João Pontes Pereira é um dos maiores aficionados da Isotope em Portugal — pelo menos, e segundo dados apontados pela marca, será o português com mais exemplares adquiridos. No nono aniversário da marca fomos colocar nove questões ao colecionador lisboeta que conta no seu acervo com nove relógios Isotope.
Fundada em 2016 por um português radicado em Inglaterra há quase década e meia, a Isotope tem ganhado protagonismo entre as micromarcas de relevo — e, pela ligação a Portugal e até mesmo à Espiral do Tempo (através de duas edições limitadas), é uma companhia relojoeira que temos vindo a acompanhar com atenção. Não somos os únicos; muitos aficionados lusos são igualmente apreciadores e há alguém que se destaca em particular: João Pontes Pereira, um colecionador lisboeta que já conta no seu espólio com nove exemplares da Isotope. Convidámos-lo a contar-nos a história que o liga à marca de José Mendes Miranda… e as estórias associadas que tem para contar são muitas.

Mas quem é João Pontes Pereira? Ele apresenta-se: «Fui solicitador, depois advogado, e, desde há 28 anos, sou auditor e trabalho com Direito Público. A minha área de atividade é a fiscalização das autarquias locais e do setor empresarial local. Ao longo dos tempos, os meus interesses e atividades fora do Direito (hobbies e atividades extracurriculares, digamos assim) têm sido muitos, diversificados e com diferentes níveis de envolvimento, desde caça submarina, a mergulho com garrafa, passando por jogos de tabuleiro, pela fotografia- em especial máquinas vintage – pelo golfe, pela alta fidelidade, por café e por passeios de mota», entre outros. Mas, além dessa vasta pluralidade de interesses e paixões, há muito espaço na sua vida para o mundo dos relógios. Como se pode ver pelas inspiradas respostas às nove perguntas que lhe fizemos.

1. Como começou a sua paixão por relógios e, em particular, o que lhe chamou a atenção na Isotope?
Os relógios sempre estiveram presentes na minha vida, ainda que de forma simples e até inocente. Sempre senti uma grande atração por ‘aqueles objetos de trazer no pulso’. Mas só em 2018 comecei a olhar verdadeiramente para eles, a interessar-me e a aprender alguma coisa. E percebi logo que se trata de uma paixão quase patológica, esta coisa de passar o dia a admirar o pulso e sempre focados na próxima aquisição. Aprendi também que não há dois perfis iguais — cada cabeça tem a sua lógica e os seus antecedentes — e a minha história não tem nada de muito diferente, para além da diversidade de ‘apetites’ e das quantidades de peças adquiridas!
Os relógios, que sempre adorei desde que os meus pais me ofereceram um Cauny de corda manual na primeira metade dos anos 70, como era comum nessa altura, mas aos quais nunca tinha dedicado muito tempo, têm sido a maior adição de todos os meus interesses. Sempre tive dezenas de relógios baratos, desde Casios a Swatches, passando por inúmeras outras peças sem relevância. Ao longo da vida marcaram-me, para além do referido Cauny, um Camel comprado na viagem de avião para a minha lua de mel, em Cancun, em 1992, e um Timex que comprei, acidentalmente, numa ida à fábrica da marca, na Costa da Caparica, com o meu sogro, no dia a seguir ao nascimento do meu filho mais velho, em 1994.

Mas foi só em 2018, com a minha inscrição no Fórum DezDez, do Lourenço Salgueiro, que a ‘doença’ se entrincheirou sem apelo nem agravo; comecei a gostar seriamente de relógios e, particularmente, de relógios antigos e usados. Lembro com muito carinho o momento feliz em que, de uma só vez, comprei os meus três primeiros relógios vintage, todos dos anos 70: um Seiko 5, um Altair e um Said, estes portugueses. Daí em diante, vivi três frenéticos anos em que acumulei relógios, mas também memorabilia diversa, relógios de mesa, despertadores, caixas de relógios antigos, navalhas de relojoeiros, placas de marcas, expositores, livros… enfim, só em relógios de pulso conto hoje cerca de 400 peças no meu ‘ajuntamento’… uma febre sem paralelo!

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Não tenho memória da primeira vez que ouvi falar na Isotope, mas sei que foi no grupo do Whatsapp, criado pelo Pedro Costa Ferreira, o Watches & Drinks, ao qual tenho o prazer de pertencer desde final de 2021 ou início de 2022. É um grupo sensacional, cheio de gente ótima, diversificada em idades, interesses e formas de estar na vida, mas com a enorme doença dos relógios em comum. Os eventos ‘ao vivo’ deste grupo, tal como os da Espiral do Tempo, são sempre animados, concorridos; são excelentes momentos, onde já considero ter muitas pessoas amigas, com quem gosto muito de estar. E lembro-me que, ao ver o HydriumX ‘Will Return’, e ao perceber o enorme furor que estava a causar, a minha primeira impressão não foi a melhor, achei que o nome da marca me fazia lembrar uma caixa de comprimidos e que o relógio, nas fotos, parecia um relógio de brincar, para crianças.

Em rigor, na altura, eu nem sequer prestava grande atenção a relógios novos, recentes ou modernos, estava todo virado para a lógica vintage. Mas, aos poucos, comecei a olhar com mais atenção para as fotos que iam aparecendo no meio desse furor pelo ‘Will Return’ e comecei a perceber que era um caso muito sério de imaginação e de originalidade. Percebi também que, ao contrário de um ‘brinquedo’, a qualidade era enorme. De tal forma que me dispus a comprar um relógio da marca, não o ‘Will Return’, que entretanto tinha esgotado, mas o Blue Night, cujo tom ‘azul negro’, num diver totalmente diferente dos clássicos, me transportou de imediato para as quentes noites do verão que se avizinhava.
Recebi-o com um invulgar entusiasmo, para quem estava habituado a juntar (e conviver) somente (com) relógios antigos e usados. Fiquei rendido à qualidade dos materiais, ao rigor colocado na construção da caixa, ao formato totalmente original da linha Hydrium e ao bem conseguido mostrador, num preto profundo que até parece azulado, pela influência dos ponteiros. Sóbrio, elegante, original e muito cativante. Predicados que vim a encontrar em todos os meus restantes relógios da marca e que continuo a encontrar em todos os novos lançamentos. Mais do que me ‘chamarem a atenção’, cativaram-me completamente.
2. Atualmente tem nove relógios da marca, o mesmo número de anos que a Isotope celebra em 2025. Pode revelar quais são e associar três palavras a cada um deles?

Será difícil associar somente três palavras, pois cada um deles merece bem mais do que isso, em palavras, em sentimentos e em admiração, pelo que me atrevo a dizer um pouco mais, não sobre as tecnicidades, mas antes sobre as sensações que me despertam. Tenho, por ordem de entrada no meu ‘universo de perdição’:
1 – O Hydrium Blue Night: negro quente, elegante e discreto, comprova o princípio de que ‘menos é mais’, é um hino à simplicidade e ao bom gosto;
2 – Old Radium Bronze Pilot Ox Blood Red: excelente companheiro para as horas invernosas junto a uma lareira, uma peça quente e original, com uma caixa em bronze viva e orgânica.
3 – HydriumX ‘Will Return’: um ‘brinquedo’ muito sério, pleno de originalidade, companheiro predileto para a praia e para o verão inteiro.
4 – GMT 0º ‘Terra Maris’ Limited Edition: mistura de cores inspirada em Cascais da minha predileção, campo e beira-mar, camurça e ganga, numa peça com um volume poderoso e um mostrador ímpar dotado de um segundo fuso horário.

5 – Old Radium Portugal-UK 650 x Espiral do Tempo: um bronze capaz de suportar as agruras de outros 650 anos da aliança entre Portugal e o Reino Unido com dignidade e beleza, que emoldura o branco cândido do mostrador com simplicidade e elegância.
6 – Hydrium Revuelta Azul: uma ode ao azul, pleno, vencedor, o azul do meu Futebol Clube do Porto e do mar, numa caixa sempre bela, a cada olhar.
7 – Hydrium Califórnia: no mostrador, uma textura de negro salpicante com pormenores que nos aquecem o coração, na mesma caixa Hydrium sempre igual, mas sempre diferente, sempre bela, sempre sedutora, em cada olhar que lhe dispensamos.
8 – HydriumX BSMH – Be Steel My (Blue) Heart: a sua designação prova a sua linhagem sedutora e dispensa explicações, é o meu coração azul brilhante, empoderado pelo aço envolvente e pela inovação dos ‘altos e baixos relevos’ de uma imponente luneta.
9 – Goutte d’Eau Compressor Diver Nordblad ‘Special Edition’ sem data com calibre NH38: é o meu regresso ao passado da Isotope, uma descoberta improvável e apaixonante, as primeiras obras podem ser tão únicas e avassaladoras como as últimas, é um hino à originalidade e ao bom gosto, na sua caixa ‘redonda aquadradada’, onde imperam pormenores de azul marítimo, num formato perfeito para o meu pulso.
Nove relógios, que condizem, por casualidade, com nove anos de vida da Isotope, mas, tenho a certeza, seguir-se-ão mais relógios e muitos mais anos e ainda mais sucessos da Isotope!

3. A Isotope é conhecida pelo seu design muito próprio e pela abordagem independente na relojoaria. O que mais aprecia na identidade da marca?
A generalidade das marcas relojoeiras, incluindo muitas microbrands, aderiu à tendência reinante, que ainda hoje se verifica, em alguns casos de forma muito marcada, de recorrer à lógica do design rétro, imitando os relógios antigos, vintage, originais, num claro assomo de falta de imaginação e de capacidade de inovar. Como sempre preferi o original à cópia, por muito boa que esta fosse, nunca me deixei aliciar por essa lógica. Esta a razão pela qual adoro relógios de outras épocas, desde o início do século passado, até ao final dos anos 70, e nunca dediquei grande afeto aos relógios atuais.

A Isotope teve o condão de me distrair desta minha realidade. E tenho por certo que a principal razão tem a ver com a originalidade das suas peças, com a capacidade de inovar, mas inovar bem, com distinção e bom gosto. E este é o aspeto que mais aprecio na marca. Mas não é só por isso. É também porque o consegue fazer com um grande sentido de harmonia em todos os elementos do relógio. Pelo cuidado que coloca em todos e cada um dos pormenores. Pela qualidade dos materiais, literalmente palpável e evidente. No conjunto, os relógios Isotope colocam-se a si mesmos num patamar muito superior aos seus preços de mercado, rivalizando com grandes marcas de luxo e nada lhes ficando a dever. E saliento que estes factos se revelam cada vez mais notáveis em cada novo lançamento da Isotope, na linha Mercury, na linha Flyway, na linha MoonShot. A Isotope continua a evoluir e fá-lo da melhor forma possível!

4. O que procura num relógio, sempre que anda à caça de mais um? O design, a história, a mecânica ou algo mais?
Não sou um conhecedor nato de relojoaria, afinal, entrei neste mundo há poucos anos, tenho muito que aprender e tenho tido pouco tempo para isso. Gosto de um movimento que seja bonito à vista — um Valjoux, um Landeron, um Vénus, ou até um movimento antigo, de pontes — mas a parte mais técnica escapa-me. A história de uma marca ou de um modelo é algo que nos cativa, ainda que inconscientemente, pelo que lhe dou bastante valor, está sempre presente no nosso pulso quando usamos um relógio com linhagem e, quando tenho tempo, gosto de investigar um pouco sobre a origem de cada um. Mas, sem dúvida, os aspetos que mais me cativam são o design, o bom gosto, a simplicidade, o equilíbrio das partes e o resultado do todo. É o que salta à vista, quando me deixo seduzir por uma peça determinada. Para além disso, as especificidades de cada peça desejada podem variar bastante consoante o momento, o estado de espírito e até as possibilidades financeiras desse momento. O certo é que só uso um relógio quando o meu pulso ‘se sente feliz’ com ele. E essa felicidade resulta sempre de uma mistura entre o design, os pormenores, a qualidade e a história de cada peça. O que faz com que olhe mil vezes por dia para ele. E quase sempre me esqueço de ver as horas!

5. Há algum modelo da Isotope que ainda não tenha, mas que gostaria de acrescentar à coleção?
Sim, claro, quero ter todos os que ainda não tenho! Acalento a esperança de conseguir vir a ter um relógio de cada modelo, mesmo os que já estão esgotados! É uma marca que me apaixonou desde cedo, gosto de todos os modelos, cada um tem a sua personalidade e a sua marca no universo Isotope, pelo que todos merecem um lugar na minha coleção! Mas o próximo será, assim espero, o MoonShot ‘Terra Maris’, fruto de uma parceria com o grande Miguel Seabra, tal como o GMTº ‘Terra Maris’ que já tenho, e que é um cronógrafo extremamente original, inovador e cativante, com as cores de que gosto. Já o tive no pulso e é equilibrado e imponente, adorei.

6. Sendo um colecionador, como vê a evolução da Isotope ao longo destes nove anos?
Como já referi, a minha aquisição mais recente foi um dos primeiros modelos da Isotope, o Goutte d’Eau Nordblad, e fiquei impressionado com o equilíbrio do relógio e com a sua beleza. Daí para cá, os modelos têm vindo a ser lançados cada vez mais rapidamente, cada vez com maiores inovações, mas com cautela e mantendo a necessária continuidade em aspetos de pormenor, como, por exemplo, a pequena gota de água, que se pode ver no formato lateral das caixas Hydrium e HydriumX, no ponteiro dos segundos do ‘Will Return’, na parte central de vários mostradores e nas coroas, tendo passado a ser o símbolo da própria marca — em lugar do nome — nas linhas Flyway e Mercury.

Eu diria que se trata de ‘evolução na continuidade’, significando isso evolução nos aspetos de inovação e originalidade, e continuidade nos aspetos de qualidade, equilíbrio e bom gosto! A Isotope tem-se pautado, nestes nove anos, por uma compreensível cautela em cada passo, nomeadamente ao nível dos preços que pratica, sem descurar em nada a evolução, o que a torna numa marca que se apresenta segura, sustentável e confiável, aspetos que são bastante importantes para todos os seus clientes e que lhe auguram um grande futuro. O José Mendes Miranda, para além de ser um criativo de excelência, é uma pessoa muito conhecedora e consciente, pelo que me parece certo que dentro dos próximos nove anos a Isotope terá um estatuto bastante mais elevado do que já goza neste momento. Tem tudo para isso.

7. Tem algum momento especial ou história curiosa associada a um dos relógios Isotope que tem na coleção?
Não tenho uma história, mas tenho várias curiosidades que me ficaram na memória: o Blue Night, que impressionou dois amigos meus que não usam nem ligam nada a relógios e que, com ele na mão, ficaram admirados e o elogiaram imenso; o ‘Will Return’, quanto ao qual, como já mencionei, eu achava de início que poderia vir perfeitamente dentro de um ovo de chocolate Kinder, mas que, pouco depois, desesperei até o José Mendes Miranda me arranjar forma de o ter (de um comprador que desistiu da compra); o Old Radium Portugal–UK 650, que fui levantar à Espiral do Tempo e que me deu o prazer de conhecer a redação da revista e dos que lá trabalhavam, em visita guiada pelo Miguel Seabra e pela Cesarina Sousa; e ainda o Be Steel My (Blue) Heart, que representa uma agradável surpresa (o José Mendes Miranda sabe do que falo) e que muito interessou uma agente da polícia francesa quando eu, vindo da Suíça de automóvel, na fronteira, tive de garantir que não trazia relógios de Genebra, pois não tinha encontrado nada mais bonito que o relógio que tinha no pulso. Ao que ela olhou demorada e curiosamente para ele e tive de lhe explicar a sua origem, que era da marca de um amigo meu que até vive em Inglaterra! E não, não trouxe comigo relógios de Genebra não declarados!

8. Se pudesse sugerir um detalhe ou complicação para um futuro modelo da Isotope, qual seria?
Em tempos sugeri que o logo da marca poderia ser aplicado, tridimensional, em vez de ser pintado, mas depois vi que não era boa ideia, prejudicava a harmonia e introduziria ‘ruído’. A verdade é que a imaginação e o bom gosto do José Mendes Miranda superam muitíssimo qualquer ideia que eu pudesse
ter em matéria de detalhes ou complicações. Pelo que nem me atrevo a pensar nisso, deixo por conta dele! Em todo o caso, há uma complicação a que acho particular piada, as fases da lua, e acredito que, quando aparecer um dia num Isotope, será de uma forma completamente inesperada e inovadora!
9. Qual é o seu Isotope preferido, de entre os que tem? Há algum que tenha um significado especial?
Bom, essa pergunta é ingrata, um pouco como perguntar a um pai de qual filho ele gosta mais! Já uma vez se colocou essa questão no grupo Watches & Drinks e a resposta foi a mesma: são todos! Gosto mais de usar uns no inverno e de usar outros no verão. Mas é só, cada um deles é o meu preferido no momento em que o uso… até olhar de novo para a caixa de onde o tirei e onde estão guardados os ‘irmãos’ a piscarem-me o olho! Mas há um que, de facto, tem um significado especial: o Be Steel My (Blue) Heart, pois recebi-o de forma inesperada, foi uma espécie de surpresa! E é uma peça sensacional, que me apaixonou de imediato!