 exemplares — porque 162 eram as milhas da edição inaugural da corrida, em 1957, ganha pelo lendário campeão argentino Juan Manuel Fangio no seu Maserati 300S. Preço: 3.700 euros.
Outros ‘Historiadores’ em exibição no stand da Cuervo y Sobrinos no paddock: os modelos Historiador Tradición ‘San Rafael’ com mostrador picotado e janelas para o dia e para a data (2.700 euros), as coloridas versões Historiador Asturias (2.100 euros; 2.300 para a variante Pequeños segundos), e as edições Historiador Hemingway Icónico (edições limitadas que homenageiam o escritor Ernest Hemingway; 2.600 euros) com mostradores de tons quentes e ponteiro datador.
Os outros e a classe Lonsdale
Para além da predominante linha Historiador, a coleção da Cuervo y Sobrinos inclui também as gamas Vuelo (uma variação da Historiador), Prominente, Espléndidos, Pirata, Churchill e Buceador.
No entanto, há uma outra linha a considerar que não está presente no catálogo regular ou mesmo no website da marca: a Lonsdale, uma atraente edição colaborativa entre o portal Watchonista (através do seu fundador, Marco Gabella) e o clube de colecionadores CronotempVs (por intermédio de Scaramanga); é também de inspiração rétro e teve a contribuição do famoso designer relojoeiro Eric Giroud, sendo composta por três variantes de mostrador: Candela (prateado), Claro (tom champanhe) e Oscuro (cor tabaco).
Os nomes das variantes, retiradas de conhecidas folhas de charuto, traduzem bem a inspiração por trás da edição colaborativa que nasceu de um momento de inspiração de Marco Gabella e Scaramanga — quando fumavam um cubano. Cada uma das três versões está limitada a 82 exemplares e vale 2.500 euros por unidade, havendo ainda relógios disponíveis.
Sempre a abrir
Para além das sessões fotográficas com os relógios, o ponto alto do autêntico festival motorizado no Circuito do Estoril foi o Classic GP para monolugares de Formula 1 até 1986, com as bancadas abertas repletas de público para poder ver os bólides da categoria máxima — entre eles alguns Campeões do Mundo, como é o caso do Lotus 72 e do Williams FW08.
Após a realização de vários campeonatos internacionais organizados pela Peter Auto, o Estoril Classics terminou em grande estilo com o Iberian Historic Endurance e Bruno Santos (Porsche 911 3.0 RS) fechou o programa ao triunfar debaixo dos últimos raios de sol. Mas o relógio Cuervo y Sobrinos Historiador Asturias atribuído ao vencedor da classificação por performance foi para Vincent Tourneur, o carismático piloto francês paraplégico que até é embaixador da marca, e mais o seu Porsche 356 Speedster que chegou a pertencer a James Dean. Em segundo lugar ficou o não menos carismático François Guérin (Porsche 356).
A Espiral do Tempo, por cortesia da Cuervo y Sobrinos e da sua distribuidora portuguesa Importempo, convidou alguns amigos da revista; dois deles — Bruno Candeias e Pedro Santos — contribuíram para a reportagem fotográfica deste artigo, vendo também as suas imagens selecionadas para publicações da marca no Instagram!