A uma semana do Grand Prix d’Horlogerie de Genève, o Reverso Tribute Chronograph emergiu como o grande vencedor do mais relevante certame de Relógio do Ano realizado no leste europeu — e o tributo a Gerd-Rüdiger Lang proporcionou o momento mais emotivo da soirée.
Em Varsóvia
Com o aproximar do final de 2023 começam a surgir as tradicionais eleições de Relógio do Ano — e a 14.ª edição do mais representativo certame do género no leste europeu proporcionou um belo e eclético lote de vencedores, para além de um momento de homenagem particularmente tocante.
E o que torna bem sucedido um concurso de Relógio do Ano? Os ingredientes necessários não são poucos. Mas ajuda muito a composição de um júri credível, um sistema lógico de seleção, uma organização impecável, um cenário condizente com a pompa e circunstância, parceiros de prestígio e até mesmo um pertinente estabelecimento das várias categorias. O Grand Prix d’Horlogerie de Genève, cuja próxima edição se realiza no dia 9 de novembro, é considerado a mais relevante cimeira do género e é adequadamente comparado aos Óscares da Academia — houve 19 categorias levadas a voto e a base da escolha é completamente distinta dos demais, no sentido em que as marcas têm de inscrever os seus relógios para que entrem a concurso.
No evento do Relógio do Ano promovido pelo portal CH24, cada membro do júri apresenta livremente todos os relógios que quiser destacar em cada categoria e o crivo é feito a partir daí: primeiramente num universo de cerca de 50 modelos em cada categoria, seguidamente através de um lote de 10 finalistas e finalmente é votado o vencedor do Grande Prémio entre os vencedores das seis categorias; há uma sétima categoria que consiste numa votação online destinada ao público e finalmente há o prémio especial do júri, que sai de um colóquio entre os diversos jurados.
À semelhança do que sucedeu em 2022, e após uma série de edições realizadas no Palácio Sobanskich, o certame deste ano decorreu no ainda mais imponente Branickich Palace — e consagrou o Reverso Tribute Chronograph, da Jaeger-LeCoultre, como o grande vencedor. Um modelo excepcional em múltiplos parâmetros que, por exemplo, não terá qualquer premiação no Grand Prix d’Horlogerie de Genève… porque a Jaeger-LeCoultre não o quis levar a concurso. Uma pena. O outro ponto alto da noite foi a emotiva homenagem prestada a Gerd-Rüdiger Lang.
Vítima de prolongada doença no passado mês de março, o mestre alemão foi o antigo braço-direito de Jack Heuer nos anos 60 e 70, tendo sido ele que entregou em mãos o Monaco a Steve McQueen no circuito de Le Mans (dando origem à famosa fotografia retirada do filme); tornou-se numa grande sumidade mundial na área dos cronógrafos com várias obras publicadas e fundou a Chronoswiss contracorrente, para preservar a relojoaria mecânica numa década de 80 então dominada pela invasão do quartzo.
Entre várias propostas de Prémio Especial do Júri que incluíam personalidades, iniciativas e instituições (desde a Dubai Watch Week até ao Only Watch), os onze jurados de sete países — Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, República Checa, Países Baixos, Polónia e Portugal — rapidamente se inclinaram para Gerd-Rüdiger Lang. O prémio foi entregue pela jornalista Elizabeth Doerr a Georg Bartkowiak, dois amigos de longa data do mestre bávaro. Recordaram-se as contribuições que fez para a relojoaria contemporânea, incluindo a adoção de caixas com fundo transparente em todos os modelos para glorificação dos movimentos mecânicos tradicionais. E Georg Bartkowiak (que recebeu o troféu em representação das filhas do lendário mestre) ficou com a voz trémula ao falar do seu ídolo e mentor, com quem fundou a Lang 1943, uma marca nova de estilo clássico com calibres vintage renovados saídos do vasto acervo relojoeiro de Gerd-Rüdiger Lang.
Relógio Masculino e Grand Prix: Reverso Tribute Chronograph
O grande protagonista foi mesmo o Reverso Tribute Chronograph, um cocktail de charme e tecnicidade preparado pela Jaeger-LeCoultre que seduziu tudo e todos aquando da sua apresentação na edição deste ano do Watches and Wonders. Não foi a primeira vez que a Jaeger-LeCoultre introduziu a complicação cronográfica na sua emblemática linha reversível — já o tinha feito na década de 90, na série de Reversos complicados destinados a celebrar o 60º aniversário do modelo que nasceu como relógio desportivo (para proteger o vidro nos jogos de pólo) e se tornou num paradigma de dress watch. Seguiram-se algumas variantes nas versões Gran’Sport e Squadra, mas o Tribute Chronograph elevou esse exercício de estilo a um novo patamar de elegância.
Em versões de aço ou ouro rosa, o novo Reverso Tribute Chronograph apresenta um mostrador típico da linha Tribute que se inspira diretamente no original de 1931 e, com o virar da caixa, mostra no verso um segundo mostrador esqueletizado para a função cronográfica com contagem retrógrada dos minutos. Um estilo complementar que salta diretamente para a galeria dos melhores Reversos jamais saídos dos ateliers da Grande Maison. E a versão em aço nem é tão cara como isso, tendo em conta o valor intrínseco da peça e a comparação com outros exemplares de manufaturas de prestígio: à volta dos 25 mil euros.
Na categoria de Relógio Masculino, o Reverso Tribute Chronograph emergiu de um lote de finalistas que incluiu o Bulgari Octo Roma Automatic, o Cartier Privé Tank Normale Platinum, o Chopard L.U.C 1860, o De Bethune DB28xs Starry Seas, o Grand Seiko SBGW295, o J.N. Shapiro Resurgence, o Parmigiani Fleurier Tonda PF Minute Rattrapante, o Rolex 1908 e o Vacheron Constantin Patrimony Retrograde Day-Date.
Relógio Desportivo: Odysseus Chronograph
A categoria do relógio desportivo também consagrou um cronógrafo — o Odysseus Chronograph, da A. Lange & Söhne, igualmente desvelado este ano na Watches and Wonders. Foi mesmo a única novidade que a manufatura germânica apresentou na feira, recebendo protagonismo total!
Depois do modelo Odysseus inaugural em aço, declinado posteriormente em ouro rosa e em titânio, o Odysseus Chronograph é o segundo modelo da linha e o primeiro cronógrafo automático da A. Lange & Söhne. A casa saxónica granjeou reputação ao desenvolver 13 calibres cronográficos desde 1999 e referências de culto como os excecionais Datograph, Double Split e Triple Split — mas o Odysseus Chronograph é de outra estirpe, com o seu visual mais contemporâneo de arquitetura integrada. E estreia o novo Calibre L156.1 Datomatic de carga automática, que tem a particularidade de juntar um ponteiro cronográfico dos minutos (habitualmente disposto num pequeno totalizador) ao ponteiro cronográfico dos segundos num mesmo eixo central; o submostrador dos segundos contínuos junta-se às janelas sobredimensionadas do dia e da data para formar a estética identificativa da linha Odysseus.
Para além do Odysseus Chronograph da A. Lange & Söhne, eis os restantes finalistas da categoria de Relógio Desportivo: Chopard Alpine Eagle Cadence 8HF, De Bethune DB Eight, Grand Seiko Tentagraph Hi-Beat Automatic Chronograph, IWC Ingenieur Automatic 40 Steel, Omega Ploprof 1200M Summer Blue, Rolex Daytona ‘Le Mans’, Romain Gauthier C Platinum Edition, TAG Heuer Carrera Glassbox e Tudor Pelagos 39mm.
Alta-Relojoaria: Chronomètre FB3 SPC.1
Karl-Friedrich Scheufele é um grande aficionado dos cronómetros de marinha de Ferdinand Berthoud (isso constata-se pelo espólio do seu museu L.U.Ceum em Fleurier) e decidiu recuperar o lendário relojoeiro do século XVIII ao lançar uma marca de alta-relojoaria sob o seu nome em 2015. O superlativo modelo inaugural conquistou a crítica e ganhou mesmo o prémio principal no Grand Prix d’Horlogerie de Genève em 2016. O novo Chronomètre FB3 SPC, introduzido este ano na Watches and Wonders, constitui a terceira família da coleção e promete acompanhar o pedigree dos seus antecessores — recebendo, para já, o galardão de Alta-Relojoaria no concurso de Varsóvia.
Curiosamente, até é a linha menos onerosa da Ferdinand Berthoud — embora ainda significativa para qualquer padrão de alta-relojoaria (140.000 francos suíços). O enfoque técnico situa-se sobretudo no seu órgão regulador, bem visível no lado esquerdo do mostrador: uma espiral cilíndrica e um balanço concêntrico tridimensional influem decisivamente na estética global da peça. Baseia-se num relógio de bolso concebido por Louis Berthoud, sobrinho e pupilo de Ferdinand Berthoud, no final do século XVIII, com indicação decimal do tempo e uma espiral cilíndrica. A espiral cilíndrica do Chronomètre FB3 SPC é confecionada in-house e requereu cerca de dois anos por parte da equipa de pesquisa e desenvolvimento de produto; é curvada à mão pelos mestres relojoeiros e a produção é exígua: apenas 25 unidades do Chronomètre FB3 SPC por ano, disponíveis em ouro branco ou ouro rosa, com mostrador dourado (o FB3 SPC.1) ou preto rodinado (FB-3SPC.2).
A decoração é alusiva aos históricos cronómetros de marinha e requer mais de 100 horas de trabalho manual de acabamento num movimento com 230 componentes e que teve inspirações múltiplas: o relógio astronómico Nº3 de Ferdinand Berthoud, o tal repetidor de quartos de Louis Berthoud e um relógio regulador de Ferdinand Berthoud de 1785 que até está no museu LUCeum localizado no andar superior da manufatura Chopard, em Fleurier. A caixa apresenta um diâmetro de 42,3mm por 9,43mm de espessura.
Eis os restantes nove relógios do lote de dez finalistas da categoria de Alta-Relojoaria: A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante Perpetual Calendar, Audemars Piguet Code 11.59 Ultra-Complication Universelle RD#4, Daniel Roth Tourbillon Souscription, Ferdinand Berthoud Chronomètre FB 3SPC.1, Jaeger-LeCoultre Reverso Hybris Artistica Calibre 179, Speedmaster Chrono Chime, Parmigiani Fleurier Tonda PF Xiali Calendar, Peterman Bédat Reference 2941, Simon Brette Chronomètre Artisans e Vacheron Constantin Traditionelle Tourbillon Retrograde Date Openface.
Relógio de Senhora: Privé Tank Normale
A Cartier é uma instituição relojoeira e a Louis Cartier se deve a ‘normalização’ do relógio de pulso — e no pulso masculino do seu amigo aviador Alberto Santos-Dummond. Mas a maison parisiense é, sobretudo, uma instituição do luxo feminino e as suas criações para senhora são lendárias. O novo Privé Tank Normale vem provar isso mesmo com o triunfo na categoria do Relógio de Senhora.
Criada em 1917, a linha Tank foi inspirada na traça dos tanques de guerra da Primeira Guerra Mundial e conheceu múltiplas variantes desde então. O Privé Tank Normale tem um formato mais quadrangular e está disponível com bracelete metálica ou correia de pele, apresentando todos os elementos de estilo que seriam de esperar: ponteiros azulados, escala tipo caminho de ferro, coroa com cabochon e assinatura secreta integrada num dos algarismos romanos do mostrador (o VII). O facto de ter a chancela Privé na nomenclatura indica que se trata de uma seleção de relógios numerados e de tiragem restrita. Alimentado pelo Calibre 070 de corda manual, está disponível em ouro amarelo ou platina — noblesse oblige.
O Privé Tank Normale da Cartier foi o modelo selecionado de um top ten feminino que incluiu o Audemars Piguet Royal Oak 34mm, o Breitling Super Chronomat Automatic 38, o Chopard Impériale, o Jaeger-LeCoultre Reverso Secret Necklace, o MB&F Legacy Machine FlyingT Ice, o Omega Aqua Terra Shades, o Richard Mille RM 07-04, o Rolex Day-Date 36 ‘Emoji Puzzle’ e o Zenith Skyline 36mm.
Relógios até 3000 euros: Spirit Zulu Time e Presage Cocktail
A categoria de relógios de preço ‘acessível’ (até 3.000 euros, quantia considerável para muitos mas relativamente baixa no luxuoso mundo da relojoaria) foi conquistada por duas marcas que dão cartas na correspondente faixa de preço: a Longines e a Seiko.
Numa gama conhecida pelos relógios de diâmetro acima dos 40mm, o novo Longines Spirit Zulu Time surge num tamanho mais consensual (39mm de diâmetro) que aumenta o conforto no pulso e, para além do estilo aviador tão caro aos aficionados masculino, junta ao conjunto um segundo fuso horário e uma luneta rotativa bidirecional de 24 horas. Foi o vencedor de uma categoria masculina que teve por restantes finalistas o Baltic Bicompax 003, o Doxa SUB 200 C-Graph II, o Furlan Marri White Sector, o Hanhart 417 ES 1954 Flyback Reverse Panda, o Nivada Grenchen Racing Chronograph, o Nomos Glashütte Club Sport Neomatik Polar, o Oris Divers Sixty-Five Cotton Candy, o Seiko King Seiko SJE089 e o Tissot Powermatic 80 Ice Blue.
Quanto ao Seiko Presage Cocktail Time Ref. SREOO7J1 de mostrador azul pálido, foi a grande surpresa da eleição deste ano: com um preço claramente abaixo dos 1.000 euros, emergiu vitorioso de um forte leque de finalistas na categoria de Relógio de Senhora até 3.000 euros — batendo o Certina DS-6 Lady, o Frederique Constant Classics Premiere, o Ebel Sport Classic Lady Luscious Red, o Kurono Tokyo 34mm Ochre/White, o Maurice Lacroix Aikon Automatic Summer Edition, o Nomos Glashütte Tetra Handwound Pink, o Rado Centrix Automatic Diamonds, o Ralph Lauren Polo Bear Ralph & Ricky e o Tudor Royal 28mm.
Prémio do Público: Carrera Glassbox Chronograph
No ano do 60.º aniversário do Carrera, a TAG Heuer lançou uma linha completamente revista que junta tradição à inovação numa nova geração que faz jus a tão nobre herança. E o Carrera Glassbox Chronograph de mostrador azul ganhou mesmo o Prémio do Público, decidido através de votação online.
A missão da TAG Heuer não era fácil. Precisava de satisfazer colecionadores saudosistas e interessar um público jovem à procura de um design mais moderno. E se o Carrera é um clássico da relojoaria cujo épico trajeto associado aos desportos motorizados e múltiplas décadas de vida lhe dão o estatuto de ícone, o novo Carrera Glassbox Chronograph tornou-se num clássico instantâneo dentro do catálogo da marca e já tem celebradas variantes: excelentes proporções e uma nova integração do mostrador com a luneta, que passou para dentro do vidro saliente (daí a designação Glassbox) mas com um original réhaut que lhe dá uma sofisticação suplementar e visibilidade ideal a partir de qualquer ângulo. No plano mecânico, o Calibre TH20-00 é também uma atualização do Calibre Heuer-02 e os acabamentos do movimento automático foram igualmente afinados para vincar a diferença relativamente à geração anterior do movimento.