O(s) Relógio(s) do Ano

Como sempre sucede, cada final do ano representa tempo de balanço e é a altura ideal para fazer a resenha dos melhores lançamentos de 2022. Aqui fica a seleção da equipa da Espiral do Tempo e ainda algumas notas de destaque.

Não é fácil escolher o Relógio do Ano para qualquer jornalista na área da relojoaria. Centenas de modelos relevantes foram lançados ao longo de 2022, com um pico natural nos principais certames relojoeiros (Watches and Wonders, Geneva Watch Week, SIAR), e há sempre a tendência para estabelecer um primeiro filtro — ou seja, categorizar, para tentar ordenar as ideias e os candidatos. Como sucede nas eleições destinadas a estabelecer os melhores, à imagem do Grand Prix d’Horlogerie de Genève ou do Relógio do Ano em Varsóvia. E categorizar relógios é algo de instintivo face às dúzias de excelentes peças apresentadas anualmente: que tipo de preço, para homem ou senhora, elegante ou desportivo, simples ou complicado?

MoonSwatch
Os modelos MoonSwatch foram o golpe de marketing do ano… e do século XXI | © Swatch

Houve um modelo específico (na verdade, uma coleção cápsula) que talvez tenha chamado para si o maior protagonismo de 2022: o MoonSwatch, num crossover entre a Swatch e a Omega que deixou o mundo a falar de relógios e longas filas de espera por toda a parte onde estivesse à venda. Tendo em conta o impacto cultural e a acessibilidade do preço de venda (na loja, porque houve muita especulação no mercado secundário!), o MoonSwatch foi mesmo o relógio do ano… mas não o podemos contabilizar, tendo em conta que a escolha está limitada a candidatos mecânicos.

MB&F LM Sequential EVO com mostrador laranja no pulso
Cronógrafo revolucionário: o MB&F LM Sequential EVO | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Apanhando boleia dos já mencionados certames, o Grand Prix d’Horlogerie de Genève e o Relógio do Ano em Varsóvia atribuíram, entre os vencedores das suas várias categorias, o Grande Prémio final ao MB&F LM Sequential EVO e ao Vacheron Constantin Les Historiques 222. Dois relógios que constam obrigatoriamente da nossa seleção e que tão diferentes são — o LM Sequential EVO como complexo exemplo da alta relojoaria conceptual e que é provavelmente o melhor cronógrafo mecânico jamais idealizado, o Les Historiques 222 como saudosista exemplo de um ícone recuperado e atualizado de maneira contemporânea respeitando absolutamente o traçado original.

Gémeos com uma diferença de 45 anos: a reedição e o original 222 da Vacheron Constantin | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

A esses dois ‘campeões’ juntamos os protagonistas de três das nossas quatro capas de 2022 (porque restante capa foi uma imagem alternativa): o A. Lange & Söhne Odysseus Titanium, o TAG Heuer Carrera Red Limited Edition e o Zenith Calibre 135-Observatoire x Kari Voutilainen. Um triunvirato que foi parar à capa por muito boas razões, que podem ser encontradas no artigo principal de cada uma das respetivas edições. Para quem não leu ou não tem a(s) revista(s), elas podem ser encontradas na loja do nosso site.

A. Lange & Söhne Odysseus
A. Lange & Söhne Odysseus na capa da Espiral do Tempo 79 | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
TAG Heuer Carrera Red Limited Edition
TAG Heuer Carrera Red Limited Edition na capa da Espiral do Tempo 80 | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Na resenha do Watches and Wonders deste ano destacamos também os melhores modelos da principal feira relojoeira do planeta e esse Best Of mantém-se naturalmente válido neste final de 2022 — com o Les Historiques 222 à cabeça e bem secundado pelo ‘clássico’ Richard Lange Minute Repeater da A. Lange & Söhne, pelo ‘épico’ Roger Dubuis Excalibur Knights of the Round Table, pelo ‘canhoto’ Rolex GMT-Master II de coroa à esquerda (aka ‘Destro’), pelo ‘funcional’ Tudor Black Bay Pro, pelo ‘futurista’ TAG Heuer Carrera Plasma Tourbillon Nanograph, pelo ‘aventureiro’ Patek Philippe Calatrava Annual Calendar Travel Time, pelo ‘negro’ (e conceptual) H. Moser Streamliner Vantablack, pelo ‘alvo’ IWC Pilot Watch Chronograph Top Gun Edition ‘Lake Tahoe’, pelo ‘poético’ Van Cleef & Arpels Lady Arpels Heures Florales, pelo ‘fofo’ Cartier Coussin de Cartier, pelo ‘transparente’ (e musical!) Chopard LUC Full Strike Sapphire, pelo ‘semitransparente’ Panerai Luminor Goldtech Perpetual Calendar, pelo ‘freak’ Ulysse Nardin Freak S, pelo ‘estacionário’ Jaeger-LeCoultre Atmos Tellerium, pelo ‘psicadélico’ Hublot Big Bang Rainbow e pelo loucamente ‘simbólico’ M.A.D Editions MAD1 Red.

Rolex GMT-Master II
Rolex GMT-Master II (aka ‘Destro’, ‘Green Lanter’ ou ‘Sprite’) | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Pormenor mostrador Patek Philippe Calatrava Annual Calendar Travel Time Ref. 5326G-001
Patek Philippe Calatrava Annual Calendar Travel Time Ref. 5326G-001 | © Patek Philippe
MAD1 Red
O ‘louco’ M.A.D Editions MAD1 Red | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

A essa seleção, juntamos-lhes o Hermès Arceau Le Temps Voyageur para os viajantes, o Patek Philippe Chronograph Advanced Research para quem tem pressa, o Grand Seiko Kodo Constant Force Tourbillon para quem quer andar com a cabeça à roda, o Jaeger-LeCoultre Rendez-Vous Dazzling Shooting Star para quem quer concretizar desejos e o Cvstos Metropolitan como exemplo atual da tipologia do design integrado estreada há precisamente 50 anos com o Royal Oak da Audemars Piguet. E, por isso mesmo, é forçoso incluir na lista o atualizado Royal Oak Jumbo. E o ‘primo’ Nautilus da Patek Philippe, que após a extinção da versão em aço surgiu com novas referências em ouro.

Tudor Black Bay Pro deitado de lado sobre fundo branco | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
O melhor de sempre da Tudor? Black Bay Pro | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Metropolitan PS Skeleton em titânio num fundo laranja
Cvstos Metropolitan PS Skeleton em titânio | © Susana Gasalho / Espiral do Tempo

O design integrado foi precisamente a maior tendência do ano, em crescendo nítido e imparável já desde 2016. A outra tendência evidente também vem de trás, embora mais recente: a dos mostradores coloridos, com especial destaque para as variações do vermelho (do encarnado ao Bordeaux). Cada vez mais modelos surgem dotados de sistema de troca rápida de correias/braceletes e finalmente começam a aparecer mais fechos de báscula com microacerto para um melhor ajuste ao pulso, acompanhando pequenas variações de diâmetro entre o inverno e o verão. Outra tendência fortíssima foi a das colaborações, muitas vezes mesmo tripartidas — desde as micromarcas, como a Isotope ou a Studio Underd0g, até às manufaturas; o melhor exemplo disso é o Zenith x Kari Voutilainen x Phillips estampado na capa da nossa última edição de 2022.

Zenith x Kari Voutilainen x Phillips Calibre 135 Observatoire na capa da Espiral do Tempo 81 | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Isotope GMT 0 ‘Terra Maris’ numa mesa com ferramentas relojoeiras
A colaboração Isotope GMT 0º ‘Terra Maris’, inspirada por Cascais | © Isotope
Jaeger-LeCoultre-Rendez-Vous-Star num pulso feminino
Jaeger-LeCoultre Rendez-Vous Dazzling Shooting Star e Dazzling Shooting Star Métiers Rares | © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo

Entretanto, a marca consagrada que mais subiu de cotação em 2022 foi a Cartier, com um modelo Crash vintage a somar 1,65 milhões em leilão e muita loucura à volta da reedição do Pebble já mais no final do ano. A Rolex, a Patek Philippe, a Audemars Piguet, a Richard Mille continuam a ser os quatro nomes mais fortes da indústria no que diz respeito a valorização nos leilões, grey market e mercado pre-owned. Mas as marcas independentes também estão a ganhar grande fôlego, como sucede com a Akrivia e a De Bethune; também o trabalho de mestres como George Daniels, Philippe Dufour, François-Paul Journe e Kari Voutilainen foi muito valorizado nas principais subastas do ano.

Cartier Pebble de 1972 e a reedição de 2022
Cartier Pebble original de 1972 e a reedição de 2022 | © Cartier

O conceito de economia circular e sustentabilidade também esteve muito em voga em 2022, tendo mesmo sido organizado um salão — o ReLuxury — à volta da temática. Outra tendência que se fez notar foi a feminista, com destaque para várias iniciativas (como a Watch Femme) que visam sublinhar o papel da mulher na indústria relojoeira — que, tradicionalmente, é muito masculina (para não dizer machista).

Mulher do Ano

E a personalidade feminina do ano é Marine Lemonnier-Brennan, antiga braço-direito e RP de Jean-Claude Biver, que fundou aquela que é atualmente a melhor empresa de comunicação do panorama relojoeiro: a 218 Consulting, responsável por alguns dos melhores eventos do ano, como a exposição da OAK Collection no Design Museum de Londres e o lançamento do Jacob & Co Godfather 50th Anniversary em Taormina.

Marine Lemonnier-Brennan
Mulher do Ano: Marine Lemonnier-Brennan | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Membro do júri do Grand Prix d’Horlogerie de Genève, Marine Lemonnier-Brennan tem a secundá-la na 289 Consulting uma experiente equipa de luxo — e composta exclusivamente por mulheres que têm estado associadas à comunicação de várias marcas de prestígio ao longo da última década: Estelle d’Hubert, Aude Campanelli, Cloé Biessy e Marie Ansel. Ou seja, a ‘Wonder Woman’ e as ‘Spice Girls’ da relojoaria… que vêm dar força feminina a um setor que, apesar de algumas exceções (como Catherine Renier, CEO da Jaeger-LeCoultre, ou Hind Seddiqi, diretora da Dubai Watch Week), continua a ser maioritariamente liderado por homens nos principais cargos decisórios.

Desporto do Ano

O futebol reforçou a sua popularidade à escala global em 2022, batendo todas as outras modalidades no plano mediático. Obviamente, a indústria relojoeira não podia passar ao lado de tal fenómeno. E Cristiano Ronaldo foi seguramente uma das figuras do ano, por todas as peripécias que rodearam os últimos meses da sua carreira — desde a polémica saída do Manchester United até à sua contratação bilionária pelo Al-Nassr, passando pela controversa participação no Campeonato do Mundo de Futebol. Pelo meio foi anunciada a estreia da sua coleção com a Jacob & Co, uma marca que já esteve também associada a Luís Figo e Lionel Messi: os dois modelos Jacob & Co x CR7 Icon (um vermelho, outro verde, cada qual com versão normal e variante joalheira carregada de diamantes) mostram o astro português no mostrador acompanhado de um turbilhão e no fundo da caixa.

Um dois dois modelos da Jacob & Co dedicados a Cristiano Ronaldo | © Jacob & Co

O Campeonato do Mundo de Futebol foi mesmo o evento desportivo mais relevante do ano e a Hublot, enquanto cronometrista oficial, esteve em grande destaque através da presença no pulso das equipas de arbitragem e dos muitos embaixadores associados à modalidade — sendo de ressalvar que o mais famoso de todos eles, Edson Arantes do Nascimento (Pelé!), nos deixou nos últimos dias de 2022.

O ano de 2022 assistiu à despedida do ‘rei’ Pelé | © Hublot

Pelé era um de muitos craques do futebol que constam das fileiras da Hublot, que conta também com José Mourinho como embaixador e Luís Figo como amigo da marca.

Polémicas do Ano

O mais odiado relógio do ano, acusado de ser feio e oportunista (entre muitos outros epítetos menos agradáveis), foi o filho bastardo do Royal Oak e do Nautilus — um modelo que junta os elementos de estilo desses dois ícones da relojoaria desenhados por Gerald Genta para aproveitar a loucura atual à volta dos famosos modelos e do design integrado. A marca que o lançou começou por se chamar Genta Genius, mas foi obrigada a alterar o nome para Ingenieux (Gerald Genta também desenhou o Ingenieur da IWC)…

O mais controverso e odiado relógio de 2022, um cruzamento entre o Royal Oak e o Nautilus | © Ingenieux

Finalmente, o statement relojoeiro do ano foi o do campeoníssimo da Formula 1 Lewis Hamilton: face à proibição da utilização de joalheria nas corridas por parte da FIA, o piloto britânico surgiu em conferência de imprensa com três relógios IWC: o Pilot’s Watch Top Gun Mojave num pulso, a edição limitada Pilot’s Watch Chronograph 41 Edition ‘Mercedes-AMG Petronas Formula One Team’ e o Big Pilot’s Watch no outro.

Lewis Hamilton surgiu em conferência de imprensa com três relógios IWC
Lewis Hamilton surgiu em conferência de imprensa com três relógios IWC | © DR

Qual foi o vosso relógio — ou os vossos relógios — do ano? Boas Entradas para todos!

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