Da visita à VO’Clock, a feira de relojoaria realizada em paralelo com a Vicenzaoro, retiramos alguns apontamentos de destaque — que vão desde a alta-relojoaria tradicional à relojoaria mecânica acessível, passando por adereços especiais e um exercício de estilo alado. Aqui ficam oito notas de registo.
Em Vicenza
A VO’Clock Privé decorreu no centro de exposições de Vicenza, em Itália, novamente em simultâneo com a grande feira de joalharia Vicenzaoro, e contou com alguns focos de interesse relevantes. Novos modelos estiveram à disposição, diversos mestres e marcas da Académie Horlogère des Créateurs Indépendants (Svend Andersen, Ludovic Ballouard, Sinclair Harding, Vincent Calabrese, Stefan Kudoke, Matthias Naeschke, Meccaniche Orologi Milano e Marc & Darnò) marcaram presença, várias comunidades de aficionados participaram em eventos complementares e houve muito mais para ver nas diversas áreas do certame. Aqui ficam algumas notas de destaque:
1. Zenith Chronomaster Original em preto
A mais recente declinação do Chronomaster Original da Zenith apresenta um mostrador preto — e o que se pode dizer é que a nova combinação com as três lendárias cores de submostrador (cinzento, antracite e azul) que integravam o modelo inaugural A386 de 1969 fica mesmo muito bem, juntamente com a escala intercalar dos centésimos a branco e o réhaut exterior a preto.

Desde o seu lançamento que a reinterpretação moderna do lendário cronógrafo tem seduzido a crítica pelas suas proporções e perfume rétro, mas até agora estava apenas disponível com mostrador pérola; na versão preta, as escalas do cronógrafo surgem invertidas e o disco da data também é negro para melhor integração estética. As medidas (38mm de diâmetro por 13mm de espessura) mantêm-se e a elevada frequência de 5Hz garante cronometragens ao décimo de segundo (o ponteiro central do cronógrafo dá a volta rapidamente em 10 segundos, em vez dos 60 habituais). Disponível em correia preta ou bracelete metálica.
2.O ultra-desportivo Norqain Wild One Skeleton

A Norqain é uma jovem companhia independente suíça de origem familiar e sediada na zona de Bienne. Fundada por gente com experiência no setor (nomeadamente na Breitling, como Ben Küffer e Ted Schneider) e contando com Jean-Claude Biver como consultor de luxo, divide a sua coleção em três linhas — Independence, Adventure, Freedom — e aponta para um público jovem e naturalista.

Os cronógrafos das linhas Freedom e Adventure são apelativos, mas o modelo que mais se tem destacado é da linha Independence: o Wild One Skeleton apresenta uma estrutura modular ultra-leve em fibra de carbono com inserções laterais de borracha; no total, a caixa Norteq é formada por 25 elementos, é estanque a 200 metros e ajuda a proteger o movimento de choques até 5.000G. O movimento esqueletizado tem a certificação cronométrica do COSC e é baseado no Sellita SW200-1 S c (embora a marca tenha calibres próprios numa colaboração com a Kenissi). A cor azul turquesa torna o relógio muito vistoso, como se pôde ver no pulso do campeão de ténis suíço Stan Wawrinka durante o recente US Open.
3. A engenhosidade do Kudoke III

Depois de ter visto um dos seus modelos inaugurais premiado no Grand Prix d’Horlogerie de Genève em 2019, a Kudoke — marca fundada pelo mestre alemão Stefan Kudoke e pela sua mulher, Ev — afirmou-se pela beleza dos mostradores e pela personalidade decorativa dos movimentos. Após o Kudoke I de mostrador depurado com pequenos segundos às 9 e o Kudoke II com indicação ilustrada das 24 horas às 12, o Kudoke III revela um mostrador completamente distinto dos seus antecessores: ponteiro azulado dos minutos ao centro e, na abertura da metade superior, um ponteiro de três braços de comprimento distinto vai indicando as horas numa escala tripartida. A equilibrada caixa de 39mm por 10,3mm alberga o Kaliber I de manufatura, com uma platina durada de três quartos e o galo do balanço trabalhado à boa maneira saxónica.
4. Eberhard Chrono4 Pards e o faroeste

O Chrono4 será, provavelmente, o mais emblemático modelo na história secular da Eberhard — com os seus quatro submostradores alinhados em série. A mais recente variação do conceito surge numa surpreendente edição limitada que reproduz, em cada um dos submostradores, a efígie dos quatro heróis de uma antiga banda desenhada inspirada no velho oeste americano: Tex Willer, Kit Carson, Kit Willer e Tiger Jack. Há três exemplares de 42mm disponíveis: caixa em aço com luneta em cerâmica azul ou caixa em aço com luneta em cerâmica preta (ambos limitados a 150 peças) e caixa em aço com tratamento DLC bronzeado (75 exemplares). Um relógio para quem gosta do faroeste e queira mostrar algo de verdadeiramente diferente!
5. Out of Order: Shakers ‘Danificados em Itália’!

A Out of Order é uma jovem companhia italiana de relógios mecânicos com preço acessível (entre 300 e 600 euros) que está a celebrar o seu décimo aniversário — e o seu mote diz tudo: «Damaged in Italy». A ideia é apresentar acabamentos de caixa patenteados que proporcionam o visual de um relógio vintage com muito uso, recorrendo ao aço envelhecido e manchado em várias das suas criações.

O espírito iconoclasta dos fundadores Riccardo Torrisi, Claudio Dalla Mora e Dario Ceolotto traduz-se em psicadélicas combinações de cores e muita irreverência. Das várias linhas disponíveis, a Shaker é talvez a mais apelativa; inclui espetaculares modelos com mostradores dégradé e lunetas bicolores dotados da função GMT e inspirados em conhecidos cocktails. Como o Irish Coffee Automatic GMT, motorizado pelo calibre NH34A da Seiko, que até é dos mais discretos…
6. Meccaniche Orologi Milano: Monza com asas

A Meccaniche Orologi Milano (MOM) foi fundada por Alessandro Rigotto em 2016 e integra a prestigiosa Académie Horlogère des Créateurs Indépendants. É especializada em relógios de mesa com um design original que coloca em evidência a intrincada complexidade dos movimentos mecânicos; o Monza, com a sua estrutura alada, inspira-se no design da década de 70 e evoca velocidade — a estrutura da caixa parece um radiador, com linhas aerodinâmicas e cromados reminiscentes dos elementos de estilo usados na indústria automóvel e aviação dos anos 50 e 60.

O calibre está dotado de um escape Graham e assegura 15 dias de reserva de carga. No total, o peso da premiada peça (em vários concursos de design) é de 25 quilos.
7. Correias com pinta italiana: GPF Straps

Sediada em Arezzo, a GPF Straps é uma das mais importantes companhias produtoras de correias para relógios na Europa e a sua variedade é extremamente alargada, tanto nas peles utilizadas (de todas as espécies e com certificação CITES) como no estilo (dividido maioritariamente entre a linha Clássica e a linha Vintage). As peles são tingidas com métodos naturais e as correias são manufaturadas, num belo tributo à tradição da correaria toscana.

Do alargado catálogo, os produtos mais interessantes são mesmo os da linha Vintage: algumas das correias apresentam um aspeto envelhecido graças à aplicação de patina, há cores para todos os gostos e a própria originalidade das costuras proporciona múltiplas opções. Um deleite para qualquer strapaholic ou simplesmente para quem goste de mudar o visual do seu relógio — e os relógios ganham mesmo um carisma especial com algumas das notáveis correias disponíveis.
8. Moinhos Wolf: uma alcateia de variações

A Wolf tem-se afirmado cada vez mais no cenário relojoeiro como a mais completa companhia de moinhos para relógios, apresentando uma alargada variedade de estilos e de preços. A sua origem remonta a 1834 (então somente fabricante de estojos) na Alemanha e alega ser a única marca de moinhos que integra contagem de rotações, enquanto as restantes usam apenas o tempo para uma estimativa. Os preços vão dos 275 euros para o cubo individual mais simples até aos cofres embutidos construídos à vontade do freguês, alguns dos quais com um preço de várias centenas de milhar de euros. Da Alemanha, a firma transferiu-se para a Suécia e depois para o Reino Unido. Atualmente, é um potentado que inclui também acessórios em pele e todos os tipos de caixas e estojos para relógios e joias.

Obviamente que muito mais se viu. Mas estas foram (para nós) as oito maravilhas do mundo que foi a centro de exposição de Vicenza nos dias da Vicenzaoro e da VO’Clock, va bene?