No mais peculiar dia da agenda tradicional, destaque para a interpretação simplificada do calendário perpétuo por parte da H. Moser & Cie e o seu novo Streamliner Perpetual Calendar Concept Smoked Salmon.
O dia 29 de fevereiro será sempre muito especial, mas é-o particularmente para dois tipos de pessoas: aqueles que cumprem aniversário num dia que só podem celebrar de quatro em quatro anos e os detentores de um relógio mecânico dotado de calendário perpétuo. No primeiro caso, o constrangimento de não poder receber presentes todos os anos pode ser parcialmente amenizado por uma celebração de arromba a cada quadriénio olímpico. No segundo, é dia de justificar tão complexa aquisição relojoeira e ver uma determinada indicação funcionar pela primeira vez desde 2020. Simplificando, qualquer aficionado de relojoaria nascido hoje merecia ser presenteado com o novo Streamliner Perpetual Calendar Concept Smoked Salmon da H. Moser & Cie.
A função de calendário perpétuo é uma das grandes complicações clássicas da relojoaria tradicional. É no fim do mês que a observação do tempo num relógio dotado de calendário perpétuo se torna mais palpitante: quando os ponteiros saltam para o primeiro dia do mês seguinte como se uma mão invisível soubesse se o mês que acaba de terminar tem 28, 29, 30 ou 31 dias. Normalmente, os exemplares dotados de um calendário perpétuo apresentam um mostrador algo congestionado, com toda a informação alusiva aos diversos parâmetros do calendário — quando o calendário perpétuo não é associado a outras funções, como nas famosas combinações com cronógrafos da Patek Philippe ou da A. Lange & Söhne. A H. Moser & Cie seguiu a via absolutamente minimalista e aplica o seu conceito de calendário perpétuo pela segunda vez na linha Streamliner com um belo mostrador salmão fumado (apenas disponível durante 12 meses), depois de uma primeira edição limitada com mostrador cinzento degradé.
Streamliner Perpetual Calendar Concept Smoked Salmon
O Streamliner Perpetual Calendar Concept Smoked Salmon tem muito que se lhe diga no que diz respeito à cor, à forma e à função.
Primeiramente, a cor: a tonalidade salmão já havia sido usada com sucesso num modelo Streamliner Automatic, entretanto descontinuado para dar lugar ao novo Streamliner Small Seconds estreado na última edição da Dubai Watch Week. Mas não se trata de mais um mostrador salmão — é um salmão fumado com múltiplas nuances cromáticas consoante a incidência de luz e que vão desde o preto ao dourado, com tons de chocolate pelo meio. A H. Moser & Cie. foi pioneira na ressurreição dos mostradores dégradé no início do presente milénio e líder da tendência de mostradores fumados que se verifica na relojoaria de há uns quatro anos para cá.
Depois, a forma — e a linha Streamliner, estreada em 2020, rapidamente se tornou na bestseller do catálogo da marca de Neuhausen. A herança dos anos 70 é bem evidente: caixa de forma (cushion) com 42,3mm de diâmetro por 11mm de espessura, mostrador gradiente, bracelete metálica integrada no design e utilização de um material democrático como o aço num produto de prestígio normalmente declinado em metais preciosos, sendo que esse ‘caráter metálico’ está diretamente associado ao seu nome: os primeiros comboios de grande velocidade dos anos 20 e 30 estavam revestidos de aço e tinham um aerodinamismo curvilíneo. Apesar desse pretérito legado da locomoção e da relojoaria, o seu visual personalizado é bem distinto das mais recentes linhas inspiradas na década de 70 que foram lançadas/relançadas nos últimos tempos — e têm sido muitas as marcas a investir no design integrado, numa impressionante onda de revivalismo retromodernista depois de quase uma década em que predominou sobretudo a estética vintage de caixa redonda e asas tradicionais.
Finalmente, a função. «Nada de submostradores e indicações chatas» a obstruir o mostrador, como refere a própria marca. Sem ponteiros suplementares desnecessários ou mesmo indexes para as horas. Nem mesmo logótipos! Pureza absoluta com um minimalismo confinado a quatro ponteiros centrais (horas e minutos com blocos luminescentes Globolight;, segundos, mês), um ponteiro lateral para a reserva de corda e data sobredimensionada no rosto do relógio. A indicação dos anos bissextos surge numa roda visível no fundo transparente da caixa em vidro de safira que revela a beleza do Calibre HMC 812 de carga manual e 168 horas de autonomia; o acabamento decorativo do movimento é ‘ultracontemporâneo’, com estrias duplas horizontais e revestimento antracite nas pontes do balanço, trem de rodagem e tambor. A platina é microjateada e tem revestimento rodinado antracite.
Vicissitudes de calendário
Mas o que torna tão especial um relógio mecânico dotado de calendário perpétuo?
As idiossincrasias do calendário juliano, com os três anos normais de 365 dias seguidos de um ano bissexto de 366 dias, mantêm-se atuais até aos nossos dias e constituem a bitola no que à chamada civilização ocidental diz respeito. Mas o papa Gregório XII corrigiu um ínfimo erro nesse calendário: o ano juliano afigurava-se longo em 11 minutos e 14 segundos, o que equivale a 0,0078 dias! Tal imperfeição, mais perceptível com o acumular de várias dezenas de anos, afetava o desenrolar do ano cristão e a solução foi abolir o dia 29 de fevereiro nos anos seculares não divisíveis por 400. Dito de outra maneira, os anos 1700, 1800 e 1900 deixaram de ser bissextos, tal como não serão bissextos os anos 2100, 2200 e por aí fora.
A tradição dos calendários mecânicos remonta à era dos grandes mestres relojoeiros britânicos, como Thomas Mudge — que, em 1764, apresentou o primeiro relógio de bolso a indicar de forma correta e autónoma a duração de cada mês em anos normais e bissextos. Esse relógio continha o que atualmente se convenciona designar por ‘calendário perpétuo’; o primeiro relógio de pulso equipado com essa complexa função e um mecanismo de corda manual surgiria exatamente 163 anos mais tarde. Normalmente, a particularidade dos módulos de calendário situa-se ao nível da roda dentada que efetua uma volta completa em torno do seu eixo a cada quatro anos; as incisões na periferia indicam ao mecanismo o número de dias de cada mês, para se fazer o cálculo exato da diferente duração mensal. Na grande maioria dos casos, o calendário perpétuo faz-se acompanhar da indicação das fases da lua e em raros exemplares da chamada equação do tempo. No Streamliner Perpetual Calendar Concept Smoked Salmon, tudo o que é suplementar é descartado!
As nossas impressões
Um relógio H. Moser & Cie é sempre especial. Fundada em 1828 pelo helvético Heinrich Moser em São Petersburgo e transferida para a Suíça após a revolução soviética, a H. Moser & Cie é uma marca secular recuperada no arranque do novo milénio que hoje em dia personifica de maneira ideal a dicotomia inerente ao conceito clássico-moderno; está sedeada em Neuhausen am Rheinfall, onde existe um museu dedicado ao fundador, e é caraterizada por relógios de visual minimalista com mostradores fumados ou coloridos de preços que começam nos 15 mil e vão sobretudo até aos 100 mil, mas que podem ultrapassar largamente essa fasquia. A companhia é dirigida pelo carismático Edouard Meylan, filho de um antigo CEO da Audemars Piguet e nascido em berço relojoeiro.
O novo instrumento do tempo perpétuo da H. Moser & Cie é um cocktail de códigos estéticos modernistas do século XX dotado da mais desenvolvida micromecânica do século XXI. Apelativa caixa de forma, soberbo mostrador dégradé de grande personalidade e uma sofisticada bracelete metálica articulada que contorna muito bem o pulso. O diâmetro é enganador porque a arquitetura integrada — sem as asas tradicionais — faz com que assente em pulsos médios e pequenos bem melhor do que os 42,3mm indicados poderiam fazer supor. O contacto é também muito agradável no plano táctil devido às suas formas fluídas e orgânicas. Um exemplar de alta relojoaria e grande originalidade que merecia ser oferecido a todos aqueles que, feliz ou infelizmente, cumprem o aniversário a 29 de fevereiro… somente de quatro em quatro anos.
Algumas caraterísticas técnicas:
H. Moser & Cie
Streamliner Perpetual Calendar Concept Smoked Salmon
Referência | 6812-1201
Movimento | Mecânico de corda manual Calibre HMC 812 com calendário perpétuo. 168 horas de reserva de corda, 21.600 alt./h., 55 rubis.
Funções | Horas, minutos e segundos. Calendário perpétuo com indicação dos meses através de um pequeno ponteiro central. Indicação de reserva de corda. Ano bissexto indicado no fundo do relógio. A data e o mês podem ser acertadas para a frente e para trás sem colocar o mecanismo em risco.
Mostrador | Em tom salmão fumado.
Caixa ∅ 42,3 mm | Aço. Vidro de safira. Coroa de rosca às 4 horas. Estanque até 12ATM.
Bracelete | Integrada de aço com fecho de báscula.
Preço anunciado no site | 49.900 CH
Visite o site oficial da H.Moser & Cie para mais informações.
