A manufatura germânica de alta-relojoaria A. Lange & Söhne lançou um projeto fotográfico à escala global envolvendo o seu Saxonia Moon Phase com emblemáticas pontes ao luar em 16 localidades em todo o mundo. Aceitámos o desafio e respondemos a dobrar: em Lisboa, só poderia ter sido assim – dada a imponência das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama. (English version here)
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Numa das salas de exibição no espaço da A. Lange & Söhne no recente Salon International de la Haute Horlogerie (SIHH) figurava um enorme dístico: “Se quiserem ver qual a fase exata da lua, olhem para o vosso pulso e não para o céu”. A alusão à importância que a histórica manufatura de Glashütte dá à integração das fases da lua em vários dos seus relógios era evidente – e atualmente são dez os modelos da sua coleção regular (Tourbograph Perpetual “Pour le Mérite”; Datograph Perpetual Tourbillon; Datograph Perpetual; 1815 Rattrapante Perpetual Calendar; Richard Lange Perpetual Calendar “Terraluna”; Langematik Perpetual; Saxonia Annual Calendar; Grand Lange 1 Moon Phase; Lange 1 Moon Phase; Saxonia Moon Phase) que exaltam o fascínio pelo satélite da terra através de um disco celestial que retrata a lunação com grande precisão. Desses dez, aquele que apresenta o disco maior é o Richard Lange Perpetual Calendar “Terraluna” – com 2116 estrelas a acompanharem a lua num diâmetro de 26,2mm. Mas esse disco situa-se no verso. O que significa que, de todos os modelos que incluem a disposição das fases da lua no lado do mostrador, o que apresenta um maior número de estrelas por milímetro quadrado é o Saxonia Moon Phase: 852 num microcosmos de 12,1mm que inclui duas luas.
O Saxonia Moon Phase foi apresentado pela primeira vez em janeiro de 2016 no Salão Internacional da Alta Relojoaria do ano passado e, no início do pretérito verão, a Lange & Söhne lançou um projeto fotográfico à escala global que ainda decorre e que o tem como protagonista; tudo começou com uma sessão fotográfica perante uma paisagem Saxónica ao luar que visava transmitir de modo pitoresco a combinação perfeita entre estética e precisão: o retrato resultante deu o mote para uma iniciativa à escala internacional que passou por Lisboa.
Já se sabe que o satélite da terra continua a exercer um enorme poder de atração aos mais diferentes níveis… mesmo que nos tempos modernos disciplinas como a astronomia, a fotografia e as viagens espaciais nos proporcionem uma maior familiaridade com a lua. Apesar disso, o asteroide não perdeu nada do seu fascínio alegórico ancestral – e o apelo mágico que a ciência poderá ter eventualmente roubado à lua foi-lhe sendo devolvido através de manifestações artísticas de índole diversa ao longo dos séculos mediante numerosas obras no âmbito da literatura, música, pintura e fotografia.
Imagens artísticas e realidade fotográfica
Desde o seu advento que a fotografia tem tido um papel relevante na representação da lua através de retratos fiéis ou interpretações artísticas. Em 1865, o pioneiro da astrofotografia Lewis Morris Rutherfurd criou a primeira imagem detalhada da lua no seu observatório de Manhattan; cerca de 40 anos depois, o lendário artista fotográfico Edward Steichen criou ‘The Pond – Moonlight’, um marco incontornável no que à fotografia lunar artística diz respeito e que em 2006 foi vendido em leilão por 2,9 milhões de dólares. O mesmo título, que podemos traduzir por ‘O Lago ao Luar’, também poderia caraterizar perfeitamente a imagem que mostra um ufano Saxonia Moon Phase em frente à Ponte Rakotz no Parque Rhododendron em Kromlau, na Saxónia. Banhada pela luz prateada da lua cheia, a ponte e a sua imagem replicada na superfície da água misturam-se para formar um círculo perfeito. Um retrato místico.
Essa fotografia constitui o ponto de partida para um desafio que a Lange & Söhne lançou a dezasseis jornalistas especializados e bloggers relojoeiros em outras tantas cidades do planeta: envolver o Saxonia Moon Phase num cenário que incluísse uma ponte banhada pela luz da lua cheia. Depois da sessão inaugural na Saxónia, o relógio já passou ou ainda vai passar por Copenhaga, Londres, Tóquio, Tours, Sydney, Florença, Hong Kong, Nova Iorque, Oslo, Amesterdão, Lisboa, Rio de Janeiro, Pequim, Emirados Árabes Unidos e Varsóvia – a cada lua cheia, é tirada uma fotografia do Saxonia Moon Phase numa ponte das referidas localidades. E, como se pode constatar pela imagem inaugural recolhida em Kromlau, qualquer ponte mais pequena torna a missão um pouco mais fácil e o resultado mais pitoresco – quando me foi endereçado o convite ainda pensei na pequena ponte de pedra que há em Cascais com vista para o mar e para o Farol de Santa Marta, mas uma rápida inspecção fez-me ver que a opção era impraticável: para além de não haver espaço de recuo para uma fotografia abrangente do relógio com a ponte e a lua, a própria ponte estava em obras de restauro e coberta por andaimes. Gorada a hipótese de Cascais, a escolha tinha mesmo de ser feita em Lisboa.
Só que em Lisboa há duas pontes principais. Ambas de grande extensão, caraterística que tornava a tarefa mais complicada. E estamos no inverno, o que à partida diminuía logo as hipóteses de um céu desanuviado que permitisse captar a lua cheia em todo o seu esplendor. Para mais, a missão noturna tornava inviável qualquer aventura a solo – não sou propriamente um fotógrafo, sou sobretudo alguém que usa o iPhone para tirar wristshots de relógios… e por melhores que sejam os smartphones hoje em dia, não são suficientemente bons para o resultado que desejava face à ‘concorrência’ dos meus colegas internacionais. Pelo que decidi recorrer à prata da casa (Espiral do Tempo) e ao know-how do Paulo Pires para conseguir os melhores retratos possíveis de ambas as pontes para depois escolhermos uma fotografia final para apresentar à Lange & Söhne. E tivemos sorte: após um reconhecimento feito nos dias anteriores e sob a ameaça de mau tempo, conseguimos um céu relativamente desanuviado no dia de lua cheia.
Ponte Vasco da Gama
Começamos pela Ponte Vasco da Gama. Fomos avançando a pé praticamente desde o Parque das Nações em direção à ponte inaugurada em 1998 que passa por ser a mais longa da Europa – 12,3km no total, contabilizando o tabuleiro principal e todos os viadutos. Ao longo do caminho tirámos várias fotografias enquanto a lua cheia ia passando de uma posição abaixo do tabuleiro para cima da ponte, perdendo mesmo uma lanterna que caiu ao rio; acabámos por escolher o local mais próximo que nos foi possível, mantendo a perspetiva global e destacando o pendor arquitetónico da ponte atirantada gizada por quatro diferentes empresas e cujo batismo prestou homenagem aos 500 anos da descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama.
Ponte 25 de Abril
Depois, despachámo-nos a ir até à área de Belém antes que a lua cheia subisse em demasia ou que as nuvens nos estragassem os planos. Na véspera tinha estudado a zona ribeirinha e a minha preferência havia recaído sobre um local na vizinhança do Padrão dos Descobrimentos, pelo que fomos diretamente para lá – e conseguimos mesmo o retrato desejado, uma imagem que incluiu precisamente o simbolismo histórico do Padrão dos Descobrimentos, a estátua do Cristo-Rei na outra margem e, obviamente, a incontornável Ponte 25 de Abril que, a partir de 1966 e ao longo de 2,28km, facilitou sobremaneira a circulação entre o centro e o sul do país.
Claro que também aproveitamos para fotografar em estúdio o Saxonia Moon Phase. Para além de dotar o minimalismo da linha Saxonia mais a sua data sobredimensionada (numa janela dupla com caixilho em ouro) de um modelo com fases da lua cuja transmissão em sete etapas foi elaborada com tal precisão que o sistema só precisa de ser corrigido uma vez a cada 122,6 anos, a Lange & Söhne esmerou-se: o tom azul escuro do disco lunar em prata maciça resulta de um revestimento patenteado e as 852 estrelas representadas são recortadas com o recurso a um raio laser.
A Lange & Söhne tem vindo a acumular considerável experiência no desenvolvimento de indicações de fases da lua e o calibre L086.5 de corda automática que alimenta o Saxonia Moon Phase foi na altura (há um ano) o 16º movimento da marca dotado dessa popular complicação astronómica. A indicação lunar está associada à rodagem das horas, pelo que – tal como a própria lua – permanece sempre em movimento. Reproduz o período que vai desde a lua nova até à lua nova seguinte com uma exatidão na ordem dos 99,998 por cento, graças a uma transmissão precisamente calculada em sete etapas.
A ampla reserva de marcha de 72 horas é conseguida graças a um único tambor de corda. Um rotor central de grandes dimensões com massa centrífuga em platina distribui eficientemente a energia. Com um balanço clássico de parafusos, uma espiral Lange, uma platina de três quartos feita de prata alemã sem tratamento e o galo do balanço gravado à mão num movimento decorado artesanalmente com todo o requinte, o Saxonia Moon Phase reúne praticamente todas as caraterísticas de exceção que os conhecedores e aficionados de todo o mundo associam aos relógios concebidos pela A. Lange & Söhne.
Nunca escondi que os meus modelos preferidos da marca são os da linha Zeitwerk (e já tivemos oportunidade de andar por Lisboa com um Zeitwerk Striking Time); para além disso, o inconfundível Lange 1 é porventura o ex-libris da manufatura por simbolizar o seu renascimento em 1994 e depois há todas as grandes especialidades (desde o cronógrafo Datograph ao recente Tourbograph Perpetual Pour le Mérite), mas não há dúvida de que o Saxonia Moon Phase é também uma alternativa a ser considerada no catálogo. Com uma caixa em ouro branco (a versão que fotografámos) ou ouro rosa dotada de um contemporâneo diâmetro de 40 milímetros para uma espessura de 9,8 milímetros, acaba por ser um relógio que tanto pode ser usado com uma indumentária mais formal ou com roupa casual elegante. Ou ao luar, claro está.
Para terminar, aqui fica uma galeria com as imagens do projeto já recolhidas. É só clicar na imagem e ver o portfolio. Ora digam lá se as nossas não estão entre as melhores?
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