Uma road trip que levou uma equipa internacional de jornalistas a entregar prémios de relógio do ano em sete diferentes sedes relojoeiras — da Furlan Marri à IWC, passando pela Jaeger-LeCoultre — com um inusitado encontro com um executivo português pelo meio e a consagração de um Portugieser no fim. Aqui fica um caderno de viagem que pode ser seguido por qualquer aficionado.
Os finais de ano são sempre época de balanço em qualquer área. O setor relojoeiro não é diferente, com o Grand Prix d’Horlogerie a servir de principal referência internacional e a granjear desde sempre o epíteto de ‘Óscares da Relojoaria’ pela sua pompa e circunstância — como ficou mais uma vez provado na cerimónia da edição de 2024, que tivemos a oportunidade de presenciar in loco mais uma vez. Mas há várias outras eleições de relógio do ano por esse mundo fora, umas mais relevantes do que outras e com parâmetros de votação diversos. Uma delas é o evento Watch Of The Year promovido pelo portal ch24.pl e que passa por ser a mais importante do género no leste europeu.
![A 'tripulação' da Swiss Road Trip: a Espiral do Tempo com Jan Lidmansky, Kristian Haagen, Tomasz Kieltyka e Lukasz Doscocz. E um Porsche Taycan | Foto: Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_15.jpg)
Este ano, a iniciativa cumpriu o seu 15º aniversário e, em vez da habitual cerimónia em Varsóvia, foi decidido fazer-se uma road trip através da Suíça para entregar as devidas estatuetas aos relógios lançados nos 12 meses anteriores que venceram as diversas categorias. E só na Suíça porque, em 2024, não houve marcas vencedoras oriundas da Alemanha (como a A. Lange & Söhne, que ganhou vários prémios anteriores) ou do Japão (como a Seiko, outro habitué). Mas a Confederação Helvética é um país muito singular, com três áreas de diferentes línguas predominantes — o francês mais a oeste na fronteira com a França, o alemão a norte na zona limítrofe com a Alemanha, e o italiano na vizinhança com a Itália a sul.
![relógio do ano, troféu, vencedor](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2022/12/Zegarek_Roku_CH24.jpg)
No total, havia oito prémios a distribuir — sabendo-se que, à partida, o relógio vencedor numa das categorias iria também receber o Grand Prix: ou seja, o Best of the Best. Houve sete marcas diferentes a arrebatar os troféus em liça e o plano de viagem ficou logo estabelecido, num trajeto natural do sul para o norte da Suíça. Depois, a execução: era preciso disponibilidade em simultâneo dos membros do júri internacional e dos CEOs das respetivas companhias para receberem a estatueta na devida data. A Porsche, marca parceira da iniciativa, disponibilizou o transporte. Inicialmente estavam previstas duas viaturas para seis pessoas; a jornalista germano-americana Elizabeth Doerr teve de ser submetida a uma cirurgia ao joelho e não pode fazer parte da comitiva, composta pelos organizadores polacos Tomasz Kieltyka e Lukasz Doskocz, pelo dinamarquês Kristian Haagen, pelo checo Jan Lidmansky e pelo representante luso da Espiral do Tempo (o autor destas linhas).
![A cerimónia dos últimos anos decorreu no Branickich Palace de Varsóvia | Foto: Marcin Klaban](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2023/11/CH24_Watch_of_the_Year_2023_2.jpeg)
A lista de vencedores incluiu o Furlan Marri Disco Volante na categoria ‘Relógio Masculino Até 3.500 Euros’, o Jaeger-LeCoultre Duomètre Quantième Lunaire na categoria ‘Relógio Masculino’, o H. Moser & Cie Streamliner Small Seconds Blue Enamel na categoria ‘Relógio Desportivo’, o Longines Conquest 34mm na categoria ‘Relógio Feminino Até 3.500 Euros’, o Chanel J12 Automaton Caliber 6 na categoria ‘Relógio Feminino’, o IWC Portugieser Eternal Calendar na categoria ‘Alta Complicação’, o Porsche Design Chronograph 1 Hodinkee Edition na categoria ‘Prémio do Público’ e o mestre Daniel Roth como recipiente do ‘Prémio Especial do Júri’.
![O IWC Portugieser Eternal Chronograph acumulou galardões em 2024 | Foto: IWC](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/04/IWC_Portugieser_Eternal_Calendar1.jpg)
Na distribuição geográfica das marcas, cedo foi possível descortinar que o ideal seria marcar encontro em Genebra (vindos de avião ou de carro) e seguir pela Suíça fora até à zona de Zurique (para o regresso a casa). O trajeto? Genebra, Meyrin, Le Sentier na Vallée de Joux, La Chaux-de-Fonds, Solothurn, Saint-Imier, Neuhausen e Schaffhausen. Conseguimos caber todos num Porsche Taycan Turbo S Turismo elétrico e iniciámos a sossa viagem relojoeira de três dias — três intensos dias.
Genebra: Furlan Marri
Começámos no coração de Genebra, nas instalações que servem de quartel-general à Furlan Marri — uma das micromarcas de maior crescimento e aceitação junto dos aficionados, nascida via Kickstarter (curiosamente no mesmo dia da também muito bem-sucedida Studio Underd0g) em 2021. Para nos receber estava Andrea Furlan, designer e sobretudo co-fundador (juntamente com Hamad Al-Marri) da companhia.
![O visual retrofuturista dos Furlan Marri Disco Volante em três variantes| Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_14.jpg)
O Disco Volante emergiu vencedor de um lote de finalistas na categoria do ‘Relógio Masculino Até 3.500 Euros’ que incluiu o Amida Digitrend, o Certina DS Super PH1000M STC, o Doxa Sub300B Seddiqi Edition, o Kollokium Projekt 01, o Oris Divers Sixty-Five Date 40mm Green, o Otsuka Lotec N.º6 (que ganhou o prémio Challenge no Grand Prix d’Horlogerie de Genève), o Raymond Weil Millesime Automatic Small Seconds Denim Blue, o Seiko Presage Craftmanship Series Arita Porcelain Dial e o TAG Heuer Formula 1 Kith.
![Andrea Furlan, co-fundador da Furlan Marri, e o respetivo troféu na categoria de relógios até 3.500 euros | Foto: Lukasz Doskocz/ch24.pl](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_21.jpg)
O atelier da Furlan Marri é acolhedor e a marca já não é propriamente uma micromarca: emprega sete pessoas e vende quase sete mil exemplares. Começou por cronógrafos híbridos motorizados por movimentos mecaquartzo e de inspiração clássica (cronógrafos Patek Philippe dos anos 50) abaixo dos 400 euros; a partir daí foi construindo exemplarmente a sua coleção e chegou mesmo a ser galardoada no Grand Prix d’Horlogerie de Genève. Dotado de um melhor conteúdo relojoeiro graças ao calibre de corda manual Peseux 7001, o Disco Volante é uma homenagem aos tempos em que os discos voadores (ou OVNIs) capturavam o imaginário popular e a conquista do espaço influenciava o design na década de 70.
Meyrin: Daniel Roth
Depois saímos para a La Fabrique du Temps, a manufatura de alta-relojoaria fundada por Michel Navas (autor do primeiro turbilhão num relógio de pulso quando trabalhou na Audemarts Piguet nos anos 80) e Enrico Barbasini (tem quatro casas em Portugal!) que foi adquirida pelo grupo LVMH para produzir os relógios Louis Vuitton, Gerald Genta e Daniel Roth.
![O hall de entrada da La Fabrique du Temps | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_22.jpg)
O mestre Daniel Roth já tem idade avançada e o seu estado de saúde é delicado, para além do seu caráter muito reservado. Pelo que simbolicamente se decidiu entregar o Prémio Especial do Júri — atribuído na sequência de uma seleção e debate entre os jurados, no caso pela importância da sua obra — no local onde se fazem os relógios Daniel Roth da era moderna.
![Com Jean Arnault, o responsável pelas marcas associadas à La Fabrique du Temps | Foto: Lukasz Doskocz/ch24.pl](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_19.jpg)
A La Fabrique du Temps é uma manufatura com instalações de respeito numa das áreas mais relojoeiras dos arrabaldes de Genebra, Meyrin — a dez quilómetros de distância, quase colada à fronteira com a França. E quem acabou por receber a estatueta até foi um francês: Jean Arnault, o mais jovem dos cinco filhos de Bernard Arnault (dono do grupo LVMH) e responsável pelas marcas associadas à La Fabrique du Temps. Jean Arnault receberia também o troféu na categoria Turbilhão do Grand Prix d’Horlogerie de Genève pelo Daniel Roth Tourbillon Souscription — uma reprodução quase exata do primeiro relógio do mestre Daniel Roth.
![No pulso: o Daniel Roth Tourbillon Souscription, vencedor da categoria Turbilhão | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/11/Grand_Prix-_d_Horlogerie_de-_Geneve_2024_31.jpg)
De seguida zarpámos para norte em direção à Vallée de Joux, a cerca de 65km de distância.
Le Sentier: Jaeger-LeCoultre
A Vallée de Joux é um dos berços históricos da alta-relojoaria, um vale de 25km situado a mil metros de altitude com um belo lago — o Lac de Joux — a meio. É lá que ficam as sedes de algumas das mais relevantes manufaturas relojoeiras e extensões de outras. No primeiro caso encontram-se a Jaeger-LeCoultre (Le Sentier), a Audemars Piguet (Le Brassus), a Breguet (L’ Orient) e a Blancpain (Le Brassus). No segundo, a manufatura de complicações da Patek Philippe (Le Brassus), a manufatura de movimentos da Vacheron Constantin (Le Brassus) e a manufatura de calibres especiais da Bulgari (Le Sentier). Para além da Dubois-Dépraz e de uma divisão da ETA. É também lá que residem e trabalham mestres como Philippe Dufour, Romain Gauthier, David Candaux ou o próprio Daniel Roth.
![Vista da Vallée de Joux antes da descida para Le Sentier | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_entrada.jpg)
Mas a Grande Maison da Vallée de Joux é mesmo a Jaeger-LeCoultre, situada em Le Sentier. E quando há visitas é normal que a marca mande colocar em haste a bandeira dos países dos visitantes. Desta vez não vi nenhuma bandeira portuguesa, mas fomos extremamente bem recebidos por Lionel Favre (Product Design Director) e Matthieu Sauret (Heritage e Product Marketing Director) numa altura em que o novo CEO ainda não estava definido (e que acabou por ser um ‘velho’ CEO: Jérôme Lambert). Reunimo-nos na famosa Maison d’Antoine, uma sala exclusiva no topo do mais antigo edifício da manufatura fundada em 1833 por Charles Antoine LeCoultre.
![O Duomètre Quantième Lunaire que venceu a categoria do Relógio Masculino | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_3.jpg)
A grande protagonista das novidades desveladas pela Jaeger-LeCoultre na Watches & Wonders deste ano foi a linha Duomètre, com uma forte renovação que não fez perder a estética original. O preferido da maioria da crítica foi o Duomètre Chronograph Moon com o seu mostrador salmão/cobre, mas no concurso em causa acabou por ser o ‘menos complicado’ Duomètre Quantième Lunaire a prevalecer na categoria do ‘Relógio Masculino’, que também incluiu no top-10 de finalistas o Audemars Piguet ReMaster02 Selfwinding, o Cartier Privé Tortue Monopoussoir Chronograph, o Chopard L.U.C XPS Forest Green, o Laurent Ferrier Classic Moon Blue, o Longines Conquest Heritage Central Power Reserve, o Parmigiani Fleurier Toric Petite Seconde, o Piaget Polo 79, o Rolex Perpetual 1908 Platinum e o Vacheron Constantin Patrimony Manual-Winding 39mm.
![Lionel Favre (Product Design Director) e Matthieu Sauret (Heritage e Product Marketing Director) na varanda da Maison d'Antoine / Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_20.jpg)
O Duomètre Quantième Lunaire é um exemplo de alta-relojoaria em aço, uma caraterística tradicional da Jaeger-LeCoultre. E, para além do champanhe inerente à comemoração, tivemos a oportunidade de ver em antecipação algumas novidades que a marca iria lançar em breve — como foi o caso do Reverso Tribute Chronograph em ouro rosa, a nova variante do excelente cronógrafo que foi eleito best of the best em 2023 e que deu mais sainete ainda ao nonagenário modelo reversível. Passado o fim de tarde muito bem passado na Grande Maison, fomos jantar e pernoitar ali perto ao Hôtel de Ville, em L’Abbaye. O dia seguinte iria ser duro, com três marcas e muitos quilómetros a percorrer.
La Chaux-de-Fonds: Châtelain (Chanel)
Saímos cedo da Vallée de Joux para outro histórico polo relojoeiro a 100 quilómetros de distância, La Chaux-de-Fonds — uma cidade património mundial da Unesco pelo seu ‘urbanismo relojoeiro’, já que cresceu arquitetonicamente para satisfazer as necessidades peculiares das marcas e dos relojoeiros com as janelas dos ateliers orientadas para receberem o máximo de luz natural durante o dia. No seu perímetro estão sediadas companhias como a TAG Heuer, a Girard-Perregaux, a Graham, a Arnol & Son, a Corum, a Greubel Forsey e várias outras. Algumas, como a Omega, foram lá fundadas antes de passarem para outras paragens. É também lá que fica a famosa Villa Turque de Le Corbusier, propriedade da Ebel. E extensões de marcas como a Patek Philippe ou a Breitling. E firmas de calibres e/ou componentes, como a La Joux-Perret, a Sellita, a Universo (ponteiros) e a G&F Châtelain, uma unidade industrial pertença da Chanel que também produz para a Bell & Ross e outras marcas com participação da griffe parisiense.
![Um dos ateliers da G&F Châtelain em La Chaux-de-Fonds | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_13.jpg)
Fomos recebidos por um dos responsáveis da Châtelain, curiosamente um filho de espanhóis: José Alberca (Sales & Development Manager), secundado por Romuald Boillon (Quality & Inovation Development Director) e Gérôme Marguet (Project Manager). A firma foi fundada em 1936, reiniciada em 1947 e comprada pela Chanel em 1993, após a casa parisiense ter lançado o seu primeiro relógio (o Première) em 1987; a partir de 2006, a produção de caixas, braceletes e componentes em cerâmica passou a ser talvez a maior e mais reconhecida especialidade da Châtelain — sobretudo através do famoso J12. Mas a sua imponente infrastrutura, onde trabalham quase 500 funcionários, também alberga desde a manufatura de calibres até ao acabamento manual, sem esquecer o importante setor joalheiro.
![O surpreendente Chanel J12 Atelier Couture Automate Caliber 6 venceu a categoria do Relógio Feminino | Foto. Miguel Seabra/espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_11.jpg)
A visita prendeu-se com o inesperado e interessante triunfo do Chanel J12 Atelier Couture Automate Caliber 6 na categoria do Relógio Feminino, à frente dos restantes finalistas: Audemars Piguet Royal Oak Concept Flying Tourbillon x Tamara Ralph, Chopard Alpine Eagle 33, Gerald Genta Gentissima Oursin, Hermès Cut, Jaeger-LeCoultre Calibre 101 High Jewelry, MB&F Legacy Machine FlyingT Onyx Edition, Omega Speedmaster 38mm, Parmigiani Fleurier PF Automatic 36mm e Ralph Lauren Stirrup.
![Os membros do júri com os responsáveis da G&F Châtelain | Foto: Lukasz Doskocz/ch24.pl](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_18.jpg)
O J12 Atelier Couture Automate Caliber 6 é uma demonstração do virtuosismo das múltiplas facetas da Châtelain, juntando-lhes uma pitada de humor centrada na figura animada de Gabrielle ‘Coco’ Chanel no seu atelier — num brilhante design de Arnaud Chastaingt (diretor do Estúdio de Criação Relojoeira da Chanel) pejado de símbolos da griffe. O relógio é motorizado pelo obscurecido Calibre 6, com 355 componentes que contribuem para a animação dos ponteiros e da própria Coco Chanel. Depois há o acabamento de vários tipos da cerâmica e todos os diamantes incluídos. Limitado a 100 exemplares.
Solothurn: Porsche Design
De La Chaux-de-Fonds a Solothurn (ou Soleure, em francês) são 65 quilómetros. É uma cidade conhecida por ser a mais barroca da Confederação Helvética devido à sua arquitetura, mas fomos parar a uma zona mais industrial e de escritórios onde fica atualmente a sede do departamento relojoeiro da Porsche Design — anteriormente localizado na vizinha Grenchen, quando a família Porsche era dona da Eterna. Fomos recebidos por Rolf Bergmann (CEO) e Olaf Leistert (CFO).
![Na Porsche Design com o Chronograph 1 Hodinkee Edition | Fotos: Miguel Seabra/espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_6.jpg)
A razão da visita prendeu-se com uma votação livre dos internautas visitantes da plataforma, que elegeram, via votação on-line entre os finalistas das diversas categorias, o Porsche Design Chronograph 1 Hodinkee Edition para receber o ‘Public Prize’. Trata-se de uma feliz reinterpretação do primeiro cronógrafo desenhado por Ferdinand-Adolph Porsche, em 1972 — mas com um toque especial que inclui uma luminescência patinada que lhe dá uma aura vintage suplementar.
![Rolf Bergmann (CEO) e Olaf Leistert (CFO) com a estatueta do Public Prize atribuída à Porsche Design | Foto: Lukasz Doskocz/ch24.pl](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_17.jpg)
O original foi pioneiro no sentido em que foi o primeiro cronógrafo totalmente preto e seguidamente tornado ícone. A reinterpretação é feita em titânio escurecido com um revestimento em titanium-carbide e no mostrador é utilizado o antigo logotipo e fonte da Porsche Design, para além do réhaut ‘1 Mile’ que é adequado ao mercado americano ao qual está associado a Hodinkee. Para mais, o H de Hodinkee aparece a vermelho no submostrador às 6h e o dia da semana surge em inglês e japonês, à escolha do freguês com um ajuste da coroa. Limitado a 350 exemplares.
Saint-Imier: Longines
De Solothurn, voltámos um pouco atrás na direção de La Chaux-de-Fonds e percorremos mais 50 quilómetros até à pitoresca Saint-Imier. É lá, rodeada por montanhas, que fica a sede da Longines. Esperavam-nos Matthias Breschan, CEO, e Bernardo Tribolet, o português que assume o cargo de vice-presidente para o Marketing — para receberem a estatueta correspondente à vitória na categoria do ‘Relógio Feminino Até 3.500 Euros’.
![A Longines tem acumulado troféus nas 15 edições do certame | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_10.jpg)
Fundada em 1832 e com uma longa história de sucessos e patrocínios, a Longines tem o logo patenteado mais antigo do mundo ainda em uso na sua forma original registada na Organização Mundial de Propriedade Intelectual: uma ampulheta alada. É também uma das maiores produtoras de relógios suíços e a mais rentável marca do Swatch Group após a Omega. Tem-se especializado no segmento chamado de ‘luxo acessível’ e a sua faturação anual ultrapassa mesmo o bilião de euros.
![À conversa com os júri: Matthias Breschan, CEO, e Bernardo Tribolet, o português vice-presidente para o Marketing da Longines | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_23.jpg)
O impacto da Longines na sua fasquia de preço traduz-se pelos cinco troféus alcançados nas 15 edições do concurso Watch Of The Year. A quinta estatueta premiou o Longines Conquest 34mm numa categoria de ‘Relógio Feminino’ que teve como finalistas o Frederique Constant Classics Elegance Luna, o Kurono Tokyo Calligra 34mm Dark Mop, o Maurice Lacroix Quartz Colors Edition Pink, o Meistersinger neo NES90IG, o Nomos Glashütte Club Campus Nonstop Red, o Oris Aquis Upcycle 36mm, o Rado True Square Open Heart, o Raymond Weil Millesime 36mm e o Seiko Presage Cocktail Time Star Bar Pinky Twilight. Saímos ao fim da tarde para a mais longa etapa da nossa road trip relojoeira: quase três horas até Schaffhausen, a cerca de 200km, onde iriamos pernoitar.
Neuhausen: H. Moser & Cie
Ficamos num pequeno hotel de charme no centro de Schaffhausen e a meio da manhã seguimos para a vizinha Neuhausen am Rheinfall, a cerca de 5km de distância e perto das maiores cataratas de água do continente europeu — no rio Reno (daí a designação Rheinfall). É lá que fica a sede da H. Moser & Cie, num edifício que inclui também as instalações da Hautlence e ainda da firma Precision Engineering, especializada no fabrico de componentes vitais para calibres de alta-relojoaria (produz 250.000 espirais para marcas de topo) e pertencente ao mesmo grupo. O museu destinado ao fundador Heinrich Moser não fica muito longe.
![À porta do edifício onde fica sediada a H. Moser & Cie, em Neuhausen | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_9.jpg)
A H. Moser & Cie é liderada por Edouard Meylan, mas o dinâmico e carismático CEO não pôde estar presente porque naqueles dias a marca organizou um simpósio de final de ano em Londres para o seu staff diretivo — incluindo o irmão Bertrand Meylan e o diretor comercial Nicholas Hofmann. Ou seja, ficaram apenas a trabalhar os operacionais. Como Rolf Gnädinger, CFO da manufatura, que recebeu a estatueta para o melhor ‘Relógio Desportivo’ pelo Streamliner Small Seconds Blue Enamel.
![No pulso: o H. Moser & Cie Streamliner Small Seconds Blue Enamel | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_8.jpg)
Lançado no início da década, o Streamliner rapidamente se tornou na vedeta da coleção e também via de exploração para modelos experimentais associados ao patrocínio da escuderia Alpine Renault de Formula 1.
![Rolf Gnädinger, CFO da H. Moser & Cie, com o troféu ganho pelo Streamliner Small Seconds Blue Enamel | Foto: Lukasz Doskocz/ch23.pl](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_24.jpg)
Dias antes de ser também galardoado no Grand Prix d’Horlogerie d Genève, o Streamliner Small Seconds Blue Enamel venceu uma competitiva categoria que teve também no top-10 de finalistas o Angelus Instrument de Vitesse Monopusher Chronograph, o Speedmaster Moonwatch Professional White Dial, o Parmigiani Fleurier Tonda PF Micro-Rotor, o Porsche Design Chronograph 1 Hindinkee Edition (que ganharia o Public Prize), o Ressence Type 5L, o Romain Gauthier C Titanium Edition Six, o Singer Reimagined Divetrack, o Tudor Black Bay 58 GMT e o Zenith Defy Revival A3648.
Schaffhausen: IWC
E chegou a vez da última visita, regressando a Schaffhausen para a reunião na velha manufatura (a nova manufatura está a um quilómetro de distância) com Christopher Grainger-Herr, CEO, e Christian Knoop, o Diretor Criativo. Objetivo: a entrega de duas estatuetas — a do relógio vencedor na categoria de ‘Alta Complicação’ e a do ‘Grand Prix’, já que foi também considerado pelo júri best of the best entre os eleitos das várias categorias. Uma vitória com um certo perfume lusitano, uma vez que se tratou do ‘recordista’ Portugieser Eternal Calendar.
![Vencedor da categoria Alta Complicação e do Grand Prix: o Portugieser Eternal Calendar da IWC | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_2.jpg)
Pois é. A IWC Schaffhausen foi fundada por um americano, é a mais germânica das marcas suíças, tem um CEO alemão, duas linhas inspiradas por Itália (Portofino, Da Vinci) e a gama best-seller assenta num relógio encomendado na década de 30 por dois comerciantes portugueses. Ou seja, múltiplas referências internacionais dignas do júri internacional do concurso promovido pelo portal ch24.pl… júri esse que foi ‘confirmado’ cinco dias no Grand Prix d’Horlogerie de Genève, porque também lá o Portugieser Eternal Calendar arrebatou o máximo galardão.
![Na IWC com as estatuetas: Christopher Grainger-Herr, CEO, e Christian Knoop, o Diretor Criativo | Miguel Seabra/Espiral do Tempo troféus](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_25.jpg)
Na superlativa categoria da ‘Alta-Complicação’, o Portugieser Eternal Calendar ficou à frente de prodígios como o A. Lange & Söhne Datograph Perpetual Tourbillon Honeygold ‘Lumen’, o Bovet Récital 28 Prowess 1, o Bulgari Octo Finissimo Ultra COSC, o De Bethune DB Kind of Grande Complication, o Ferdinand Berthoud Chronomètre FB RES, o Grand Seiko Kodo Constant-Force Tourbillon, o Jaeger-LeCoultre Duomètre Heliotourbillon Perpetual, o Louis Vuitton x Akrivia LVRR-01 Chronographe à Sonnerie e o Piaget Altiplano Ultimate Concept Tourbillon 150th Anniversary. Tudo pesos-pesados…
![Decomposição do IWC Portugieser Eternal Calendar | Foto: IWC Schaffhausen](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/06/IWC_EternalCalendar_Entrada.jpg)
Numa categoria tão forte na sua sofisticação relojoeira, é habitual na história do concurso que o vencedor que de lá saia acabe por se sagrar depois como o melhor dos melhores. Foi o caso do Portugieser Eternal Calendar e a sua indicação lunar de precisão quase eterna: um dia em 45 milhões de anos! Após a entrega dos troféus e das respetivas fotografias ainda foi possível visitar o Museu da IWC e conversar sobre a evolução da linha Portugieser com Nicholas Lannou, o Heritage Director da marca de Schaffhousen.
![As estatuetas acabaram por ser as protagonistas da road trip | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo](https://espiraldotempo.com/wp-content/uploads/2024/12/Road_Trip_5.jpg)
O troço final da saga? 50 quilómetros no intenso tráfego de sexta-feira à tarde rumo a Zurique, de onde todos regressaram a casa. Bom, todos menos o autor destas linhas… que depois do descanso no fim-de-semana encetou uma road trip (outra história!) de regresso a Genebra, onde na quarta-feira seguinte teria lugar a cerimónia do Grand Prix d’Horlogerie de Genève de 2024. Ufa!