Dubai Watch Week 2023: novidades de um trio de independentes

Na Dubai Watch Week, os independentes são habitualmente os grandes protagonistas — e os seus lançamentos são sempre os mais aguardados. A MB&F, a H. Moser & Cie e a De Bethune não defraudaram com a apresentação de novidades tão espetaculares quão diferentes.

A sexta edição da Dubai Watch Week tem mostrado que o evento está maior e melhor do que nunca, embora mantendo um nível de convivialidade que a Watches and Wonders não consegue — todos os grandes protagonistas da indústria relojoeira presentes estão disponíveis para interagir não só com os aficionados, colecionadores e jornalistas, mas também com colegas de profissão e rivais de negócio. Isso não é propriamente novidade no que diz respeito às marcas independentes de alta-relojoaria, que desde sempre revelaram grande cumplicidade e muito beneficiaram da amizade entre os seus fundadores ou CEOs.

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O pavilhão central da Dubai Watch Week é um autêntico festival de marcas independentes | © Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Embora contando com pesos-pesados da indústria como a Rolex, a Audemars Piguet, a TAG Heuer ou a Breitling, a bienal relojoeira do Médio Oriente é sobretudo conhecida por dar palco aos criadores independentes e às marcas independentes. O justo reconhecimento que têm por parte dos aficionados locais e o trabalho de promoção feito pela família Seddiqi também contribuíram para essa reputação e para tornar o evento na melhor imersão atual do ‘tempo que passa’. Porque o nível de educação relojoeira é muito elevado e os clubes de colecionadores são numerosos, os relojoeiros independentes são as estrelas mais brilhantes da Dubai Watch Week e normalmente aproveitam a ocasião para o lançamento de novidades. Como sucedeu com a MB&F, a H. Moser & Cie e a De Bethune. Aliás, os seus respetivos responsáveis — Max Büsser, Edouard Meylan e Pierre Jacques — são amigos e muitas vezes colaboram entre si. Aqui estão os relógios que estrearam na Dubai Watch Week:

MB&F HM11 Architect

Um relógio de outro mundo com funcionalidades nunca vistas: o HM11 Architect | © MB&F

Max Büsser logrou catapultar a sua MB&F para o mais elevado patamar da alta-relojoaria — uma alta-relojoaria que não é tradicional, mas que usa princípios mecânicos tradicionais completamente revirados do avesso para ser inovadora e futurista. A MB&F pode mesmo gabar-se de ter, segundo uma boa parte da crítica especializada, o melhor calendário perpétuo jamais feito (o LM Perpetual) e o melhor cronógrafo jamais feito (o LM Sequential EVO), ambos com a genial concepção relojoeira do mestre irlandês Stephen McDonnell e o design do prolífico Eric Giroud. Apesar do seu estilo vanguardista, nem estão entre as criações visualmente mais‘loucas’da MB&F: pertencem à mais convencional linha LM (Legacy Machines, assente numa caixa redonda), enquanto a linha HM (Horological Machines) foi mesmo criada sem quaisquer restrições ou fronteiras. E foi mesmo com a linha HM que a MB&F começou, em 2005. Vinte anos depois, e na véspera do arranque da Dubai Watch Week, Max Büsser desvelou o Horological Machine Nº11 Architect em pleno deserto e sob elevadas temperaturas. Por uma razão especial: para além da sua estética inaudita, também mede mecanicamente a temperatura!

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O turbilhão central e os quatro alvéolos circundantes em duas versões | © Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Um relógio MB&F primeiro estranha-se e depois entranha-se, como diria Fernando Pessoa. Especificamente, o novo HM11 começa por parecer inicialmente um objeto não identificado e, depois de ser‘compreendido’, justifica plenamente a sua existência. Que é inspirada nos módulos de casas futuristas que começaram a surgir nos anos 60, assentes numa arquitetura experimentalista e modular muito influenciada pela corrida espacial — daí o nome Architect. Apresenta um turbilhão volante ao centro e quatro casulos exteriores. A surpresa maior tem a ver com a funcionalidade: o conjunto é rotativo! Pode-se escolher qual dos quatro‘módulos’fica no ângulo de visão ideal a partir do pulso: o mostrador das horas e minutos, o indicador da reserva de carga, o termómetro ou o ajuste através de uma coroa sobredimensionada em safira. E a própria rotação do conjunto dá corda ao movimento. Dez voltas bastam para dar ao HM11 a sua autonomia máxima de 96 horas. Cada variante do relógio terá uma tiragem limitada a 25 peças com um preço unitário de 207.000 euros mais taxas. Um preço que também é do outro mundo…

A rotação da caixa dá corda ao relógio e permite quatro escolhas diferentes de mostrador | © MB&F

H. Moser & Cie Streamliner Small Seconds

Novas proporções, novo mostrador, novo calibre: o novo Streamliner Small Seconds é extremamente apelativo | © H. Moser & Cie

O lançamento da linha Streamliner, inspirada numa corrente de design da primeira metade do século XX, foi muito importante para a diversificação do catálogo da H. Moser & Cie — e também beneficiou da enorme procura que os relógios de design integrado têm tido na última década, com especial incidência para os últimos cinco anos. O primeiro modelo da linha foi uma versão cronográfica com o excecional movimento AgenGraphe da Agenhor (um atelier de calibres mecânicos de alta-relojoaria fundado pelo mestre Jean-Marc Wiederrecht) que teve uma segunda versão, mas pouco depois surgiu a variante de três ponteiros que foi declinada em mostradores verde (Matrix Green) e cobreado (Salmon); essa variante vai ser descontinuada para dar lugar ao novo Streamliner Small Seconds, dotado de proporções mais elegantes, um calibre mais sofisticado e um novo acabamento de mostrador.

O novo calibre automático do Streamliner Small Seconds destaca-se pelo microrrotor e acabamento escurecido | © H. Moser & Cie

O modo como o Streamliner Small Seconds assenta no pulso é notável. O diâmetro passou de 40 para 39mm, sendo que também a espessura diminuiu. O mostrador azulado com o efeito fumado que se tornou numa das imagens de marca da Moser apresenta um acabamento texturado que lhe dá alguma tridimensionalidade e o distingue da geração anterior. E o verso atesta igualmente a diferença: através do fundo transparente em vidro de safira é possível ver o novo calibre de corda automática com a carga a ser feita a partir de um microrrotor (tornando possível a menor espessura); o facto de apresentar um acabamento mais escurecido também vai de encontro às novas diretrizes‘contemporâneas’da marca liderada por Edouard Meylan.

No pulso: o Streamliner Small Seconds é já um dos melhores exemplares de design integrado do metrcado | © Miguel Seabra/Espiral do Tempo

De Bethune DBD Evergreen

O DBD Evergreen recupera a mais rétro das caixas na história da De Bethune | © De Bethune

A De Bethune ficou conhecida pela excelência e intransigência técnica do seu mestre co-fundador, Denis Flageollet — e pelos seus relógios de uma estética como nenhuma outra no panorama relojoeiro. Na presente edição da Dubai Watch Week, a De Bethune fugiu aos seus modelos mais conhecidos e de carrosseria mais admirada para reintroduzir um modelo que não é para todos os gostos: o DBD Evergreen, assente numa caixa DBD (estreada em 2006) com coroa às 12 horas e calendário triplo linear com apresentação digital. A ocasião tem diretamente a ver com a Dubai Watch Week, porque se trata de uma edição precisamente inspirada pelo Médio Oriente e pelo simbolismo que a cor verde tem para a região.

A habitual estilização dos movimentos da De Bethune saídos da mente genial de Denis Flageollet | © De Bethune

A caixa é esculpida em titânio de grau 5 e é também caraterizada pelas suas asas em forma de ogiva. O mostrador verde apresenta a decoração Côtes de Genève que habitualmente se vê no acabamento dos movimentos (e que a De Bethune usou pela primeira vez num mostrador em 2006), mas são sobretudo as aberturas Art Déco a caraterizarem da melhor maneira o visual da peça. Cinco discos contribuem para a leitura do tempo linear: dia, data e mês às 12 horas; horas saltantes e minutos deslizantes na parte inferior do mostrador. O Calibre DB2044 de carga manual inclui o tradicional balanço em titânio da manufatura de L’ Auberson. Uma edição limitada a somente 20 exemplares.

No pulso: a força da decoração Côtes de Genève e do fundo verde é complementada por cinco indicações digitais | © Miguel Seabra/Espiral do Tempo

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