A TAG Heuer está de regresso como official timekeeper da disciplina máxima do desporto motorizado. Aqui ficam cinco notas de destaque relativamente a uma associação multimilionária com muita história.
Desde os seus primórdios que a TAG Heuer encarou o automobilismo como um parceiro privilegiado e inspirador, começando pelos instrumentos de bordo em 1911. Essa filosofia tomou uma nova dimensão com a estreita associação a desportos motorizados a partir da década de 60, período em que nasceram alguns dos principais ícones da marca — como o Carrera, o Autavia e o Monaco. Mas se esses míticos modelos foram especialmente inspirados por ralis ou corridas de grande turismo, o acentuar da ligação da marca ao piloto helvético Jo Siffert no final dos anos 60 e à escuderia italiana Ferrari no início da década de 70 deu origem a uma aventura na Formula 1 que acaba de ser reforçada — com o reassumir do estatuto de Official Timekeeper da disciplina máxima do desporto motorizado, no âmbito de um milionário acordo de patrocínio estabelecido pelo grupo LVMH com a duração de dez anos.
O envolvimento institucional da TAG Heuer com a Formula 1 surge como consequência natural da relação umbilical com o mundo automóvel desde os seus primórdios. A história fala por si: se, por um lado, a competição baseia a sua existência na contagem de períodos de tempo, a marca suíça especializou-se na conceção de cronógrafos de extrema precisão e o seu mais recente exercício de estilo é uma maravilha. Quando várias equipas do primeiro Campeonato do Mundo de Formula 1 em 1950 selecionaram instrumentos Heuer para avaliar o seu rendimento, foram dadas as primeiras voltas na cronometragem de eventos da disciplina. Anos mais tarde, nos tempos de liderança de Jack Heuer, foi um piloto helvético a estimular a sua ligação oficial à Formula 1 que, hoje em dia, conta com 750 milhões de fãs em todo o mundo, 90 milhões de seguidores nas suas redes sociais oficiais e uma renovada base de fãs com muitos jovens (um terço abaixo dos 35 anos) e muitas mulheres (42 por cento). A temporada de 2024 contou com 1,5 biliões de espetadores e as recentes séries da Netflix sobre a Formula 1 (‘Drive to Survive’) e Ayrton Senna aliciaram todo um novo público.
Aqui ficam cinco notas de destaque sobre a ligação da TAG Heuer à Fórmula 1.
1. Precisão como ponto de partida
A TAG Heuer tem escrito a sua história comum com o desporto automóvel desde 1911, ano de lançamento do ‘Time of Trip’. Em 1916, é apresentado o revolucionário Mikrograph, primeiro cronógrafo com capacidade de medir até ao 1/100 de segundo numa altura em que a precisão não ia além do 1/5 de segundo. E acabou por ser o mundo da velocidade a revelar-se como o principal estímulo para o aperfeiçoamento mecânico e diferentes soluções técnicas. Em 1933, surgiu o Autavia, que podia ser utilizado tanto nos painéis de bordo automobilísticos como na aviação (o nome é mesmo uma contração entre as duas áreas); o Mikrotimer (1966), preciso até ao 1/1000 de segundo, representou uma nova era na medição do tempo.
Em 1969, num consórcio com outras marcas (Leónidas, Buren, Breitling), idealizou o primeiro mecanismo cronográfico automático — o Calibre 11 ou Chronomatic — utilizado em modelos que ficaram definitivamente associados a pilotos, como o Autavia com Jo Siffert e o Monaco com Steve McQueen. Jean Campiche é outro nome que se destaca: ex-piloto de motociclismo e engenheiro eletrotécnico, foi aposta decisiva para liderar um departamento especializado em cronometragem nos anos 80 e tornou-se numa lenda viva. Em 1992, a TAG Heuer foi selecionada para Cronometrista Oficial do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 pela primeira vez. Está agora de regresso em 2025.
2. A ligação helvética
No início foram os ralis. Aqui fica a explicação de Jack Heuer numa das entrevistas que nos concedeu há uns anos: «Tudo começou com os ralis. Eu estava nos Estados Unidos com os nossos cronógrafos de bordo e na altura não era permitido fazer corridas de velocidade, mas havia corridas de precisão em que era preciso estar a determinada hora em determinado local; era um passatempo de fim-de-semana para as pessoas chiques. Tornámos-nos cronometristas oficiais das 24 Horas de Sebring e depois comecei a cronometrar outras provas e a conhecer muita gente, como os irmãos Rodriguez — que me falaram da Carrera Panamericana e me deram a ideia de batizar o novo cronógrafo em 1962. Quando estava à procura de um método para publicitar os novos cronógrafos automáticos que lançámos em 1969, falámos com o piloto suíço Jo Siffert e no acordo estabelecemos que usaria um logótipo no fato e o novo Autavia no pulso».
Daí uma determinada versão do Autavia ter ficado conhecida como ‘Jo Siffert’ e ser um dos modelos vintage especialmente procurados por Heueristas, como o colecionador Nicholas Gatehouse. Jo Siffert passou a usar relógios da marca no paddock e vendeu vários a outros pilotos, até ao acidente fatal que o vitimou no circuito de Brands Hatch (outubro de 1971).
«Foi com Jo Siffert que entrámos na Fórmula 1, em 1969, numa altura em que não havia patrocinadores fora do mundo automóvel: fomos os primeiros», recordou Jack Heuer. «Depois, o Jo Siffert apresentou-me ao Clay Regazzoni, o Clay Regazzoni apresentou-me à Ferrari e entrámos na Formula 1. Foi muito importante, porque o facto de estarmos com a Ferrari e de eles porem o nosso logótipo nos carros tornou-nos conhecidos em todo o mundo — no Brasil, na Austrália, no Japão. Depois, fizemos uns relógios de mesa em forma de capacete e cada piloto recebia um franco por cada capacete vendido; tínhamos cerca de dez diferentes, desde o capacete do Jacky Ickx ao do Nikki Lauda, passando pelo Carlos Reuteman, Mario Andretti, Clay Regazzoni. Até nos livros do Michel Vaillant se viam os logótipos da Heuer. Vendíamos uma enorme quantidade de autocolantes porque as pessoas gostavam do nosso logo e tínhamos uma publicidade incrível».
3. O fator Ferrari
A Ferrari foi um trampolim para mais altos voos e uma ligação maior à Fórmula 1. «Na altura, a cronometragem era completamente amadora. A Ferrari não gostava nada da situação, sobretudo em Le Mans — era muito complicado medir o tempo de noite. Então, desenvolvemos uma instalação a pedido da Ferrari para o circuito de treinos de Fiorano e levámos essa instalação para a Fórmula 1», salienta Jack Heuer. A associação teve outras valências: o cronógrafo Monza foi lançado em 1976 para comemorar o título mundial de construtores da Ferrari.
«De repente, a nossa cronometragem era muito melhor do que a cronometragem oficial. As outras escuderias, como a McLaren ou a Surtees, também começaram a comprar o nosso equipamento e as equipas passaram a ter melhores sistemas de medição do que o sistema oficial usado pela organização. Então desenvolvemos um conceito de medição com um instrumento em cada carro e apresentámos o sistema ao Bernie Ecclestone em 1977, na Bélgica. A coisa correu bem e ele pediu-nos para passar a fazer a cronometragem de todas as corridas… mas de graça», recorda.
«Na altura, não pudemos aceitar porque era necessário disponibilizar uma equipa permanente e tratava-se de um investimento de muitos milhões de dólares. Outros aproveitaram-se do nosso sistema, mas voltámos oficialmente em 1992. As transmissões televisivas eram então algo chatas — não se sabia bem o que se estava a passar. O novo sistema de cronometragem ajudou a tornar tudo muito mais interessante com as informações suplementares fornecidas no écrã; de repente, passou a haver muito mais telespectadores e a organização passou a cobrar somas enormes pelos direitos televisivos». Da Ferrari na década de 70, a TAG Heuer passou para a McLaren nos anos 80 e com ela ficou cerca de três décadas até transitar para a Red Bull Racing no novo milénio, mais precisamente a partir de 2015.
4. A linha Formula 1
Nos anos 80 começou também a ver-se o acrónimo TAG em carros de Formula 1, nomeadamente nos anos de glória da Williams. A TAG (Techniques d’Avant Garde) era uma empresa pertencente ao magnata Mansour Ojjeh, um maníaco do desporto automóvel. E foi por via dele que entrou na Heuer e a marca se tornou TAG Heuer após a fusão em 1985. A primeira linha lançada sob o novo nome composto? Formula 1. O nome não engana; com as suas cores inspiradas na alargada paleta cromática das corridas, a linha Formula 1 ficou desde logo intimamente associada aos desportos motorizados — e, no que diz respeito a preços, posicionou-se na linha da frente do seu catálogo: representa a entrada na coleção.
Caracterizava-se por uma viva combinação de cores, mecanismos de quartzo e a conjugação do aço com matérias que eram novas para a altura, derivadas do plástico. Após um hiato, a linha Formula 1 foi reativada em 2004; o visual e a técnica melhoraram significativamente no sentido de lhe dar um peso menos lúdico e mais relojoeiro — sem perder o caráter desportivo e o preço mais acessível.
Entretanto, em 2024 foi lançada uma edição especial revivalista TAG Heuer x Kith muito próxima dos Formula 1 originais.
5. Números e Nomes
A lista de números e nomes que emana da histórica associação da TAG Heuer à Formula 1 é extraordinária.
Senão, veja-se: a TAG Heuer foi a primeira marca a ter o seu logótipo num carro de Formula 1 em 1969, a primeira a patrocinar uma escuderia de Formula 1 em 1971 e conta atualmente com 239 vitórias, 613 pódios, 9.471 pontos, 11 títulos mundiais de construtores e 15 títulos mundiais de pilotos. Conta no seu historial com várias peças que ostentam a assinatura de lendários circuitos (Silverstone, Jarama, Monza, Monaco, etc) e carismáticos campeões (começando pelas edições limitadas em homenagem a Ayrton Senna e Juan Manuel Fangio), e alguns modelos ficaram definitivamente associados a grandes pilotos — como o Autavia a Jo Siffert, o Silverstone a Clay Regazzoni e o S/El a Ayrton Senna. Sem esquecer os Carrera em ouro que Jack Heuer gostava de presentear aos seus pilotos.
Muitos campeões do mundo e pilotos consagrados da era dourada da Formula 1 usaram relógios da marca no pulso, incluindo Jochen Rindt (e a sua mulher!), Ronnie Peterson (Cristiano Ronaldo usou uma reedição quando foi receber o seu quinto Ballon d’Or, em 2017), Emerson Fittipaldi, Jacky Ickx, Niki Lauda (destacando-se os relógios usados no filme Rush sobre a sua rivalidade com James Hunt), Gilles Villeneuve, Alain Prost, Jacques Villeneuve, Michael Schumacher, Mika Häkkinen, Fernando Alonso, David Coulthard, Juan Pablo Montoya, Kimi Räikkönen, Hamilton Lewis e vários outros — sem esquecer o atual campeoníssimo, Max Verstappen. Impressionante.
Aqui fica um vídeo da marca que revisita grande parte deste passado: