Foi o primeiro grande lançamento da TAG Heuer em 2020. O Carrera 160 Years Silver Limited Edition é uma nova versão do Carrera que remete diretamente tanto para o original de 1963 como para a primeira reedição de 1996, sendo recebida com grande entusiasmo por parte de saudosistas e aficionados da marca. O legado de Jack Heuer, considerado o pai do cronógrafo desportivo, permanece bem vivo no ano em que a marca celebra o seu 160º aniversário.
—
Há um novo Carrera de culto! O universo relojoeiro tem assistido à clara tendência de fazer ressuscitar históricos modelos do passado, sobretudo quando a relojoaria mecânica voltou a ganhar força na década de 90 e a tendência vintage se sobrepôs ao modernismo quase desenfreado das décadas de 70 e 80. A TAG Heuer sempre esteve na linha da frente dessa prática neo-retro, com o lançamento de uma fiel reedição do Heuer Carrera em 1996 e depois com uma feliz reinterpretação estilística do Heuer Monaco em 1998.
Na altura, o espírito das reedições de um pretérito glorioso foi particularmente apreciado e logo surgiram outros modelos (como o Monza e o Targa Florio) que não subsistiram muito tempo — só o Carrera, que evoluiu em tamanho e estilo, o Monaco, cujas versões-base continuam próximas do original, e o Autavia, com uma reedição esporádica em 2003 e o relançamento em 2017, se apresentam atualmente como traves mestras da coleção da TAG Heuer, que continua a explorar muito bem a vertente vintage com edições especiais em que o branding Heuer é retomado. A mais recente é um regalo para os saudosistas dos modelos dos anos 60 e remete diretamente tanto para o primeiro Carrera de 1962 como para a primeira reedição do Carrera em 1996: o Carrera 160 Years Silver Limited Edition conquistou imediatamente os saudosistas e os aficionados da marca, tendo como valência suplementar a celebração dos 160 anos da marca em 2020. Daí a tiragem de 1860 exemplares.
“Começámos, em 1996, a tendência de reeditar relógios antigos quando o Carrera foi relançado pela primeira vez, e depois lançámos o Monaco, em 1998”, disse-nos Jack Heuer numa grande entrevista que deu à Espiral do Tempo em 2010. “A partir daí, muitas outras marcas copiaram a ideia de recuperar modelos antigos; outras não tiveram essa possibilidade porque não têm a história do passado”. A história da TAG Heuer é riquíssima, sendo o período das décadas de 60 e 70 — que coincidiu com a passagem de Jack Heuer pela direção da marca fundada pelo seu tetravô Edouard Heuer em 1860 — considerado como a fase historicamente mais relevante pelos Heueristas. E esse período arrancou precisamente com o advento do Carrera, um dos mais emblemáticos cronógrafos da história da relojoaria.
A corrida e o Carrera
Intimamente ligado ao desporto automóvel, o Carrera original nasceu e floresceu em plena era da conquista do espaço. Jack Heuer sabia então que a legibilidade seria determinante para os cronógrafos da nova geração e optou por um mostrador simples, mas acompanhado de uma escala até ao quinto de segundo em relevo e um vidro bombeado para proporcionar um efeito tridimensional. O resultado: um relógio belo e depurado, embora sem um nome de batismo à altura.
A nomenclatura foi encontrada numa animada conversa de Jack Heuer com um dos dois irmãos Rodriguez, famosos pilotos mexicanos, aquando de uma prova nos Estados Unidos (as ‘12 Horas de Sebring’) em que a Heuer assegurava a cronometragem oficial. Pedro Rodriguez recordou então um lendário rallye que atravessava o México nos anos 50 e que deixou de existir devido à sua extrema periculosidade: o ‘Carrera Panamericana Mexico’. A prova era destinada a promover a nova autoestrada panamericana, mas alguns acidentes fatais levaram ao seu definitivo cancelamento.
Acabou-se a corrida, mas ficou a lenda — que deu origem a outro mito. Jack Heuer regressou à Suíça com um apelido carismático para o relógio que rapidamente passaria a simbolizar o apogeu dos cronógrafos de pulso e que seria posteriormente adotado por grandes campeões da Fórmula 1 como Nikki Lauda, Clay Regazzoni, John Watson ou Gilles Villeneuve. Após os primeiros modelos desvelados em 1963 e a grande apresentação na feira de Basileia de 1964, ao longo da década de 60 foram surgindo interessantes variações do Carrera com mecanismos cronográficos de corda manual — incluindo os modelos Carrera 12, Carrera 45, Carrera Tachy, Carrera Deci e Carrera Black. Até que surge o primeiro mecanismo cronográfico automático em 1969 (o Calibre 11/Chronomatic) que passou a equipar o Carrera e outros cronógrafos da marca como o Monaco e o Autavia.
As reedições e a nova vedeta
Na sequência da crise do quartzo que abalou a indústria relojoeira suíça no final dos anos 70, a Heuer foi comprada pela TAG (Techniques d’Avant-Garde) e tornou-se TAG Heuer em 1985. A primeira reedição do Carrera foi desvelada em 1996 e Jack Heuer esteve na apresentação, ressurgindo pela primeira vez após um longo período de alheamento que se seguiu ao doloroso processo de venda da marca nos inícios da década de 80. Anos depois foi convidado a regressar a tempo inteiro como Presidente Honorário e ajudou não só a fundar o museu da marca como a relançar vários modelos históricos e reinterpretações associadas a esses gloriosos modelos. Hoje em dia, a caminho dos 90 anos, já está reformado mas ocasionalmente continua a aparecer e a dar os seus conselhos. O novo Carrera 160 Years Silver Limited Edition agrada-lhe particularmente.
Inspirado no Carrera Ref 2447S dos primórdios e encarado como uma espécie de contraposição ao aclamado Carrera Fujiwara Edition com mostrador preto de 2018, o Carrera 160 Years Silver Limited Edition apresenta uma caixa de 39 mílimetros capaz de satisfazer tanto os amantes dos relógios vintage como aqueles que gostam de ter no pulso um diâmetro mais contemporâneo e é animada por um calibre automático.
Tanto o Carrera 2447S de 1963, com o seu mostrador muito puro e dotado do calibre Valjoux 72, como a primeira reedição de 1996, baseada no Carrera 2447D e com um calibre Lemania, eram alimentados por um movimento de corda manual e o seu diâmetro não ultrapassava os 36mm. O Carrera 160 Years Silver Limited Edition está dotado de um movimento próprio de manufatura, o Calibre Heuer 02.
Novo calibre e luminescência retro
Trata-se do movimento cronográfico integrado que já está a dotar a maior parte dos cronógrafos da TAG Heuer e que pode ser parcialmente visto através do fundo transparente em vidro de safira, com a inscrição alusiva aos 160 anos da marca a surgir em destaque no rotor escurecido. Tal como nas edições do Monaco alusivas ao seu 50º aniversário, a numeração da edição limitada não é individual — surgindo apenas a designação ‘One of 1860’.
Tal como as referências que lhe serviram de inspiração, o mostrador prateado do Carrera 160 Years Silver Limited Edition é extremamente puro — sendo dotado de um acabamento raiado a partir do centro que contrasta com os sulcos radiais nos submostradores e um tom beije (ou vintage/envelhecido) na matéria luminescente dos marcadores das horas e dos ponteiros principais das horas e dos minutos. Os restantes mostradores são pretos e contribuem para oferecer excelente contraste num mostrador que é enganadoramente monocromático à primeira vista.
A caixa de 39mm apresenta as caraterísticas asas da família Carrera, fazendo-se acompanhar dos também típicos botões em cogumelo e de um vidro de safira tipo Glassbox que se eleva um pouco acima do plano da luneta. Para complementar o conjunto, uma correia preta em pele de crocodilo com fecho de báscula — não é a correia perfurada de estilo racing tão utilizada na década de 60 e 70, mas dá-lhe um visual mais dressy. E quem não gostar ou quiser variar pode sempre optar por outra correia. Ao fim e ao cabo, é o relógio que assume o maior protagonismo. E o Carrera 160 Years Silver Limited Edition é um excelente relógio que ficará para a posteridade como um dos melhores modelos lançados em 2020.
—
