Espiral do Tempo apresenta: Julie Kraulis

Julie Kraulis é uma ‘artista visual’ especializada no desenho de relógios. Canadiana oriunda de Toronto, está em Portugal a passar uma temporada e é a convidada de honra de mais um encontro com amigos da Espiral do Tempo e aficionados da relojoaria mecânica.

Apesar do seu contacto com a chamada bela relojoaria ser relativamente recente, Julie Kraulis rapidamente se tornou conhecida entre os aficionados e encetou colaborações oficiais com algumas das mais relevantes marcas. Hoje em dia, desenhar detalhadamente a lápis relógios e mecanismos em grande dimensão é a sua atividade principal. E é da sua aventura artística no mundo relojoeiro que vai falar em mais um encontro promovido pela Espiral do Tempo — que terá lugar ao final da tarde desta quinta-feira no W Beautique Hotel, localizado mesmo ao lado das instalações da nossa revista na Avenida Almirante Reis.

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A arte em grafite de Julie Kraulis © DR

A ligação de Julie Kraulis a Portugal é curiosa: em 2019, escolheu a área de Lisboa para passar um trimestre a trabalhar nos seus desenhos durante o duro inverno canadiano. Rapidamente se tornou amiga da Espiral do Tempo devido aos óbvios interesses em comum e tivemos mesmo a oportunidade de a apresentar a várias personalidades da indústria durante Baselworld. A sua experiência portuguesa foi tão boa que resolveu voltar este ano, aproveitando também as rápidas ligações aéreas para visitar clientes seus e marcas relojoeiras em diversos pontos da Europa. Nesta quinta-feira, e depois de encontros promovidos pela Espiral do Tempo com o mestre Karsten Fraessdorf, o designer Marco Borraccino, CEO da Singer Reimagined, e Jorn Werdelin, co-fundador da Linde Werdelin, a artista de Toronto será a protagonista de uma reunião que contará também com a exibição de alguns relógios especiais de várias marcas.

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A complexidade do Datograph da A. Lange & Söhne © DR

O trabalho de Julie Kraulis ficou conhecido através da sua conta no Instagram (em @juliekraulis) e partilhas nas redes sociais, chamando a atenção de muitos colecionadores e de marcas de topo — que entretanto entraram para a sua lista de clientes. Os seus trabalhos podem requerer até cerca de 500 horas e 50 diferentes lápis por desenho, com um preço que pode ir dos 5.000 euros até algumas dezenas de milhar de euros. E nos últimos tempos não tem tido mãos a medir, sobretudo nos casos em que é preciso também desenhar o intrincado movimento de relógios dotados de calibres tão complexos como o Datograph, da A. Lange & Söhne ou tão icónicos como o histórico Calibre 11 da TAG Heuer.

Desenhar o tempo © DR
Desenhando o tempo © DR

O trabalho de Julie Kraulis começa com um estudo exaustivo sobre o relógio e a história do modelo em questão, de modo a poder eventualmente incorporar outros elementos relacionados com ele na ilustração — até porque a sua ideia não é a reprodução quase fotográfica. A sua paixão pela temática também foi crescendo, ‘contagiada’ pela enorme paixão dos colecionadores e das comunidades de aficionados. E pela extrema atenção ao pormenor. Gosta de desenhar relógios vintage, que diz terem muita alma e caráter.

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Os lápis Staedler e a ilustração do Monaco personalizado pela Bamford © DR

A escolha pelo lápis (preferencialmente um Staedler Mars Lumograph em papel Archer) é consciente e até mesmo cultural. «O lápis é mágico», refere, adiantando os exemplos dos famosos sketches de Leonardo da Vinci e Salvador Dali. Os desenhos com a sua assinatura são caraterísticos, denotando tipicamente todas as camadas de grafite capazes de reproduzir fielmente os mais complexos detalhes de um mostrador ou de uma parte do movimento. «Gosto que haja relógios que estejam relacionados com mundos tão diferentes, desde o desporto à cultura. E também tem sido um desafio aprender a desenhar diferentes materiais e texturas que lhes estão relacionados. O ouro, o aço, as peles. Superfícies polidas e escovadas».

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Daytona e GMT-Master II © DR

O seu relógio preferido é aquele que rapidamente se tornou no ex-libris da A. Lange & Söhne e que no ano passado completou o seu 25o aniversário. E também o seu único; não tem o hábito de usar relógio no pulso mas está à espera do seu Lange 1 em ouro rosa, que deve chegar nas próximas semanas. «Como estudante de arte, aprendi muito sobre a Golden Rule, um princípio que se encontra presente no Lange 1. Fiquei apaixonada pela coleção da Lange. E em breve terei um Lange 1 no pulso!».

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Ícones: Nautilus e Submariner © DR

Curiosamente, o primeiro relógio que desenhou foi adequadamente um… El Primero, da Zenith! «Gosto de cronógrafos vintage e gosto tanto de um Rolex GMT-Master 1675 com mostrador tropical como algo que tenha um design tão caraterístico como o Nautilus da Patek Philippe, o Royal Oak da Audemars Piguet ou o Tank da Cartier. Por vezes é o design global da peça que me chama a atenção, outras vezes é um elemento específico como a forma das asas, o mostrador, os ponteiros, os indexes».

Rolex Daytona © DR
Um tema preferido: cronógrafos vintage © DR

Julie Kraulis tem tido sobretudo muitas encomendas de Rolexes e Omegas, destacando o momento em que esteve com o lendário astronauta Buzz Aldrin quando desenhou um Speedmaster Moonwatch para um evento Omega Lost In Space, realizado no museu Tate Modern em Londres. E desenhou o movimento do Monaco Pièce d’Art leiloado pela Phillips no passado mês de Dezembro, no encerramento das comemorações dos 50 anos do famoso cronógrafo quadrilátero da TAG Heuer.

O Calibre 11 © DR
O Calibre 11 personalizado numa ilustração que acompanhou o Monaco Pièce d’Ar no leilão da Phillips © DR

A artista canadiana estará amanhã com a equipa da Espiral do Tempo e com amigos da revista. Depois vos contaremos como foi…

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